Por Dra. Denise Curi, PhD*

Por que, mesmo após décadas de campanhas e eventos ambientais, os problemas do planeta continuam a se intensificar? Porque a verdadeira mudança não vem apenas da conscientização — ela exige uma mudança profunda nos comportamentos sociais, econômicos e institucionais. Essa transformação deve ser oriunda de uma mudança de comportamento dos mercados, das escolhas de consumo, de incentivos políticos e dos fluxos financeiros.

Neste 5 de junho de 2025, o mundo volta seus olhos para o meio ambiente, refletindo sobre os avanços conquistados e, principalmente, sobre os desafios urgentes que ainda enfrentamos. Este ano, o tema do Dia Mundial do Meio Ambiente, liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), é “Combater a Poluição por Plásticos” — um símbolo da crise ambiental moderna.

A Crise Tripla Planetária

O PNUMA aponta que estamos vivendo uma “crise planetária tripla”, formada por três frentes interconectadas:

1. Mudanças Climáticas

Ondas de calor recordes, inundações devastadoras e secas extremas não são mais exceções. A mudança climática já afeta a saúde, a produção de alimentos, a economia e a segurança de milhões de pessoas no mundo.

2. Perda de Biodiversidade

Relatórios mostram que 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção. Até mesmo áreas protegidas estão registrando declínios alarmantes em populações de insetos e animais polinizadores, essenciais para nossa segurança alimentar.

3. Poluição generalizada

Do ar que respiramos aos oceanos que sustentam a vida marinha, a poluição continua a comprometer a saúde pública e os ecossistemas — com destaque especial para os resíduos plásticos, que já foram encontrados no sangue humano e nos pulmões de recém-nascidos.

A crise do plástico: símbolo da urgência

Por que escolher o plástico como tema? O plástico é o símbolo da modernidade, graças a esse material avançamos na medicina com materiais descartáveis e seguros, aumentamos a conservação de alimentos, tornamos os transportes mais leves e eficientes, viabilizamos tecnologias como celulares e computadores, barateamos a construção civil, ampliamos o acesso a bens de consumo e impulsionamos a ciência com equipamentos laboratoriais práticos e acessíveis.

Contudo, o uso excessivo, descartável e mal gerido do plástico se transformou em uma crise global. A produção em massa aliada à falta de sistemas eficazes de coleta e reciclagem resultou em oceanos contaminados, solo poluído, impacto na biodiversidade e riscos à saúde humana.

Mais de 430 milhões de toneladas de plástico são produzidas por ano. Cerca de 19 milhões de toneladas vazam para os rios, oceanos e solos — contaminando tudo ao redor. De acordo com o World Economic Forum, os custos sociais e ambientais da poluição plástica já ultrapassam US$ 300 bilhões por ano.

O que realmente muda o jogo?

Apesar da importância da educação ambiental, ela sozinha não é suficiente para enfrentar crises globais. A transformação real exige ações coordenadas e estruturais. Veja como:

1. Políticas públicas eficazes

  • Criação de regulações ambientais ambiciosas
  • Incentivos fiscais para inovação sustentável
  • Fiscalização ativa e transparente

2. Redirecionamento dos fluxos financeiros

  • Ampliação de investimentos verdes e socialmente responsáveis
  • Taxonomias sustentáveis e critérios ESG padronizados
  • Financiamento de negócios com impacto positivo

3. Transformação dos modelos de negócios

  • Integração da sustentabilidade na cadeia de valor
  • Economia circular como padrão
  • Transparência na governança socioambiental

4. Mudança no consumo

  • Estímulo à cultura do “menos é mais”
  • Incentivo ao reuso, reparo e reciclagem
  • Pressão do consumidor por produtos éticos e duráveis

5. Alianças multissetoriais

  • Cooperação entre governos, empresas, academia e sociedade civil
  • Pactos climáticos e acordos internacionais (como o tratado global sobre plásticos)
  • Indicadores e métricas compartilhadas para medir impacto real

Hoje, o nosso desafio não é eliminar totalmente o plástico, é repensar como o produzimos, usamos e descartamos.

  • Mestre e Bacharel em Administração de Empresas na área de Cultura Organizacional e Gestão da Qualidade, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Doutora em Engenharia de Produção, com foco em Orientação para o Mercado em Empresas de Tecnologia pela Escola Politécnica da USP e equivalência em Gestão Industrial pela Universidade de Aveiro. Desde 2018, vive na cidade do Porto, onde é investigadora na Universidade de Aveiro. Atualmente, dedica-se à Denpec Desenvolvimento Profissional e Consultoria. Teve um papel fundamental na implementação da reciclagem de PET em larga escala no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Na área acadêmica, ministrou aulas na FIA-USP (Fundação Instituto de Administração), Centro Paula Souza e Universidade Mackenzie. É autora do livro “Gestão Ambiental” (Editora Pearson), além de diversos artigos e capítulos de livros sobre sustentabilidade e inovação sustentável no Brasil e no exterior. LinkedIn: Denise Curi PhD

 

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