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O brasileiro morre de medo de ter câncer, mas, infelizmente, pouco sabe sobre a doença e o pior, que é possível preveni-la em boa parte dos casos. Pesquisa divulgada nesta terça-feira (24) pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) revela que 41% dos entrevistados têm muito medo da doença – entre as mulheres, este percentual sobe para 48%. Os estados com maior grau de carcinofobia são Pará (52%) e São Paulo (48%), enquanto Minas Gerais (39%) e Rio Grande do Sul (25%) registraram grau inferior de medo.

Inédita, a pesquisa revela que o brasileiro reconhece que ainda não está profundamente familiarizado com o câncer. Quatro em cada dez entrevistados disseram ter conhecimento mediano (nota 5 a 7 em escala que varia de 1 a 10), enquanto apenas 26% afirmam entender profundamente sobre o tema (nota 8 a 10).  Na visão do brasileiro, o tabagismo é o principal vilão para o câncer, sendo citado por 93% dos entrevistados, seguido por herança genética (84%) e exposição ao sol (83%).

No entanto, apesar deste razoável grau de informação, ainda há resistência na tomada de atitudes preventivas. No caso do cigarro, por exemplo 21% dos entrevistados discordam de que fumar ocasionalmente possa causar câncer. Já 27% dos entrevistados não identificam relação entre sobrepeso e risco de câncer e 26% não fazem correlação entre Doenças Sexualmente Transmissíveis e a doença. A pesquisa traz, porém, uma boa notícia: 80% dos brasileiros acreditam na cura do câncer, sendo a quimioterapia, radioterapia e cirurgia as três formas de tratamento mais reconhecidas para este fim.

“Sentir medo é algo que faz parte da vida das pessoas e pode servir de catalizador em algumas situações para gerar reações positivas. Infelizmente, isso não acontece com o câncer, já que 21% das pessoas que disseram temer muito o câncer não realizam qualquer tipo de exame”, afirma Cláudio Ferrari, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

Muita esperança na cura, apesar do enorme medo

De modo geral, a relação do brasileiro com o câncer é movida, ao mesmo tempo, por esperança e temor. Esse antagonismo é visível no questionamento sobre quais são as primeiras associações feitas com a palavra câncer. No total, 25% dos entrevistados disseram se tratar de uma doença que, com tratamento correto, é possível controlar, enquanto outros 16% correlacionam câncer a dor.

Segundo a pesquisa, a cura é resultado da ação da ciência, mas com participação importante da fé. Mais de 80% da população acreditam no papel da radioterapia, 79% na combinação de tratamentos já existentes e 78% no poder da fé. No entanto, motivo de preocupação é o fato de uma parcela significativa da população apostar nas terapias alternativas como caminho para cura do câncer.

TV, amigos e parentes são fontes de informação

 

A televisão, amigos e familiares são as principais fontes de informação relacionadas ao câncer no Brasil, gerando mobilização importante em torno das variações do câncer mais disseminadas maciçamente: os cânceres de mama, próstata e pulmão.“Essa estatística reforça a importância da realização de grandes campanhas informativas e educacionais para a população, uma vez que os tipos de câncer mais reconhecidos são aqueles alvos de ações como o ‘outubro rosa’ e ‘novembro azul’, por exemplo”, afirma Ferrari.

No entanto, o diretor da SBOC alerta que é fundamental desenvolver estratégias similares com outros tipos de câncer de alta incidência nacional, mas que ainda registram baixo nível de conhecimento, como por exemplo intestino (colorretal) e colo uterino – para o qual já existe vacina eficaz sendo distribuída na rede pública.

Sintomas da doença são ignorados

A falta de informação sobre variações importantes de câncer também resulta em desconhecimento de sintomas importantes da doença, que possibilitariam sua identificação precoce. Por exemplo, um em cada cinco brasileiros não reconhece sangue nas fezes, perda de peso, sangue na urina ou dor no estômago como possíveis sintomas de uma doença maligna.

Quando o assunto é tratamento, a pesquisa mostra que a combinação de profissionais treinados e tecnologia de ponta é o segredo do sucesso na visão do brasileiro. Além disso, o compromisso dos profissionais de saúde é amplamente reconhecido pela população: equipes médica, de enfermagem e hospitais aparecem na lista das instituições mais confiáveis no combate ao câncer.

Por outro lado, o governo passa por uma crise de reputação importante, sendo alvo de desconfiança por 73% dos entrevistados, resultado direto da ineficiência do serviço público de saúde, que é alvo de reclamações especialmente em relação à demora para consultas com especialistas, dificuldade na realização de exames e conclusão de diagnóstico.

 

Estilo de vida do brasileiro não ajuda

Segundo o Panorama sobre Conhecimento, Hábitos e Estilo de Vida dos Brasileiros em relação ao Câncer, o estilo de vida do brasileiro ainda não é saudável. Metade dos entrevistados não pratica qualquer tipo de atividade física. O número é especialmente impactado negativamente pelas mulheres (56%) e por pessoas com mais de 50 anos de idade (54%). O nível socioeconômico também pode comprometer muito a adesão a atividades físicas.

No entanto, em relação ao consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo, as notícias são boas: 57% dos entrevistados dizem não consumir bebidas. O homem ainda dá o mau exemplo neste recorte, tendo um nível de consumo 60% superior ao da mulher. Já 69% das pessoas ouvidas relataram não fumar, número impactado positivamente pelo público jovem, com mais de 77% de relatos de não fumo. Outro ponto de alerta é que, entre os entrevistados que fumam, 39% consomem mais de um maço de cigarros diariamente.

De modo geral, o brasileiro tem um entendimento adequado de como evitar o câncer ao adotar ações como evitar cigarro, se proteger do sol e comer mais frutas, legumes e folhas. No entanto, ainda há resistência na hora de adotar todas as medidas que sabem ser importantes para uma vida saudável.

Exemplo claro disso é a negligência com relação aos exames preventivos. Apesar de 80% dos entrevistados afirmar que deveria fazer check ups, apenas 49% realmente o faz. No caso do público masculino, a situação é ainda mais negativa, registrando as piores taxas de conversão entre informação e realização de exames. Outro dado preocupante é que 24% da população não faz qualquer tipo de exame preventivo.

Pesquisa ouviu 1.500 pessoas em todo o país

A primeira edição do Panorama sobre Conhecimento, Hábitos e Estilo de Vida dos Brasileiros em relação ao Câncer busca fazer um retrato do nível de informação, conhecimento, crenças e hábitos com relação ao câncer. No total, mais de 1,5 mil pessoas, com idade superior a 18 anos e distribuídas pelos 26 estados brasileiros e Distrito Federal, foram entrevistadas.

Para a Sboc, a pesquisa permite identificar as principais lacunas de conhecimento e reconhecer oportunidades para intervir junto à população, de forma a buscar juntos, governo e sociedade civil, reduzir o risco e aumentar o diagnóstico precoce do câncer. “Com o envelhecimento médio do brasileiro, que já tem expectativa de vida superior a 75 anos, tem se tornado cada vez mais importante entender a sua relação com a doença e avaliar de que maneira os hábitos e estilo de vida de nosso povo são transformados em atitudes proativas para o combate da doença”, explica o presidente da SBOC, Gustavo Fernandes.

A primeira pesquisa proprietária da SBOC foi dividida em três partes:

  • Conhecimento: apura o grau de informação e entendimento dos entrevistados em relação a temas como diagnóstico, tratamento e prevenção do câncer;
  • Comportamento: detalha o estilo de vida do brasileiro e como seus hábitos impactam diretamente o cenário do câncer;
  • Crenças: investiga a relação mais íntima da população com o câncer, incluindo seus medos e níveis de confiança com os diferentes players da saúde

Fonte: SBOC, com redação

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