No Grupo Fleury, por exemplo, a Aidoc, inteligência artificial usada em tomografias para priorizar casos com diagnósticos graves, funciona, principalmente, em exames de rotina, que são a maioria dos exames feitos nos laboratórios da rede, mas também em exames de urgência. A tecnologia já está presente em seis estados brasileiros (SP, RJ, RS, RN, BA e PE), com mais de 185 radiologistas usando na rotina.
Esta inteligência artificial permite abreviar em até 15 minutos a detecção de achados críticos em exames de tomografia computadorizada com contraste e angiotomografia, de forma automatizada e em larga escala. A ferramenta é empregada em diagnósticos de tromboembolismo pulmonar, sangramento intracraniano e aneurisma cerebral.
O maior valor acontece justamente quando o sistema alerta um caso grave em um exame de rotina que não tinha uma expectativa para aquele achado, fazendo com que o diagnóstico e a conduta sejam feitos rapidamente. O alerta do sistema aparece na tela do radiologista poucos minutos após o paciente ter saído do aparelho”, explica Andrea Bocabello, diretora executiva de Estratégia, Inovação e ESG do Grupo Fleury.
Em 2023, foram 30.100 exames analisados pela IA, sendo 1.030 pacientes com riscos graves priorizados. A tecnologia contribuiu para o diagnóstico de 543 hemorragias intracranianas, 354 casos de aneurisma cerebral, 78 de tromboembolismos pulmonar e 55 de tromboembolismos pulmonar incidental – este último, é visto na tomografia computadorizada de tórax com contraste não dedicada a pesquisar isso.
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Médicos aderem facilmente a novos recursos
No Grupo Fleury, a receptividade dos médicos e dos outros profissionais da saúde em relação a iniciativas de IA que já foram implantadas tem sido muito positiva e eles participam também na concepção e aprimoramento desses produtos.
Nosso time médico tem participado da avaliação das iniciativas e das validações necessárias, isso faz com que o engajamento seja muito alto. Nas aplicações que temos, como o Aidoc, por exemplo, 100% dos médicos aderiram”, explica Andrea.
Outras tecnologias em fase de validação têm tido uma ampla participação do time médico, que avalia as propostas e ajudam no desenho da validação. “Temos dois radiologistas trabalhando com foco nessas iniciativas e fazendo as pontes com os nossos diferentes especialistas”, destaca.
Segundo Bocabello, a IA pode ajudar na identificação de determinados padrões atrelados a doenças através de sistemas preditivos, como é o caso de Huna, que detecta o surgimento de um câncer de mama a partir de alterações no hemograma, e também auxiliar as equipes no monitoramento de acompanhamento de saúde do paciente, de acordo com os protocolos de exames/cuidados que precisam ser realizados de acordo com o contexto individual de cada um.
A análise da Huna leva em conta a relação não linear entre vários parâmetros e razões de analitos do hemograma ao mesmo tempo. Essa modelagem estatística com técnicas modernas de machine learning consegue identificar padrões ocultos nas inter-relações entre cada analito do exame de sangue. Não é considerado nenhum marcador específico”, explica.
Os desafios da sexta onda da saúde
Para a especialista do Grupo Fleury, a IA deve entrar em todas as oportunidades que possam melhorar a assertividade da assistência, bem como a segurança do paciente e, certamente, a experiência do paciente durante sua jornada.
No entanto, ela reconhece que o uso de dados de pacientes para treinar algoritmos de inteligência artificial na saúde apresenta desafios éticos e de privacidade significativos no uso de dados de pacientes para o treinamento de algoritmos.
Segundo Andrea, é preciso garantir a confidencialidade dos dados através da anonimização, assegurar que o consentimento dos pacientes seja informado e compreensível, evitar vieses que possam levar a discriminações, e garantir a responsabilidade e supervisão humana no uso de algoritmos, evitando que se tornem uma “caixa preta” na tomada de decisões clínicas.
O maior desafio para vivermos a sexta onda é que precisa acontecer um trabalho mais colaborativo entre profissionais de saúde, tecnologia e reguladores para que seja criado um ambiente de inovação e segurança, oferecendo mais uma vez um serviço personalizado para os pacientes de forma clara, transparente e sem expor qualquer informação sem o consentimento. Além disso, se não houver investimentos direcionados à qualidade e governança dos dados, observa-se muitos obstáculos pela frente”, ressalta a especialista.
Quando falamos da sexta onda na área da saúde alguns dos desafios são:
- Oferecer uma jornada mais personalizada para os pacientes.
- Ter uma visão de ponta a ponta da jornada do paciente, gerando um conceito muito conhecido em outras áreas como cliente ouro (visão 360).
- Integração de dados que vem de diversos sistemas.
- Aceitação e adoção entre profissionais da saúde e pacientes, pois ainda existem diversos processos burocráticos que não permitem que a área da saúde avance de forma desejada.
- Uso de IA no reconhecimento de imagem pode ser uma alternativa de atuação preventiva em diversos tipos de doenças.
Conciliação de contas
Outro desafio do setor é a gestão de contas entre provedores de saúde e seguradoras de saúde, como conciliação de contas. Existem diversas iniciativas para reduzir essa fricção e diminuir custos da saúde. Por exemplo:
- Automação de processos com o uso de IA para verificação de faturas que muitas das vezes são calculadas de forma indevida gerando pagamentos a mais do combinado entre ambas as partes.
- Análise preditivas de futuras cobranças que influenciam diretamente no caixa da empresa e, até mesmo, no fechamento do balanço, além de análise de mercado para entender o aumento de taxas que são cobradas pelas operadoras e o quanto isso pode influenciar no ano seguinte.
- Uso da IA para interoperabilidade dos dados, gerando padronização em diferentes sistemas, diminuindo os riscos contábeis e decisórios da companhia.
[…] A inteligência artificial na medicina; a equidade e a sustentabilidade no sistema de saúde; a telemedicina como meio de democratização do acesso à saúde; fraudes e desperdício nos planos de saúde, entre outros temas da atualidade, estão em pauta no Fisweek 2004. O festival de inovação, empreendedorismo e tendências da saúde reúne mais de 5 mil profissionais da área no Rio de Janeiro, de 6 a 8 de novembro, no Expo Mag, centro de convenções no Centro do Rio. […]