Segundo a Organização Mundial da Saúde (ONU), todos os anos, aproximadamente 2 milhões de pessoas morrem por doenças zoonóticas, aquelas transmitidas de animais para humanos como dengue, ebola, zika. Agora, surge a Covid-19, que, com base em algumas evidências científicas, surgiu por meio do morcego. Apesar de ser a tese mais aceita até o momento, mas ainda não confirmada, o único consenso entre os pesquisadores para explicar uma das causas do surgimento dos demais vírus é a degradação do meio ambiente.
O desmatamento de florestas, a perda da biodiversidade e as mudanças climáticas influenciam fortemente na destruição ambiental e, consequentemente, no surgimento de novos vírus. É o que explica o especialista Rogério Machado, professor de Meio Ambiente e Química da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Existe uma sintonia no meio ambiente natural onde microrganismos que sobrevivem em simbiose com outros organismos e hospedeiros, como animais, sendo que a sobrevivência desses microrganismos nesses seres, não causam desequilíbrio na natureza. Porém, quando esta cadeia é afetada, seja por interferência humana ou mesmo por mudanças no clima, podemos ter a inserção desses microrganismos em outros meios e eles vão tentar sobreviver se adaptando, mesmo que isto signifique viver no organismo humano”, analisa.
Quanto ao surgimento da Covid-19, Machado diz que as informações disponibilizadas até o momento não colocam a pandemia atual como fruto de desequilíbrio ambiental ou mesmo climático especificamente. Segundo ele, pode ter sido originado pela contaminação de um ser humano com contato com animal não comum no meio urbano. “Ou até mesmo – que longínqua possibilidade -, por uma fuga do vírus de algum laboratório de pesquisa, mas esta possibilidade é muito remota e já por vezes descartada em visitas de órgãos oficiais ao país onde se teve notícia da origem da pandemia”, ressalta.
Já Márcia Brandão Leão, professora de Direito Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas, acredita que o surgimento do coronavírus se deu por dois fatores: a degradação ambiental e a invasão humana das áreas preservadas provocando a retirada dos animais silvestres.
Ao colocar esses animais em mercados com más condições de higiene e o contato com estes, facilita a transmissão do vírus para nós humanos. Eu acredito sim que o desequilíbrio ambiental tenha relação com a pandemia do covid-19 e podemos aguardar mais pandemias, pois o degelo está liberando bactérias e vírus. Há alguns vírus antigos que já superamos e outros novos que não conhecemos”, afirma.
Os vírus provenientes do degelo ao qual Márcia se refere foram encontrados em 2020, por cientistas chineses e americanos nas geleiras do Tibete, na China. Segundo os pesquisadores, 28 grupos de vírus estavam congelados há 15 mil anos e, devido ao derretimento dos gelos glaciares, os agentes passaram a ser liberados, o que pode significar riscos para os seres humanos.
Como Machado explica, as mudanças climáticas não afetam só os humanos, mas todos os seres que tentarão sobreviver por meio de uma adaptação e isso pode ser fatal para a humanidade. O professor cita ainda que evitar futuras pandemias não é tão fácil, mas pode ser feita de algumas formas.
O controle da entrada de pessoas doentes em outro país, por exemplo, é uma forma, desde que rigorosa. Outro ponto, o controle de plantas e animais de outros países é uma forma de manter o equilíbrio natural de um país. Também seria interessante, que a OMS fosse informada o mais breve possível de qualquer problema infecto contagioso, pois o alerta seria mais rápido e eficiente nas fronteiras”.
O impacto das mudanças climáticas na saúde
A força crescente de um movimento global liderado por representantes tanto das agendas de combate e adaptação às mudanças climáticas quanto da área de saúde por maior visibilidade para o nexo entre os temas indica que incorremos em um lapso narrativo ao não reforçar que falar de clima é, acima de tudo, uma questão de saúde e qualidade de vida.
Meio ambiente e saúde são questões interdependentes e o enfrentamento dos desafios que levam às mudanças climáticas e à crise de biodiversidade são essenciais para a manutenção da qualidade da vida humana no planeta. Fatores como a exploração descontrolada de ambientes naturais selvagens, que leva à eclosão de doenças infecciosas, e a poluição do ar, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a maior ameaça ambiental à saúde do nosso tempo, demandam atenção imediata.
O ano de 2021 nos trouxe a vacina contra a Covid-19, demonstrando incrível capacidade de desenvolvimento científico e cooperação internacional – dois pilares, também, do combate às mudanças climáticas. Tais avanços indicam que há lições valiosas no intercâmbio de experiências sobre como a comunidade internacional – e os governos nacionais – podem reagir a desafios que ameacem nossas possibilidades de vida.
É neste contexto que o Diálogos Futuro Sustentável inicia nesta terça-feira (8/6), às 10h30, sua série de eventos em 2021. Primeira das cinco sessões que ocorrerão este ano, o evento “O impacto das mudanças climáticas na saúde – políticas públicas e contexto internacional” pretende atualizar os temas emergenciais da conexão entre clima e saúde, lançando luz sobre as decisões que precisamos tomar hoje para garantir uma vida saudável em um sentido amplo, tanto humano quanto ambiental.
A proposta parte de uma abordagem global – como a comunidade de prática internacional interpreta a ligação entre os dois temas prioritários e as ações concretas que estão sendo planejadas e implementadas para seus enfrentamentos. O foco está também na relevância do ano de 2021 para ambas as discussões, tendo em vista a realização da COP26, conferência sobre mudanças climáticas da ONU – em novembro, no Reino Unido – onde o tema da saúde humana terá atenção inédita, precisamente devido à pandemia.
O evento pousa, na sequência, em uma visão nacional, dando enfoque ao grande desafio brasileiro no que tange o nexo clima e saúde: a poluição do ar. Para isso, convida representantes de instituições reconhecidas em ambos os temas de mudanças climáticas e de saúde – o Carbon Disclosure Progress (CDP) e a Fiocruz.
Representantes dessas instituições farão apresentações que exploram aspectos de saúde em ambientes urbanos e o desafio para as cidades brasileiras e o uso de tecnologias multidisciplinares para avaliação de impactos e propostas de soluções efetivas em saúde pública nacional que levem em conta fatores ambientais e climáticos.
Na ocasião, o CDP lança o relatório “Mudança do Clima e Saúde Urbana – Impactos e Oportunidades para as cidades brasileiras”, fruto de uma pesquisa envolvendo 92 cidades acerca dos principais riscos à saúde de seus moradores advindos de fatores ambientais, como enchentes, secas e doenças infecciosas transmitidas. O relatório aponta ainda oportunidades de ações com impactos positivos tanto do ponto de vista ambiental como de saúde pública. O evento tem acesso gratuito – inscrições por este link.
Com Assessorias