Levantamento da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) aponta que um em cada quatro doentes renais que contrai a Covid-19 morre. Apesar de representarem um grupo de altíssimo risco, os pacientes que sofrem de insuficiência renal não foram colocados na lista de prioritários para receber a vacina no Brasil. Por isso, a Aliança Brasileira de Apoio à Saúde Renal (Abrasrenal), entidade que representa pacientes, está apelando ao Ministério da Saúde que priorize os pacientes renais na Política Nacional de Imunização.
Um projeto de lei determina que os pacientes renais crônicos, pacientes transplantados e portadores do vírus HIV sejam priorizados no processo de imunização contra a Covid-19. O Projeto de Lei 203/21, da deputada Mara Rocha (PSDB-AC), tramita na Câmara dos Deputados. Na semana passada, o Ministério anunciou a inclusão dos pacientes de HIV, além de profissionais de forças de segurança, de todo o país.
Em Portugal, os doentes renais e os profissionais de saúde que os atendem foram colocados como prioridade na vacinação contra a covid-19. Em três dias, 100% deles foram imunizados. Por aqui a Bahia aprovou a vacinação de 100% dos pacientes em hemodiálise no dia 10 de março e a imunização desse grupo de risco já começou no estado.
Mas o que é motivo de comemoração para os baianos é ainda incerteza para milhares de doentes renais de todo o país. Segundo o Censo da SBN, há mais de 140 mil brasileiros com doença renal crônica, recebendo o tratamento de diálise em cerca de 810 clínicas espalhadas pelo país.
Esse número tende a aumentar, já que a Covid-19 tem mostrado efeito importante sobre o funcionamento dos rins, levando de 30% a 50% dos pacientes graves, internados na UTI, a precisar receber diálise à beira do leito. Muitos, quando recebem alta, precisam seguir fazendo diálise por tempo ainda indeterminado. A ciência ainda não consegue mapear o efeito de longo prazo da Covid sobre a insuficiência renal crônica.
Estamos muito preocupados com os doentes renais, que não podem fazer isolamento social porque precisam ir para as clínicas receber o tratamento pelo menos 3 vezes na semana. Ou seja, um grupo de risco importante para a doença não pode ficar em casa se protegendo porque a diálise é o que lhes garante a vida. Boa parte desses 140 mil brasileiros precisa pegar transporte público e enfrentar1, 2, 3 horas de viagem para chegar até a clínica. E eles estão se infectando e morrendo. Precisam ser vacinados com urgência”, destaca Gilson Silva, diretor da Abrasrenal.
Custos do tratamento no Brasil: clínicas ameaçam fechar
No Brasil, além do drama da pandemia, ainda vivemos com o absurdo de ver os custos do tratamento que garante a nossa vida subir a níveis que tornam a diálise quase inviável. Muitas clínicas podem fechar justamente no momento em que os pacientes mais precisam. Sem tratamento, sem vacina, o Brasil pode estar escolhendo matar seus doentes renais”, alerta Gilson Silva, que é paciente renal há mais de uma década.
O diretor da Abrasrenal se refere à decisão do Governo de São Paulo de aumentar o imposto da diálise de 0% para 18% desde janeiro de 2021. As clínicas passaram a comprar insumos e medicamentos com a cobrança do ICMS neste ano, gerando um prejuízo de R$ 100 milhões, de acordo com estimativa da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT). Como não houve aumento no repasse do Governo Federal para o custeio do tratamento, muitas clínicas vêm informando que poderão fechar.
Por isso, a ABCDT criou o movimento #ADialiseNaoPodeParar para sensibilizar o país para a causa do doente renal, com apoio da Abrasrenal e da SBN. A iniciativa também é apoiada por Federação Nacional dos Pacientes Renais e Transplantados (Fenapar), Associação Brasileira de Enfermagem em Nefrologia (Soben) e Associação Brasileira da Indústria de Soluções Parenterais (Abrasp).
Fonte: Abrasrenal, com Redação