*Matéria atualizada em 16/5/21, às 16h

Aos 41 anos, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, perdeu a batalha que travava desde 2019 contra um câncer no sistema digestivo, com metástase nos ossos e no fígado. Ele estava internado desde o último dia 2 no Hospital Sírio-Libanês e faleceu às 8 horas deste domingo (16). Na noite de sexta-feira (14), um novo boletim médico já declarava como irreversível o quadro clínico. Não havia mais nada a fazer em seu caso, além dos cuidados paliativos para que não sofresse mais.

Bruno encontrava-se no quarto, recebendo medicamentos analgésicos e sedativos e acompanhado de seus familiares, entre os quais, o filho Tomás, de 15 anos. Na noite de sexta (14), um padre chegou a fazer a unção dos enfermos, um sacramento católico. Durante a noite de sábado (15), representantes de diversas religiões participaram do ato ecumênico na porta do hospital, que durou 30 minutos e terminou com a oração Pai Nosso.

O corpo foi velado neste domingo no Edifício Matarazzo, sede da prefeitura, em cerimônia breve para familiares e amigos próximos. Depois, em carro aberto, seguiu em cortejo até o Cemitério do Paquetá, em Santos, sua cidade natal. É lá também que foi sepultado seu avô, Mário Covas, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo que também morreu de câncer há 20 anos.

Entenda como ocorre a metástase

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, lutava contra o câncer desde outubro de 2019 (Patrícia Cruz / Fotos Pùblicas)

A hereditariedade é um dos principais fatores de risco para determinados tipos de câncer, mas não em todos. Já a metástase, que Covas sofreu, pode ocorrer em boa parte dos casos de câncer que não conseguem ser controlados com os tratamentos atualmente disponíveis: quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e terapia-alvo.

A oncologista Renata D’Alpino, coordenadora do grupo de tumores gastrointestinais e neuroendócrinos da Oncoclinicas, explica que a presença de novos tumores não significa que o prefeito tenha desenvolvido outro tipo de câncer, mas é resultado da metástase, um processo que ocorre em casos avançados da doença.

A metástase geralmente é diagnosticada por meio dos exames de acompanhamento do paciente. Esses testes também ajudam na escolha das condutas a serem adotadas, que leva em conta a origem (tumor primário), o tamanho e a extensão do tumor. No caso do prefeito, a nova metástase no fígado indicava que o tratamento anterior com imunoterapia não estava funcionando.

Em muitos casos de pacientes com tumores malignos, mesmo com o tratamento, é possível que células cancerígenas se soltem do órgão original onde a doença está localizada e tentem ‘viajar’ para outra parte do corpo. Em geral, esse trajeto não dá certo e essas células são eliminadas pelo organismo, mas quando elas conseguem alcançar uma nova área e se estabilizar, acabam gerando uma multiplicação da doença e o aparecimento do câncer em outra parte do corpo. É o que denominamos como metástase”, diz a médica.

Embora afete outro órgão, o novo tumor tem as mesmas características da doença inicial e, por isso, não pode ser classificado ou tratado como sendo um câncer diferente por estar presente em outro órgão. “Por exemplo, quando o câncer de estômago causa metástases no fígado, as células que formam o novo tumor mantêm as suas características de origem, como se fossem uma espécie de clones. Por isso, o recomendável é seguir o protocolo de tratamento indicado para o tipo de câncer original, com quimioterapia ou radioterapia, por exemplo”, frisa a especialista.

Doença diagnosticada em outubro de 2019 a partir de uma trombose

O prefeito licenciado foi internado pela primeira vez em outubro de 2019, quando chegou ao hospital com erisipela (infecção), que evoluiu para trombose venosa profunda (coágulos) na perna direita. Os coágulos subiram para o pulmão, causando o que é chamado de embolia.

Durante os exames para localizar os coágulos, médicos detectaram o câncer na cárdia, região entre o esôfago e o estômago. Na ocasião, foram constatadas também uma metástase no fígado e uma lesão nos linfonodos. Ao longo de quatro meses, ele passou por oito ciclos de quimioterapia. Em cada sessão ele passava 30 horas recebendo a medicação.

Em fevereiro do ano passado, os médicos avaliaram que o tratamento havia sido satisfatório, mas não suficiente e, por isso, ele começou a fazer imunoterapia. Covas passou por oito sessões de quimioterapia, que fizeram com que o tumor regredisse. Mas, segundo a equipe médica, não foram suficientes para vencer o câncer. Após novos exames, o prefeito iniciou o tratamento com imunoterapia.

Em janeiro de 2021, após ser reeleito nas eleições municipais e continuar no cargo, Covas anunciou uma nova fase de procedimentos no combate à doença. No dia 17 de fevereiro, um nódulo no fígado foi detectado e a imunoterapia foi interrompida. Na ocasião, os médicos informaram que Covas faria quatro sessões de 48 horas de quimioterapia.

Ele tirou uma licença de 10 dias, quando passou a ser submetido a sessões de radioterapia. Na época, estavam previstas 24 sessões de radioterapia complementares para o tratamento. Em abril deste ano, exames apontaram novos pontos de câncer nos ossos e no fígado.

Serenidade e coragem para enfrentar a doença

Bruno Covas foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 3 de maio para passar por um procedimento para conter um sangramento no tumor da cárdia, que fica entre o estômago e o esôfago. Ele chegou a ser intubado para o procedimento, mas foi extubado no mesmo dia, após o sangramento ter sido contido. No dia 4 de maio, deixou a UTI e foi para um leito semi-intensivo.

Foi aí que se deixou fotografar, com aparência bastante debilitada, ao lado de Tomás, que vestia a camiseta do Santos, time de pai e filho. Na mensagem que postou nas redes sociais, o prefeito licenciado disse ter vencido mais uma etapa e ter fé em continuar a driblar os próximos obstáculos. Nunca perdia a esperança no tratamento.

Covas ao lado do filho, Tomás, de 15 anos, com a camiseta do Santos (Reprodução Internet)

No Dia das Mães (9), Covas fez uma homenagem à sua mãe, Renata Covas, e à mãe de seu filho. Também postou uma foto dele mesmo sorrindo e escreveu: “Continuo a lutar aqui no hospital. sem baixar a cabeça e sem perder minha motivação. Muita força, foco e fé. Espero logo estar junto de vocês para agradecer por todo carinho”. Foi sua última mensagem nas redes sociais.

Secretários e correligionários de Covas destacaram a coragem e a serenidade com que Bruno lidava com a doença e enfrentava todos os tratamentos. Também foi destacada sua atuação, em meio à própria doença, no enfrentamento à crise da Covid, quando a cidade de São Paulo chegou a ficar no epicentro da pandemia, com 60% das mortes no país (hoje responde por 8%). Até adversários políticos elogiaram sua atuação. “Ele não flertou com o negacionismo”, disse seu último adversário, Guilherme Boulos (PSOL), com quem disputou a Prefeitura de São Paulo em outubro passado.

ENTENDA A LUTA DE COVAS

Os últimos 30 dias no hospital

Em 15 de abril, o prefeito licenciado já havia sido internado para a realização de exames de controle que detectaram ovos focos de tumor nos ossos e fígado. Durante a internação, ele teve uma piora do quadro e foi diagnosticado líquido no abdômen e pleura, tecido que reveste os pulmões. Drenos foram colocados para a retirada do líquido, uma suplementação nutricional também foi iniciada, e Covas teve alta em 27 de abril.

Cinco dias depois, Covas pediu afastamento do cargo por 30 dias para cuidar da saúde e o vice Ricardo Nunes (MDB) assumiu a gestão. No mesmo dia, Covas foi internado para realizar exames de rotina para prosseguir o tratamento quimioterápico e imunoterápico. Nesses exames foi detectado o sangramento no local do tumor inicial, a cárdia.

Na última segunda-feira (10), Covas iniciou uma nova etapa do tratamento, combinando imunoterapia e terapia-alvo. A imunoterapia é feita com medicamento que reforça o sistema imunológico do paciente, para que ele próprio combata o câncer. Já a terapia-alvo, um tratamento mais recente, é feita com outro tipo de medicamento, que identifica uma proteína que existe em células cancerígenas e ataca essas células.

Os médicos explicaram que a intubação foi feita para proteger as vias aéreas do prefeito e evitar alguma laceração no momento da endoscopia, procedimento utilizado para estancar o sangramento. Por conta do sangramento, as sessões de quimioterapia que estavam previstas foram suspensas e Covas realizou sessões de radioterapia. Na semana passada, Covas passou também por sessões de radioterapia para ajudar a conter um sangramento na cárdia detectado em um exame.

Com G1, UOL e Agências

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