Pelo menos 20% da população global sofrem algum tipo de problema intestinal ou digestivo e 90% das pessoas não procuram orientação médica, recorrem à automedicação ou não fazem nada para resolver o problema. Os dados são da Organização Mundial de Gastroenterologia, que instituiu o dia 29 de maio como o Dia Mundial da Saúde Digestiva.

“É possível dizer que praticamente todas as pessoas já tiveram, têm ou terão algum problema com a digestão. Mas é claro que isso pode acontecer em níveis e de formas muito diversas”, explica o gastroenterologista Eduardo Berger, do Hospital Edmundo Vasconcelos.

A data tem como objetivo mobilizar, conscientizar e orientar a população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças do aparelho digestivo. Também chama a atenção para a necessidade de mudança de cultura e estilo de vida, já que a grande maioria das doenças do aparelho digestivo está relacionada a maus hábitos alimentares, sedentarismo, estresse e tabagismo. Portanto, a prevenção é a melhor maneira de diminuir os índices de complicações na saúde digestiva.

Entendendo o sistema digestivo

O trato digestório se estende da cavidade bucal ao ânus, sendo também chamado de canal alimentar ou trato gastrintestinal. O trato digestório e os órgãos anexos constituem o sistema digestório, um dos maiores do corpo humano. Esse sistema é composto por um longo tubo que vai da boca ao ânus, passando pela faringe, esôfago, estômago, duodeno, jejuno, íleo e cólons, incluindo o reto, além de incluir glândulas acessórias, como as salivares, pâncreas, fígado e vesícula biliar.

Os órgãos digestórios acessórios são os dentes, a língua, as glândulas salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas, sendo os dentes, auxiliares no rompimento físico do alimento e a língua, na mastigação e na deglutição. Os demais órgãos têm como algumas das funções a produção e/ou armazenamento de secreções que passam pelo tubo digestivo e auxiliam na decomposição química do alimento.

Segundo Dr Berger, Todos esses elementos precisam trabalhar em absoluta harmonia, já que suas funções são interdependentes, e distúrbios no funcionamento de um ou mais deles acarretam incômodos na digestão. “Há também a possibilidade de um deles apresentar uma lesão orgânica, ainda que isso não represente a maioria dos casos”.

Fatores de risco

Excesso de peso, maus hábitos alimentares, consumo exagerado de bebidas alcóolicas, sedentarismo, tabagismo, estresse e histórico familiar são alguns fatores que podem estar ligados aos riscos de desenvolvimento de doenças do trato digestivo.

O médico explica que entre os principais fatores de risco está a hereditariedade, especialmente quando se trata de tumores dos cólons, doenças relacionadas ao ácido gástrico e cálculos da vesícula biliar.

Porém, os riscos aumentam significativamente por conta de outros fatores como o estresse, longos períodos de jejum e a ingestão de substâncias irritantes à mucosa do estômago, como os alimentos presentes em maus hábitos alimentares, além da própria obesidade.

Principais sintomas

Os sintomas mais comuns de doenças no aparelho digestivo são: náuseas, inchaço, azia, retorno do alimento e ou ácido gástrico, diarreia e/ou constipação, dor abdominal e sensação de empachamento. Mas, outros sintomas como tosse seca, dor no peito, sinusite, asma, dor de cabeça, déficit de atenção e lesões na pele, que aparentemente podem indicar outro tipo de doença, também são sintomas de problemas digestivos.

Mas, outros sintomas como tosse seca, dor no peito, sinusite, asma, dor de cabeça, déficit de atenção e lesões na pele, que aparentemente podem indicar outro tipo de doença, também são sinais de problemas digestivos.

Em casos mais comuns, os sintomas se devem à inflamação do estômago, conhecida como gastrite. Entretanto, podem ser sinais de distúrbios mais graves como úlceras e até mesmo câncer.

“O diagnóstico precoce é a melhor forma para curar e evitar complicações de qualquer doença. Ao sentir qualquer sintoma, o recomendado é procurar um médico imediatamente e evitar a automedicação”, recomenda o especialista.

Os riscos da automedicação

O gastroenterologista ressalta que, por conta das más condições de atendimento na saúde pública de nosso país, muitas pessoas vêm-se obrigadas à automedicação. Entre os mais comuns e perigosos estão está o uso de laxativos e/ou purgativos quando ocorre diarreia, o que pode acabar agravando os problemas.

“É possível entender a utilização de medicações sintomáticas, de uso eventual, como alívio dos sintomas, mas nunca deve haver a automedicação para tratamento visando a cura. Também é muito importante a dose utilizada (especialmente no caso de laxantes), já que ela deve apenas provocar uma evacuação normal e nunca diarreias. Toda medicação de uso contínuo e toda orientação relacionada a doses corretas deve ser feita por um médico”, destaca ele.

Gastrite, apendicite, refluxo e esofagite

Entre as enfermidades mais comuns estão a gastrite, a apendicite e o refluxo gastroesofágico. Já a Esofagite Eosinofílica (EoE) é uma doença inflamatória crônica e progressiva que danifica o esôfago e o impede de funcionar adequadamente, causando sintomas complexos para seus portadores.

Embora não haja dados oficiais sobre a prevalência da esofagite eosinofílica no Brasil, um estudo global recente identificou que a doença acomete entre 50 a 100 pessoas a cada 100 mil no mundo, com curva crescente da prevalência. Dentre os sintomas da doença estão dor no estômago, sensação de entalo; engasgo; azia; vômito e falta de apetite.

“A esofagite eosinofílica é uma doença difícil de diagnosticar e que tem grande impacto na qualidade de vida, já que causa problemas na alimentação do paciente como vômitos, dores abdominais, dificuldades para engolir e, em casos mais graves, estreitamento do esôfago com quadros de impactação alimentar – quando o alimento fica preso no esôfago, sendo necessária muitas vezes a intervenção endoscópica”, afirma a imunologista Ariana Yang, coordenadora dos ambulatórios de Alergia Alimentar, Esofagite Eosinofílica e Dermatite Atópica do Serviço de Imunologia Clínica e Alergia do HC – FMUSP.

No início de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) expandiu a aprovação de um medicamento – já indicado usado para dermatite atópica, asma, rinossinusite crônica com pólipos nasais e prurigo nodular – para tratar também a esofagite eosinofílica em adultos e adolescentes com 12 anos ou mais, pesando pelo menos 40 kg. Com a aprovação, Dupixent® é o primeiro e único medicamento biológico indicado para tratar EoE no Brasil.

Não espere o quadro se agravar

O diagnóstico precoce é a melhor forma para curar e evitar complicações de qualquer doença. Ao sentir qualquer sintoma, o recomendado é procurar um médico imediatamente e evitar a automedicação. Irritações frequentes no estômago, dores de barriga, alterações significativas nas fezes, diarreia e, até mesmo, o mau hálito ou alterações na boca sem motivo aparente, merecem atenção.

Segundo a médica gastroenterologista Karen Thalyne Pereira e Silva Domingos, que atende no Órion Complex, em Goiânia, em geral as pessoas se preocupam com a saúde e procuram o médico, praticamente, em caso de urgências ou por questões de doença já estabelecidas.

“O brasileiro visita o médico quando julga realmente necessário – em outras palavras, a urgência predomina sobre a prevenção. Em média, seis em cada 10 brasileiros só vão ao médico quando estão gravemente doentes”, explica a médica.

De acordo com a médica, a maioria dos problemas graves podem ser evitados ou tratados antes de chegar a esse ponto, se as pessoas tiverem a consciência de ter hábitos saudáveis e um acompanhamento médico regular.

A gastroenterologista Karen Thalyne dá as seguintes orientações a fim de que as pessoas sigam e não deixem seu quadro se agravar.

– Não subestime um sintoma ou algum desconforto que sinta, principalmente se durar mais de 30 dias ou vira e volta aquele desconforto.

– Se estiver emagrecendo sem um motivo da dieta para isso, não espere, procure o médico.

– Evite a automedicação. Sem saber a real causa do problema você pode piorar a situação, mascarar a doença, demorar mais para descobrir a causa, o que piora muito o prognóstico principalmente em casos de câncer e reduz as chances de cura.

“O mais importante para ter saúde digestiva é ter uma dieta variada e sem excessos, rica em fibras, com água em quantidade adequada e que traga bem estar e saúde, respeitando as sensibilidades individuais de cada um”, ressalta a médica.

Dicas de prevenção

Manter hábitos saudáveis é importante para a prevenção de doenças, por isso, é indicado: beber, no mínimo, 2 litros de água por dia, aumentar o consumo de vegetais, frutas, grãos e sementes, evitar alimentos gordurosos e excesso de carboidratos, dando preferência aos carboidratos integrais.

Especialistas também recomendam mastigar bem os alimentos, não ingerir líquidos durante as refeições, tomar cuidado com excesso de café, refrigerantes e bebidas alcoólicas, praticar atividades físicas regularmente e incorporar probióticos na sua dieta.

“O consumo de alimentos industrializados, gordurosos, muito doces, bebidas alcoólicas e café em excesso e a baixa ingestão de frutas e verduras são elementos muito prejudiciais. É importante manter o hábito de ir ao banheiro para realizar todas as necessidades diariamente e em horários determinados”, ressalta.

Glutamato presente no gosto umami pode facilitar digestão

A doutora em Ciência dos Alimentos e consultora do Comitê UmamiHellen Maluly, sugere que incluir ingredientes que contém o gosto umami (o quinto gosto básico do paladar humano) na dieta pode auxiliar na digestão. O gosto umami é proporcionado por meio do aminoácido glutamato.

“Alguns estudos científicos revelaram que o glutamato pode auxiliar as glândulas salivares na liberação de saliva, se liga à receptores no estômago e é uma das fontes de energia para as células intestinais”, informa a especialista.

Hellen também ressalta que a salivação é essencial para facilitar a mastigação dos alimentos e melhora na palatabilidade, pois ajuda também a diluir aromas. Pessoas em tratamentos contra o câncer e idosos podem ter um sintoma chamado de xerostomia, que deixa a boca seca e o estímulo das glândulas salivares pelo glutamato pode ajudar a aceitação alimentar.

“No estômago, o aminoácido pode funcionar como um sensor de nutrientes e regular a digestão de proteínas. E no intestino, ele é utilizado pelos enterócitos (células intestinais) como fonte de energia para o seu desenvolvimento e manutenção”, completa.

O glutamato, ou ácido glutâmico, é encontrado em diferentes alimentos. Alguns exemplos desses alimentos são carnes, ovos, cogumelos, tomate, aspargos, milho, batata, ervilha, espinafre, alho, queijos maturados, entre outros.

Também temos a opção de adicionar glutamato monossódico (MSG), o sal do glutamato, nas preparações culinárias. Ele está presente no mercado na sua forma mais pura para dividir as características e os mesmos benefícios que o ingrediente presente naturalmente nos alimentos.

“Entende-se agora que o glutamato pode ser benéfico para a manutenção de uma dieta balanceada, com variedades de gostos e sabores, e para ajudar o nosso processo digestivo em suas várias fases”, esclarece a especialista.

Com Assessorias

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