Uma projeção feita pela World Obesity Federation, organização internacional voltada para redução, prevenção e tratamento da obesidade, mostrou que, em 2030, cerca de 30% da população brasileira adulta será obesa. De acordo com a revista acadêmica British Medical Journal, pacientes submetidos a cirurgia bariátrica, para tratamento da obesidade, têm 30% mais chances de desenvolverem osteoporose.

A diminuição da absorção de nutrientes, como cálcio e fósforo, resultado do procedimento, prejudica o metabolismo ósseo, tornando os tecidos mais frágeis. O quadro preocupa os especialistas em metabolismo ósseo, uma vez que a osteoporose já atinge cerca de 10 milhões de brasileiros, segundo a Abrasso (Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo).

“Além do prejuízo na absorção de nutrientes, alterações no padrão hormonal, como o aumento do PTH (paratormônio) e a redução da vitamina D, também contribuem para o prejuízo ósseo que se segue à bariátrica. O tratamento cirúrgico é uma alternativa para a obesidade grave, que traz benefícios metabólicos e cardiovasculares, mas não é isenta de efeitos adversos. A perda óssea e o impacto negativo sobre a resistência dos ossos fazem parte da lista de complicações desse procedimento e que devem ser monitoradas”, ressalta o endocrinologista e presidente da Abrasso,  Sergio Maeda.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o SUS (Sistema Único de Saúde) realizou, em 2019, 12.568 cirurgias bariátricas no país. A entidade salienta que, devido à pandemia da Covid-19, o número caiu para 3.129, em 2020, e 1.935, em 2021. Contudo, os dados vinham apresentando aumento sequencial desde 2011, quando foram registrados 5.370 procedimentos.

Perda de massa óssea

No pós-operatório, há aumento da atividade de remodelação óssea, o que provoca um balanço negativo entre a formação e a reabsorção do osso, causando perda de massa deste tecido, o que pode, em longo prazo, levar à osteoporose. “No caso de pacientes com osteoporose diagnosticada antes da cirurgia, esse fator deve ser considerando na análise de benefícios e riscos do procedimento. Caso a opção cirúrgica seja mantida, o tratamento farmacológico deve ser considerado”, salienta Sergio Maeda.

Há três métodos de cirurgia bariátrica, as restritivas, as mistas e as disabsortivas.  “Existem procedimentos que trazem maior prejuízo na absorção de nutrientes. Algumas cirurgias apenas diminuem o tamanho do estômago, enquanto outras diminuem a área de absorção do intestino delgado, que é onde ocorre a absorção do cálcio e da vitamina D, que atuam, diretamente, na formação óssea”, explica a clínica médica Melissa Premaor.

Para ela, o tempo de imobilização pós-cirurgia deve ser o menor possível. E o paciente deve ser orientado a realizar exercícios com carga, como caminhada, assim que puder. “Manter uma rotina de exercícios é essencial. A dieta também deve ser balanceada, e cálcio e vitamina D, repostos de forma apropriada, com acompanhamento médico permanente. Se o paciente apresentar osteoporose, a doença não deve ser negligenciada, mas, sim, tratada”, afirma Melissa Premaor.

Endocrinologista alerta para importância do controle nutricional

“A cirurgia de redução de estômago é uma ferramenta muito importante para controle da obesidade, porém, a pessoa tem que manter uma vigilância nutricional bem regrada, para o resto da vida, pois a cirurgia pode ocasionar a falta de cálcio e a consequência séria disso é a osteoporose”, alerta Marise Lazaretti Castro, endocrinologista pela Escola Paulista de Medicina, a Unifesp.

A médica conta que após a cirurgia bariátrica os parâmetros nutricionais devem ser mantidos sob controle, uma vez que a alteração do trato digestivo e intestinal causado pela cirurgia pode prejudicar a absorção de nutrientes.

“Na maioria das vezes o paciente não percebe essa deficiência nutricional que leva algum tempo para surgir após a bariátrica e acaba descobrindo a osteoporose após uma queda seguida de fratura”, explica Dra. Marise, que é uma das diretoras da Clínica Croce, centro de vacinação e infusão de imunobiológicos com especialistas das áreas de Alergia, Imunologia, Reumatologia e Endocrinologia.

A absorção do cálcio dos alimentos fica reduzida após a bariátrica porque esse mineral depende do estômago e de um pedaço do intestino para ser absorvido, além de depender da vitamina D, também deficiente nos pacientes pós-bariátrica.

“Isso acaba levando ao estado que a gente chama de hiperpatireoidismo, quando as glândulas paratireoides produzem hormônio em excesso; e esse hormônio acaba tirando o cálcio do osso para deixar o cálcio no sangue normal, já que há pouco cálcio na alimentação. E a falta de cálcio no osso leva a um estado de osteoporose”, explica a endocrinologista especialista em doenças do metabolismo ósseo.

Pessoas que fizeram bariátrica devem repor pelo menos nutrientes como zinco, ferro, vitamina do complexo B, cálcio e vitamina D, sempre orientadas por um endocrinologista, pois o médico vai avaliar os parâmetros nutricionais e orientar sobre os perigos da falta ou excesso de suplementação.

“Tenho recebido muitos pacientes pós-bariátricos no meu consultório que estão desnutridos. Volto a dizer que a cirurgia é uma excelente opção para combater a obesidade, principalmente e obesidade grave, mas o indivíduo jamais poderá esquecer que a bariátrica é uma ferramenta, e não solução definitiva para os problemas de saúde. Controlar a alimentação e os nutrientes derivados dela é fundamental”, conclui a endocrinologista.

Com Abrasso e Clínica Croce

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