O Carnaval mobiliza todos os anos milhões de pessoas em blocos de rua, clubes e desfiles das escolas de samba. Mas será que a maior festa popular do país é acessível a todos os brasileiros? Nas principais cidades onde a folia acontece, muito além de pensar em qual fantasia usar, pessoas com deficiência precisam levar em conta a acessibilidade nas ruas e nos locais da festa. E esse é um público muito numeroso.

Segundo o último Censo do IBGE, cerca de 24% dos brasileiros declararam ter algum grau de deficiência em pelo menos uma das habilidades investigadas – enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus -; ou possui deficiência mental/ intelectual. Para o Carnaval 2023, cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife, entre outras, vão oferecer muitas oportunidades para pessoas com deficiência (PcDs) aproveitarem a Folia de Momo.

Pioneira na defesa da causa das pessoas com deficiência (PCDs) no Carnaval carioca, a Orquestra Voadora traz como temática “O futuro é anticapacitista” em seu tradicional desfile nesta terça-feira (21), no Aterro do Flamengo. Para o Carnaval 2023, além da consolidada Ala PcD, com 30 integrantes, haverá outras ações de inclusão, como intérprete em Libras e audiodescrição – ambas de forma adaptada à realidade do carnaval de rua, e o reconhecimento prévio do espaço com descrição pormenorizada do local e do trajeto.

Paralelamente a essas ações, a Orquestra Voadora também vai cobrar dos órgãos públicos o cumprimento da Lei 13.825/2019, que alterou a Lei de Acessibilidade, tornando obrigatória a disponibilização, nos eventos organizados em espaços públicos e privados, de banheiros químicos acessíveis a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. A ideia é também pleitear a inclusão de uma área acessível e reservada às pessoas com deficiência, no Aterro do Flamengo, para que todos possam assistir aos desfiles de carnaval.

Criado em 2008, o bloco mantém, desde 2018, um Núcleo de Acessibilidade, que começou a desfilar no ano seguinte com uma Ala PcD. Em 2020, durante a pandemia, produziu a websérie Acessibifolia, desdobramento de um projeto feito em parceria com a Funarte. Iniciativas que tentam tornar possível às pessoas com deficiência, tanto durante as oficinas que são ministradas no Circo Voador durante todo o ano, quanto nos ensaios e no cortejo carnavalesco, uma experiência cada vez mais próxima da plenitude – e, por consequência, mais distante das exclusões.

A concentração começa às 14 horas, na Avenida Infante Dom Henrique s/n, no Aterro do Flamengo – altura do Outeiro da Glória, com saída às 15 horas, em direção ao Museu de Arte Moderna (MAM). O encerramento será às 18 horas.

Sargento Pimenta garante acesso para PCDs

Bloco do Sargento Pimenta promove ação ‘Carnaval Para Todo Mundo’ (Foto: Divulgação/ Boticário)

O bloco Sargento Pimenta – outro gigante do Carnaval de Rua do Rio, reconhecido pela trilha dos Beatles em ritmo de samba que, neste ano, estima receber 500 mil pessoas – também vai promover um Carnaval inclusivo em sua apresentação nesta segunda-feira (20). Além de manter intérpretes de Libras em seu trio, o bloco abre espaço acessível para pessoas com deficiência auditiva, visual, física, intelectual ou múltipla e seus acompanhantes.

Idealizado para oferecer uma estrutura e suporte a diferentes tipos de deficiências – auditiva, visual, física, intelectual e múltipla –  o Espaço Acessível do Boticário foi inspirado e cocriado a partir de histórias reais, de pessoas que enfrentam inúmeras barreiras levantadas pela falta de acessibilidade para curtir o carnaval.

O local reservado para o Carnaval para Todo Mundo contará com uma planta de 30 x 14 metros sem obstáculos, garantindo a circulação de pessoas em cadeiras de rodas ou com mobilidade reduzida, intérprete de Libras, palco elevado para pessoas com baixa estatura, banheiro acessível, rotas reduzidas e rampas de acesso.

A partir do dia 16 de fevereiro, os interessados podem realizar seu pré-cadastro na landing page da ação.  O ponto de encontro para acesso ao bloco será no Bossa Nova Mall – Av. Alm. Silvio de Noronha, 365 – Centro, Rio de Janeiro. Basta ir ao local para pegar uma carona.

Distribuição de convites para a Sapucaí

Vários blocos também vão garantir acessibilidade no Carnaval do Rio, entre eles, Tá Pirando, Pirado, Pirou!, Loucura e Senta Que Eu Te Empurro. O Bangalafumenga e o Oficina da Alegria também oferecem intérpretes de libras.  Além disso, no carnaval carioca serão instalados 3.400 banheiros químicos específicos para pessoas com deficiência ao longo do trajeto dos blocos de rua – 10% do total que estará disponível para a população.

Ainda no Rio de Janeiro, a prefeitura está distribuindo 300 ingressos, gratuitamente, para pessoas com deficiência acompanharem o desfile das escolas de samba no Sambódromo da Sapucaí. Os convites para o Setor 13-PCD valem para os dias de apresentação do Grupo Especial, Série Ouro e para o Sábado das Campeãs. Vale ressaltar que a cidade já conta com a escola de samba Embaixadores da Alegria, fundada em 2003 – a primeira agremiação inclusiva do carnaval carioca.

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‘Sim, Podemos’ promove igualdade em São Paulo

São Paulo, por exemplo, terá vários blocos formados ou frequentados por PcDs. O “Sim, Podemos” é um deles. O bloco foi criado para promover a igualdade e destacar a importância da presença de pessoas com deficiência em todos os ambientes. Além disso, durante o desfile haverá banheiros químicos acessíveis, Libras e audiodescrição para que todos possam se divertir. Por parte da prefeitura paulistana, foi lançada a sétima edição do “Samba Com as Mãos.

A ação, que traduz sambas-enredo em Libras, é realizada anualmente em parceria com a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo. A luta pela inclusão também ganhou espaço este ano no Sambódromo do Anhembi. “Da Inclusão à Superação. Todos Somos Iguais. Sou um Campeão” foi o tema do enredo da escola de samba Camisa 12. A agremiação, oriunda da torcida organizada do Corinthians, foi a penúltima a desfilar no Grupo de Acesso II, no sábado passado.

“Quando se trata de acessibilidade para pessoas com deficiência, o carnaval ainda deixa a desejar, mas já vemos avanços. A enorme quantidade de blocos existentes hoje no Brasil, que reúnem pessoas com e sem deficiência, ajuda a dar visibilidade a essa população e ainda lança luz ao tema Inclusão, de forma leve e descontraída. Vale destacar que nos Sambódromos do Rio e de São Paulo já é realidade a presença de deficientes físicos e visuais como jurados e funcionários, desde 2012. Isso ajuda a quebrar preconceitos e ainda abre espaço para a cobrança de políticas públicas direcionadas a esse público”, ressalta o defensor público federal André Naves, especialista em Direitos Humanos e Sociais.

Inclusão no Carnaval 2023 em outros pontos do Brasil

Naves lembra que o tema Acessibilidade e Inclusão já foi destaque também de escolas de samba e blocos de outras regiões do país. Na cidade de Santos (SP), a Escola de Samba Vila Mathias já desfilou com uma ala inteiramente formada por pessoas com deficiência física, auditiva, visual e intelectual; dentre tantos outros exemplos por todo o país.

Em Manaus, o Grêmio Recreativo Unidos do Alvorada já trouxe o samba-enredo “Oi, eu estou aqui! Alvorada com um cromossomo a mais mostra que ser diferente é normal”, homenageando pessoas com Síndrome de Down e mostrando a importância da inclusão de pessoas com deficiência.

Em Belo Horizonte, quatro blocos prometem animar foliões com deficiência. Três desfilam no próximo sábado: “Apaetucada”, “US” e “Gato”; e o bloco “Todo” desfila no domingo de carnaval.

Incentivar a inclusão no carnaval também é uma das tarefas da prefeitura de Recife. Assim como em Olinda, a capital pernambucana vai oferecer o Camarote da Acessibilidade para o desfile do Galo da Madrugada. Para a folia deste ano, as inscrições para o camarote inclusivo, que tem capacidade para 300 pessoas, já estão acontecendo.

Em Salvador, também haverá camarotes acessíveis disponíveis às pessoas com deficiência. Nos espaços, os foliões poderão se divertir à vontade, com conforto e segurança, em uma estrutura que vai proporcionar inclusão e bem-estar. As inscrições são gratuitas.

Em São Luiz, no Maranhão, dois dos maiores circuitos de carnaval da cidade recebem desde 2015 recursos para promover acessibilidade para pessoas com deficiência participarem da folia sem se preocupar. O projeto Carnaval de Todos incentiva a presença de pessoas com deficiência, oferecendo banheiros acessíveis, rampas para deslocamento e intérprete de Libras.

Mais sobre a orquestra voadora

Versão carioca das chamadas fanfarras europeias, a Orquestra Voadora chega a arregimentar em seus cortejos até 60 instrumentistas, paramentados com perucas, narizes de palhaço, cartolas e fantasias. Já fez turnês pela França, Portugal e Espanha. O repertório inclui releituras de Michael Jackson, Mutantes, Roberto Carlos e Stevie Wonder. A Orquestra lançou seu primeiro CD em 2011, com faixas de suas autoria e releituras.

Em 2008, músicos que se conheceram tocando em blocos de marchinha de carnaval de rua do Rio decidiram tocar o ano todo, e outros estilos musicais além das marchinhas. Foi assim que se formou a Orquestra Voadora, que apelida suas apresentações de “voos” e neles mescla diferentes vertentes musicais, como sambas clássicos, rock, trilhas de filmes e desenhos, groove clássicos e vanguardísticos.

O bloco iniciou os ensaios nos jardins do Aterro do Flamengo, tornando-se um espaço aberto para músicos que tinham interesse em compor uma imensa fanfarra. Os “voos” entraram na agenda de verão da cidade como opção de lazer aos domingos, onde acontecem também piqueniques e oficinas de musica. A Orquestra Voadora também faz apresentações em festivais cariocas como Open Air e Viradão Cultural; em casas de shows, como Fundição Progresso e Circo Voador, e nos teatros Rival e Odisseia.

Com informações do Rio de Lazer, Mapa de Cultura e assessorias (atualizado em 22/2/23)

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