Como mãe de uma pré-adolescente de 11 anos, confesso que me senti muito assustada com a disseminação do jogo mortal Baleia Azul no Brasil e o lançamento por aqui da série americana baseada no livro Thirteen Reasons Why (Os treze porquês). Juntos, esses dois fatos acenderam recentemente um alerta para um tema sensível, mas que merece atenção: os casos de suicídio na adolescência são cada vez mais recorrentes nos noticiários e os números vêm crescendo ao longo dos anos.
De acordo com a psicóloga do Hospital e Maternidade São Cristóvão, Yara Satie dos Santos, essa faixa etária é marcada por oscilações de humor, rebeldia e, até mesmo, mudanças de atitude. “Porém, alterações significativas que comecem a acarretar prejuízos na rotina devem ser valorizadas e analisadas por especialistas”, alerta.
Os fatores mais presentes em suicídios na infância ou adolescência são ocorrência de doença mental, depressão, dependências químicas e questões sociais e culturais. Conforme a especialista, normalmente o ato de tirar a própria vida vem precedido de três etapas: ideação suicida (quando existem pensamentos e planos para que o objetivo seja alcançado); a tentativa (uso de medicações, venenos, pular de locais inapropriados, envolvimento em brincadeiras de alto risco, entre outros); e o suicídio consumado.
“Normalmente, entre a ideação e o suicídio, há um período em que é possível buscar ajuda especializada”. Por isso, é necessário os pais observarem de perto o comportamento de seus filhos e, aos primeiros sinais de atitudes sugestivas de um quadro depressivo, procurarem auxílio. “Devem ficar atentos à irritabilidade, explosão de raiva, desinteresse, alteração de sono e apetite, dificuldade de concentração, falta de memória, entre outros”, aconselha Yara.
O início da depressão pode se manifestar de modo camuflado. “É comum familiares atribuírem as mudanças comportamentais apenas à fase de transformações em que o jovem está passando e não enxergar consequências futuras, como o suicídio”, comenta a psicóloga. Ela enfatiza que depressão na adolescência necessita do cuidado de um profissional especializado. “Se necessário, medicações de suporte podem ser indicadas e controladas por um psiquiatra e o suporte emocional fica a cargo do psicólogo”. Além do acompanhamento especializado, o apoio das pessoas próximas, principalmente dos pais, é indispensável ao tratamento do jovem deprimido, sem críticas, julgamentos, cobranças ou comparações. “A presença afetiva e acolhedora propicia benefícios duradouros”, finaliza.