A pesquisa foi feita a partir de análises baseadas em dados de registros da doença no período que vai de janeiro de 2018 a dezembro de 2023. Os resultados foram reunidos em um artigo publicado na última edição da revista científica The Lancet Regional Health – Americas. Nesta sexta-feira (7), o portal da Fiocruz publicou uma nota com as principais conclusões.
Os pesquisadores não questionam o valor das políticas públicas atuais, mas apontam a necessidade de se criar estratégias integradas e elencam desafios que devem ser enfrentados. Entre eles está o acesso limitado à saúde, a não adesão ao tratamento e a limitação de recursos para ações inovadoras no controle da doença na última década.
Também são mencionados os impactos da pandemia da covid-19. Os serviços de saúde voltados para o controle da tuberculose foram bastante afetados.
Caso houvesse aumento da cobertura de terapia diretamente observada (DOT), de adesão ao tratamento preventivo (TPT) e da investigação de contato, combinado com esforços para reduzir casos de tuberculose entre populações vulneráveis, a incidência poderia ser reduzida a 18,5 casos por 100 mil, embora ainda seja um número acima das metas da OMS. Com essas intervenções, foram observadas reduções de 25,1% na incidência projetada até 2025 e 56,1% até 2030, destacando o potencial de estratégias integradas”, registra a nota divulgada pela Fiocruz.
No artigo, os pesquisadores ressaltam também a necessidade de aprimorar os programas de controle da tuberculose em ambientes prisionais, por meio da melhoria da triagem e acesso ao TPT. Outra recomendação envolve a melhora da cogestão de casos de coinfecção com HIV e diabetes, com aumento de testes e início do tratamento.
Estudo mostra que Bolsa Família reduziu mortes por tuberculose
Recentemente, outro estudo que teve a Fiocruz como um dos participantes revelou que o programa federal de transferência de renda Bolsa Família foi determinante para a redução de mais da metade dos casos de mortes por tuberculose entre pessoas miseráveis e povos originários. A redução foi de mais de 50% em pessoas extremamente pobres e mais de 60% entre as populações indígenas.
A constatação é de estudo feito por uma série de instituições de pesquisas brasileiras, incluindo a Universidade Federal da Bahia e o Instituto de Saúde Global de Barcelona, e foi publicada na revista internacional Nature Medicine. Na avaliação das pesquisadoras, o programa garante uma melhor condição de vida e alimentação dos beneficiários, o que pode ter sido determinante na sobrevivência daqueles com a doença.
Para chegar a essa constatação, os pesquisadores cruzaram dados socioeconômicos, condições étnicas e compararam incidência, mortalidade e a taxa de letalidade entre as pessoas que receberam recursos do Bolsa Família ou não. A expectativa agora é que as descobertas sejam utilizadas para influenciar também políticas públicas de combate à pobreza e transferência de renda em países com altas taxas da doença.
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Um estudo realizados por alunos da primeira turma da Ilum – Escola de Ciência, concebida pelo CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) aplicou conceitos da epidemiologia matemática para entender a incidência da tuberculose no Brasil foi um dos contemplados na primeira edição do Prêmio Paulo Gontijo para Futuros Cientistas
A tuberculose é uma doença presente em todo mundo, e enfatizamos nossa pesquisa trabalhando variáveis socioeconômicas de IDH e densidade populacional e a efetividade do sistema público de saúde, desta forma o combate efetivo da tuberculose não deve apenas considerar fatores biológicos ou geográficos, mas incluir fatores sociais e econômicos, evidenciando a necessidade da união entre estudos matemáticos e sociais”, explicam os estudantes Vitor Barelli e Tiago Bigardi, autores do estudo.
A premiação ocorreu no último dia 10 de janeiro e contemplou outro projeto de estudantes da Ilum sobre leite materno – cada projeto recebeu R$ 10 mil. O objetivo é estimular os estudantes no desenvolvimento de projetos inovadores sobre temas de relevância nacional e a buscarem novos conhecimentos científicos, mas também destacar o papel transformador da ciência para a sociedade, um dos pilares da formação da Ilum e do Instituto Paulo Gontijo.
O grupo composto pelas alunas Bárbara Rodrigues, Monyque Silva e Paola Ferrari ganhou um dos prêmios com um estudo sobre as características do leite materno e sua relação com a saúde humana. O sonho da maternidade e o fato de serem futuras cientistas motivou as amigas optarem pelo tema.
Identificamos que são poucos estudos que tentam entender a composição bacteriana durante a produção do leite materno. O estudo também fez um paralelo a mulher de décadas atrás e os dias de hoje e também da relação entre a mãe e seu bebê nesse período e como o aleitamento materno era visto. Para isso projeto integrou biologia, computação e humanidades, o que foi incrível para a carreira que pretendo seguir. O trabalho final me deu confiança para trilhar uma trajetória científica independente e madura”, afirmou Bárbara, que pretende fazer pós-graduação em genética e biologia molecular com foco em cuidados com a saúde.
Com informações da Agência Brasil e Ilum
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