Após recomendação de especialistas e autoridades sanitárias internacionais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o cenário de mpox na África constitui emergência em saúde pública de importância internacional em razão do risco de disseminação global e de uma potencial nova pandemia.

O anúncio foi feito nesta quarta-feira (14), em Genebra, pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em razão do risco de disseminação global e da detecção de uma nova variante mais letal da doença.

Este é o mais alto nível de alerta da entidade, com base no regulamento sanitário internacional vigente, o que não ocorria desde a pandemia de Covid-19, declarada em janeiro de 2020 e encerrada em maio de 2023.

Ghebreyesus destacou que surtos de mpox vêm sendo reportados na República Democrática do Congo há mais de uma década e que as infecções têm aumentado ao longo dos últimos anos. Em 2024, os casos já superam o total registrado em 2023 e somam mais de 14 mil, além de 524 mortes.

A OMS vem trabalhando para conter os surtos de mpox na África e alertando que o cenário é algo que deve preocupar a todos nós. Na semana passada, convoquei o comitê de emergência para avaliar a situação na República Democrática do Congo e em outros países na África. Hoje, o comitê se reuniu e informou que, em sua visão, a situação constitui emergência em saúde pública de importância internacional.”

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças africano (CDC África) já havia declarado o cenário de mpox na região como emergência em saúde pública de segurança continental. O anúncio foi feito na terça (13) pelo diretor-geral da entidade, Jean Kaseya, ao citar a rápida transmissão da doença na África.

Aceitei a recomendação do comitê. A detecção e a rápida disseminação de uma nova variante de mpox na República Democrática do Congo, a detecção dessa mesma variante em países vizinhos que não haviam reportado casos da doença anteriormente e o potencial de disseminação em toda a África e além são muito preocupantes”, disse Tedros.

“Está claro que uma resposta internacional de forma coordenada é essencial para interromper esses surtos e salvar vidas. Uma emergência em saúde pública de importância internacional é o mais alto nível de alarme na legislação sanitária”, concluiu.

Oitava decretação de emergência

É a oitava vez que a entidade decreta emergência em saúde pública de interesse internacional e a segunda relacionada especificamente à mpox – entre 2022 e 2023, a doença também figurou como emergência global em meio à propagação do vírus em diversos países.

Em maio de 2023, quase uma semana após alterar o status da covid-19, a OMS declarou que a mpox também não configurava mais emergência em saúde pública de importância internacional. Em julho de 2022, a entidade havia decretado status de emergência em razão do surto da doença em diversos países.

Assim como com a covid-19, o fim da emergência não significa que o trabalho acabou. A mpox continua a apresentar desafios de saúde pública significantes que precisam de resposta robusta, proativa e sustentável”, declarou, à época, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

“Casos relacionados a viagens, registrados em todas as regiões, demonstram a ameaça contínua. Existe risco, em particular, para pessoas que vivem com infecção por HIV não tratada. Continua sendo importante que os países mantenham sua capacidade de teste e seus esforços, avaliem os riscos, quantifiquem as necessidades de resposta e ajam prontamente quando necessário”, alertou Tedros em 2023.

Mpox na República Democrática do Congo em alta há dois anos

Os casos de mpox na República Democrática do Congo (RDC) estão em ascensão há mais de dois anos. O cenário, de acordo com a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), se agravou ao longo dos últimos meses em razão do uma mutação que levou à transmissão da doença de pessoa para pessoa, além da notificação de casos suspeitos na província de Kivu do Norte.

Transmitida por contato próximo entre indivíduos ou com animais infectados, a mpox é considerada endêmica na África Central e na África Ocidental, com duas cepas diferentes, desde a década de 1970. Entre os anos de 2020 e 2023, a doença se espalhou rapidamente pelo mundo, com milhares de casos ligados à variante da África Ocidental relatados em mais de 110 países.

De acordo com o MSF, a mpox é classificada como endêmica em pelo menos 11 de um total de 26 províncias da RDC. Em razão de um aumento acentuado de casos ao longo de mais de dois anos, autoridades sanitárias do país declararam epidemia da doença em dezembro de 2022.

Em 2023, o número de infecções triplicou, chegando a 14,6 mil notificações e 654 mortes. Em 2024, a situação piorou ainda mais. Entre janeiro e meados de julho, mais de 12,3 mil casos suspeitos foram relatados e 23 províncias foram afetadas.

A aceleração da epidemia é preocupante, especialmente porque uma mutação genética foi identificada na província de Kivu do Sul, com transmissão de humano para humano agora ininterrupta por meses. Isso ainda não havia sido identificado com a cepa da Bacia do Congo, ao contrário da cepa da África Ocidental, que causou a epidemia global em 2022”, explicou a organização humanitária.

Outro motivo de preocupação, segundo a MSF, é que a doença foi registrada em acampamentos de pessoas deslocadas em torno da cidade de Goma, em Kivu do Norte, onde a extrema densidade populacional torna a situação ainda mais crítica. “Existe um risco real de agravamento da situação, dados os enormes movimentos populacionais dentro e fora da RDC”, alerta.

Nos últimos dois anos, o país registra movimentos regulares de pessoas que fogem de conflitos na província do Kivu do Norte e, mais recentemente, do Kivu do Sul. Famílias deslocadas procuraram refúgio, sobretudo, em acampamentos rudimentares nos arredores de Goma, onde o vírus foi identificado.

A identificação de casos, o acompanhamento dos pacientes e os cuidados disponíveis permanecem extremamente limitados, enquanto a falta de vacinas dificulta ainda mais a situação. Em algumas comunidades, a desinformação sobre a doença também complica a adesão das pessoas às medidas de saúde pública. Isso ilustra a necessidade de trabalhar em estreita colaboração com os líderes comunitários para que todos passem a aderir às medidas”, defende a organização humanitária.

Maior letalidade

No fim de junho, a OMS chegou a alertar para uma variante mais perigosa da mpox. A taxa de letalidade pela nova variante 1b na África Central chega a ser de mais de 10% entre crianças pequenas, enquanto a variante 2b, que causou a epidemia global de mpox em 2022, registrou taxa de letalidade de menos de 1%. A entidade contabilizava, em junho, mais de 95 mil casos confirmados da doença em 117 países, além de mais de 200 mortes.

É um número impressionante quando se considera que apenas alguns milhares de casos de mpox haviam sido relatados até então em todo o mundo e, de repente, estamos nos aproximando de 100 mil casos”, destacou a líder técnica sobre varíola dos macacos do Programa de Emergências Globais da OMS, Rosamund Lewis.

Vacina

A RDC já validou pelo menos duas vacinas contra a mpox mas, no momento, nenhuma das doses está disponível, segundo o MSF. “As negociações estão em andamento com certos países, e as áreas prioritárias estão sendo identificadas. Esperamos que as coisas sejam resolvidas em breve e que vacinas suficientes sejam fornecidas ao país para atuar nas principais áreas epidêmicas”.

“Estamos trabalhando de várias maneiras para ajudar a conter esse surto. Essa não é a primeira vez. As atuações de emergência já foram realizadas em 2021 na província de Mai-Ndombe, depois em 2023, e no início de 2024 na província de Equateur. Mas estamos intensificando nossos esforços devido aos desenvolvimentos recentes”, informa a MSF.

Prioridades

A organização humanitária destaca que a epidemia de mpox na RDC se espalha em áreas com realidades demográficas e geográficas, muitas vezes, diferentes. Por isso, a resposta deve ser multissetorial e adaptada a cada contexto.

Enquanto se aguarda a chegada das vacinas, o maior número possível de parceiros deve apoiar outros aspetos-chave da resposta, como análises laboratoriais, vigilância, apoio ao isolamento e autoisolamento, sensibilização”, avalia.

“Hoje, todos esses aspectos sofrem de deficiências e exigem enormes recursos para funcionar adequadamente”, pontuou o MSF. “Só podemos pedir que as vacinas cheguem ao país o mais rápido possível e em grandes quantidades, para que possamos proteger as populações nas áreas mais afetadas. Particularmente, as populações mais em risco, como os profissionais de saúde congoleses, que estão na linha de frente do combate à infecção, assim como outras populações em risco, como profissionais do sexo e pessoas deslocadas nos acampamentos”.

A doença

A mpox é uma doença zoonótica viral. A transmissão para humanos pode ocorrer por meio do contato com animais silvestres infectados, pessoas infectadas pelo vírus e materiais contaminados. Os sintomas, em geral, incluem erupções cutâneas ou lesões de pele, linfonodos inchados (ínguas), febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza.

As lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O número de lesões pode variar de algumas a milhares. As erupções tendem a se concentrar no rosto, na palma das mãos e na planta dos pés, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, nos olhos, nos órgãos genitais e no ânus.

De acordo com a MSF, a mpox requer tratamento de suporte, de forma a controlar os sintomas da forma mais eficaz possível e evitar mais complicações. A maioria dos pacientes tratados se recupera dentro de um mês, mas a doença pode ser fatal quando não tratada. Na RDC, onde a taxa de mortalidade da cepa existente é muito maior do que na África Ocidental, mais de 479 pessoas morreram desde o início do ano.

Casos relacionados a viagens, registrados em todas as regiões, demonstram a ameaça contínua. Existe risco, em particular, para pessoas que vivem com infecção por HIV não tratada. Continua sendo importante que os países mantenham sua capacidade de teste e seus esforços, avaliem os riscos, quantifiquem as necessidades de resposta e ajam prontamente quando necessário”, alertou Tedros em 2023.

Primeira emergência

Em maio de 2023, quase uma semana após alterar o status da covid-19, a OMS declarou que a mpox também não configurava mais emergência em saúde pública de importância internacional. Em julho de 2022, a entidade havia decretado status de emergência em razão do surto da doença em diversos países.

“Assim como com a covid-19, o fim da emergência não significa que o trabalho acabou. A mpox continua a apresentar desafios de saúde pública significantes que precisam de resposta robusta, proativa e sustentável”, declarou, à época, o diretor-geral da OMS.

 

Com Assessorias

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