Depois de fazer milhares de brasileiros chorarem de tanto rir, nesta terça-feira (4), ele fez o Brasil inteiro chorar de tristeza. A cinco dias do Dia das Mães, o ator e humorista Paulo Gustavo, de 42 anos, conhecido como a Dona Hermínia do filme e peça ‘Minha Mãe é Uma Peça’, deu adeus à luta que travava pela vida, desde 13 de março, quando foi internado com Covid-19 num dos hospitais mais caros do país.
No fim de 2020, o niteroiense Paulo Gustavo gravou um vídeo emocionante e inesquecível para o humorístico ‘220 volts’ da TV Globo que reflete bem a angústia dos tempos de pandemia, diante da necessidade de distanciamento social e do uso inseparável da máscara. “A gente agora está precisando dessa máscara chata pra proteger o rosto desse vírus. E infelizmente essa máscara esconde algo muito precioso para nós, brasileiros: o sorriso. Ele está tapado, tem que ficar tapado, mas ele existe”, dizia nessa que hoje parece mais uma mensagem de despedida e amor à vida.
Além da necessidade de manter os cuidados sanitários em tempos tão difíceis, o vídeo emocionante fala sobre esperança, positividade e da força do humor para resistir às dificuldades. “O humor salva, transforma, alivia, cura, traz esperança pra vida da gente. Essa pandemia deixou bem clara também a importância da arte nas nossas vidas (…) Eu faço palhaçada, você ri, eu fico com o coração preenchido aqui. Eu me sinto realizado de estar conseguindo te fazer feliz. Rir é um ato de resistência”, disse Paulo Gustavo. “A gente não vai deixar de sorrir, a gente não vai deixar de ter esperança. Eu estou louco para voltar ao teatro e encontrar vocês”, completou.
Luta que durou 53 dias no hospital
Nem o tratamento mais avançado atualmente disponível no Brasil para pacientes muitíssimo graves de Covid-19 garantiu a sobrevivência de Paulo Gustavo. O ator, que estava intubado desde 21 de março na UTI do Hospital Copa Star, em Copacabana, teve que ser submetido no começo de abril a uma terapia por ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea). Trata-se de uma espécie de pulmão artificial que respira pelo paciente e também faz as funções do coração. A diária do equipamento, somada a custos extras do tratamento, pode chegar a R$ 50 mil.
Dias depois de passar a respirar por uma máquina fora do seu corpo, o ator foi submetido a uma pleuroscopia, quando foi identificada uma fístula bronco-pleural que impedia a adequada ventilação mecânica. Ainda naquela semana, Paulo Gustavo precisou de uma transfusão de sangue. No dia 15 de abril, o quadro do comediante havia estabilizado e não houve novos sinais de piora. Ao contrário, chegou a ter redução de sedativos e bloqueadores e a interagir com médicos e com o marido, Thales Bretas.
Mas depois de duas semanas de aparente estabilidade, o estado de saúde do ator piorou novamente. Na noite de domingo (2), ele sofreu uma embolia pulmonar causada por uma fístula bronquíolo-venosa (abertura entre os pulmões e as veias), que provocou insuficiência cardíaca e lesões cerebrais. Na tarde desta terça, após toda a família de Paulo Gustavo ser chamada ao hospital, um novo boletim médico informou que o ator estava com quadro irreversível, mas mantinha os sinais vitais. Às 21h12, no entanto, foi constatada a morte de Paulo Gustavo. A direção do Theatro Municipal do Rio ofereceu o espaço para o velório do ator.
A dor da família e o legado no humor nacional
Paulo deixa marido – o médico dermatologista Thales Bretas -, dois filhos pequenos, Gael e Romeu, além do pai, Júlio Marcos, da irmã, Juliana Amaral, e da mãe, Déa Lúcia Amaral, que inspirou a criação de Dona Hermínia. Deixa também uma legião de amigos amorosos e fãs incondicionais que jamais esquecerão seu enorme talento. Sem dúvida o Brasil perde não apenas um artista multimídia que sabia nos provocar o riso frouxo só de olhar pra ele, mas, sobretudo, um ser humano que espalhou vida, alegria e amor.
Paulo Gustavo era um desses artistas que a gente acha que é de casa – ou um amigo engraçado que conta piada na mesa do bar. Com seu humor inspirado em cenas comuns do dia a dia da família brasileira, conquistou o país e trilhou uma trajetória de enorme sucesso, em produções como o campeão de bilheteria “Minha mãe é uma peça: O filme” (2013), que rendeu mais dois filmes. Lançado em 2019, o longa mais recente da trilogia se tornou a comédia de maior audiência na história do cinema nacional.
Com Agências