Preta Gil confirmou o diagnóstico do câncer colorretal, também conhecido como câncer de cólon e de reto ou câncer de intestino. Na última terça-feira (10), a cantora anunciou em suas redes sociais a confirmação da doença, após seis dias internada na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, onde foi identificado um adenocarcinoma na porção final do intestino. Neste domingo (15), postou um vídeo agradecendo as mensagens de apoio recebidas e disse que inicia o tratamento nesta segunda (16).

“Amores, estou extremamente emocionada com essa linda corrente de amor que estou recebendo nas redes e fora delas!!! Tenho muito fé na minha cura!!! Estou em casa me fortalecendo para começar o tratamento na segunda-feira!!! Obrigada por todas as mensagens de amor e carinho que recebi!!! Amo vocês”. “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”, escreveu a cantora.

Casos como o de Preta Gil e da também da cantora Simony, que concluiu recentemente o tratamento, e dos craques Pelé e Roberto Dinamite, que morreram nas duas últimas semanas, vítimas de complicações da doença, chamam atenção para o câncer de intestino, que ainda é pouco conhecido no Brasil.

Mas por que cada vez mais têm sido comuns casos da doença na mídia, não só entre personalidades? Isso se dá pelo avanço da doença, que já é o terceiro tipo mais frequente de câncer entre homens e mulheres, ficando atrás apenas do câncer de próstata, nos homens, e de mama, nas mulheres.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê para os próximos três anos um aumento na taxa de incidência no número casos de câncer de cólon e reto, em 10,19% em homens e 12,64% a mais em mulheres. Para 2022 estavam previstos mais de 45 mil novos casos de câncer colorretal e quase 21 mil mortes pela doença.

Mas ainda há muito desconhecimento. “A grande verdade é que falta uma campanha nacional de prevenção ao câncer de intestino”, alerta Clóvis Klock, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).

O cirurgião geral e oncológico Arnaldo Urbano, coordenador do Centro de Doenças Peritoneais da Beneficência Portuguesa de São Paulo – BP, confirma: “As pessoas já estão acostumadas a realizar consultas e exames com foco na prevenção do câncer de próstata, câncer de mama e outras doenças graves, mas pouco se fala sobre o câncer colorretal”.

Preta Gil anunciou ter sido diagnosticada com câncer de intestino após 6 dias internada (Foto: Reprodução/Instagram)

Colonoscopia, um exame chato, mas necessário

A negligência não se justifica. Afinal, o câncer de intestino pode ser prevenível e tem grandes chances de cura desde que detectado precocomente, por meio de um exame chato, mas necessário: a colonoscopia. Entretanto, além de tabu, este exame segue sendo pouco acessível para a população, especialmente na rede pública.

Diagnosticado nos estágios iniciais, o câncer tem boas possibilidades de cura. Isso porque, na maioria das vezes, o câncer do intestino, que geralmente surge por volta dos 50 anos de idade, se desenvolve a partir de pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede do intestino. Significa dizer que com a retirada do pólipo, evita-se que se torne um câncer.

Segundo Clóvis Klock, o cuidado maior é quando são detectados pólipos adenomatosos (adenomas), pois estes podem se tornar um câncer. Por isso, a demora no diagnóstico correto permite que o câncer cresça, podendo comprimir e invadir outros órgãos sadios na região do corpo.

Outro cenário é quando as células cancerosas se desprendem e se espalham no sangue e/ou vasos linfáticos e nesse caso o câncer migra para outros órgãos, como fígado, pulmão e ossos. “Por isso, lembro da importância do acesso aos exames pela rede pública de saúde”, alerta o presidente da SBP.

Exame deve ser feito a partir dos 50 anos

No geral, recomenda-se que a colonoscopia, exame de imagem que auxilia a detectar o câncer de intestino, seja realizada a partir dos 50 anos, idade em que há maior propensão de incidência da doença. Porém, casos como da Preta Gil, de 48 anos, evidencia que essa indicação deve começar antes, dependendo do histórico do paciente.

“A indicação do rastreamento precoce, por meio da colonoscopia antes dos 50 anos, depende da história pregressa familiar. Por isso, é importante conversar com o médico gastroenterologista para a melhor indicação”, explica o Dr. Klock.

Por isso, os exames de rastreamento, recomendados para todas as pessoas a partir de 50 anos, incluem o de sangue oculto nas fezes e, em caso positivo, a colonoscopia, que, na mostra de algo suspeito, permite aos médicos fazer biópsia já durante a sua realização.

“Dependendo desses resultados, uma amostra é enviada para o médico patologista, que é quem faz a análise da biópsia e o diagnóstico – se é mesmo um câncer, de que tipo é o tumor. O diagnóstico é fundamental para a definição do tratamento”, diz Dr. Klock.

Uma doença que pode ser prevenida

O médico oncologista e professor do curso de Medicina da Unic, Marcelo Bumlai, explica que além de detectar a doença ainda em estágio inicial, muitas vezes é possível evitá-la.

“Hábitos não saudáveis contribuem para o aumento da incidência. O câncer surge a partir de mutações genéticas, no entanto, pesquisas demonstram que em mais de 70% dos casos de câncer de intestino, essas mutações são ocasionadas por rotinas que não fazem bem a saúde, como no hábito de fumar ou beber, além de dietas desequilibradas com elevados níveis de gordura animal e poucas fibras”, afirma.

Por isso, a primeira orientação é ficar atento ao consumo de água ao longo do dia, evitar alimentos embutidos e manter uma dieta rica em fibras e verduras. A prática de atividade física regular também contribui para a diminuição da incidência de câncer colorretal.

Há medidas farmacológicas, que incluem medicamentos que minimizam o risco de câncer colorretal. Mas isso deve ser feito com orientação médica, pois os mesmos medicamentos utilizados para prevenir o câncer colorretal e reduzir a formação de pólipos, podem ocasionar lesões gastrointestinais.

Sintomas e diagnóstico 

De acordo com a SBP, no início, o câncer de intestino se desenvolve sem sintomas. Por isso, é necessário ficar atento aos sintomas de constipação frequentes que devem ser investigados, já que o contato prolongado das fezes com as paredes do cólon e do reto aumenta as chances da incidência deste tipo de câncer.

Bumlai diz que a população deve ficar atenta aos sinais do corpo, com o intuito de realizar a investigação adequada, conforme orientação médica. Sintomas que parecem simples merecem atenção, como alterações intestinais (diarreia ou prisão de ventre), dores ou desconforto abdominal, perda de peso sem causa aparente, fraqueza ou anemia e alteração no formato das fezes.

Mesmo em estágio mais avançado, os sintomas podem ser bastante inespecíficos, dificultando o diagnóstico. Mudança do hábito intestinal, que passa a apresentar constipação ou diarreia; presença de sangue nas fezes, fezes mais escurecidas ou a sensação de querer evacuar, mas não conseguir; evacuações dolorosas; gases frequentes; desconforto gástrico; e cansaço constante.

Outro sintoma que deve servir de alerta é a presença de massa abdominal palpável, dores abdominais constantes, anemia sem diagnóstico ou perda de peso não intencional, principalmente em pacientes acima de 45 anos. Todos estes sintomas podem estar relacionados a diversas outras causas, mas seja qual for, devem ser investigados. Quando antes o diagnóstico for realizado, maiores as chances de cura. Na dúvida, procure um médico.

A colonoscopia

No câncer de intestino o diagnóstico é feito geralmente através do exame histopatológico realizado no material retirado através da biópsia do tumor via exame de colonoscopia, capaz de detectar a doença antes mesmo de seu início. O exame pode detectar um pólipo, que somente depois de alguns anos, se não removido, poderá se transformar em câncer. Pode, também, detectar a doença em estágio inicial, quando ainda não oferece nenhum sintoma.

Segundo Arnaldo Urbano Ruiz, um pólipo demora alguns anos para se transformar em câncer. Assim, a realização da colonoscopia regularmente pode detectar os pólipos ou a doença ainda em estágio inicial.

“Todas as pessoas sem fatores de risco, a partir dos 45 anos de idade, devem realizar a primeira colonoscopia. A partir deste, se não houver nenhuma anormalidade, o exame poderá ser repetido em até 5 anos, ou conforme a orientação do médico. Caso sejam encontrados pólipos, a repetição do exame normalmente é feita após um ano, para comprovar que não nasceram outros pólipos e que aquele pólipo ressecado não voltou”.

Porém, o médico ressalta que todas as pessoas, mesmo que não tenham qualquer queixa relacionada ao aparelho digestivo, devem realizar colonoscopia preventiva a partir dos 45 anos de idade. “Esse exame possibilita a identificação de pólipos que geram a maior parte dos casos de câncer colorretal; que devem ser retiradas para evitar o desenvolvimento de um câncer no futuro”, complementa.

No caso de histórico da doença na família, explica o especialista, a recomendação é que a primeira colonoscopia seja realizada 10 anos antes do primeiro caso, ou seja, se alguém teve câncer colorretal aos 50 anos, os demais familiares devem realizar o exame a partir dos 40 anos. Estando tudo bem, o rastreamento deve ser repetido a cada três anos. Pessoas com pólipos (crescimento de tecido nas paredes colorretais) no intestino devem fazer acompanhamento com regularidade.

A importância do preparo

A colonoscopia não é isenta de riscos. Pode haver sangramento ou perfuração de órgãos, por isso, o exame deve ser realizado por profissional especializado, com sedação e preparo intestinal adequado. Por isso, também, não se deve fazer mais exames do que o necessário e sempre seguir corretamente as instruções do preparo antes da realização do exame.

“As pessoas devem conhecer a importância de realizar a colonoscopia e não deixem de realizar assim que tiverem a indicação médica. O câncer colorretal, quando diagnosticado precocemente, é muito mais simples de tratar e as chances de cura são muito maiores. Quanto mais tardiamente acontecer o diagnóstico, mais difícil será o tratamento”, explica o Dr. Arnaldo.

Os eventos adversos no procedimento são bastante raros, afirma o cirurgião. Nos melhores serviços, acontecem em cerca de um a cada 4.500 exames. Ainda assim, o número é alto se compararmos a exames como toque retal, para a prevenção do câncer de próstata, ou a mamografia, para o câncer de mama, praticamente isentos de risco.

Por este motivo, a escolha do local onde será realizado o exame e dos profissionais que acompanham o paciente em caso de intercorrências é sempre muito importante. O especialista destaca ainda que, normalmente, o processo é definido por uma equipe médica composta por vários especialistas, dentre cirurgiões, oncologistas clínicos, patologistas (entre outros). Ele destaca que cada caso é de uma complexidade diferente e caberá ao time de especialistas escolhido definir a melhor programação terapêutica.

“Após confirmado o diagnóstico procede-se ao chamado estadiamento, quando outros exames serão realizados (tomografias, exames de sangue), e que de acordo com os achados o tratamento será determinado. O tratamento varia de cirurgia a quimioterapia, ou uma associação de ambos”, menciona o médico.

Dr. Klock ainda ressalta que, se o câncer já teve início, o médico patologista é um importante aliado no diagnóstico, pois ele é o responsável pelo laudo da biópsia que traz as indicações de possíveis tratamentos.

Hábitos saudáveis ajudam a evitar doença

Cerca de 30% de todos os cânceres de intestino (cânceres colorretais) são causados por fatores como o baixo consumo de fibras alimentares, atividade física insuficiente, consumo de carne processada e de carne vermelha acima do recomendado (até 500 gramas por semana), de bebidas alcoólicas e excesso de peso. Assim, boa alimentação, atividade física e evitar álcool ajudam a evitá-lo.

A campanha de saúde de janeiro, identificada pelo laço branco, tem tudo a ver para evitar as mais variadas doenças. Afinal, “mente sã em corpo são”, diz a antiga máxima. Ou seja, movimentar-se, sair do sedentarismo, evitar alimentos ultraprocessados, ter boa noite de sono, fazer caminhadas em áreas verdes e evitar a poluição ambiental das cidades.

Conforme destaca o professor de Medicina da Unic, a prevenção é a peça fundamental. Para que isso aconteça, ele dá algumas dicas de hábitos saudáveis que devem ser adotados no dia a dia. Os dados do Inca indicam que a adoção das práticas pode evitar até 37% dos casos. Confira:

– Evite bebidas alcóolicas;

– Tenha uma alimentação rica em vegetais;

– Diminua o consumo de carnes vermelhas;

– Busque por um peso corporal saudável;

– Mantenha uma via ativa, executando atividades físicas;

– Evite carnes processadas.

Com Assessorias (atualizado em 16/1/22)

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