Conforme definição do Ministério da Saúde, o Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos.
A insulina é produzida pelo pâncreas e é responsável por processar a glicose. A falta desse hormônio, ou sua insuficiência, provoca déficit na metabolização da glicose e, consequentemente, diabetes. A doença se caracteriza por altas taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia) de forma permanente.
De acordo com a International Diabetes Federation (IDF), entidade ligada à ONU, existem no mundo mais de 380 milhões de diabéticos. A doença deve impactar 1,5 bilhão de pessoas até 2050, segundo a revista científica Lancet.
O Brasil é o quinto país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos (20 a 79 anos), perdendo apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. A estimativa da incidência da doença em 2030 chega a 21,5 milhões no Brasil. A IDF estima que, até 2045, esse número crescerá 50%, e a doença atingirá 49 milhões de pessoas no país.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), na maioria dos casos, a doença está associada a condições como obesidade e sedentarismo – ou seja, pode ser evitada. É possível reduzir a taxa de glicose no sangue com medidas simples. A mudança de hábito alimentar e a prática de exercícios são os principais fatores para o controle da doença.
Perder de 5% a 10% do peso por meio de alimentação saudável e exercícios faz uma grande diferença na qualidade de vida. No entanto, para 60% dos pacientes, a dieta é o passo mais difícil de ser incorporado à rotina. Ao todo, 95% têm dificuldades com o controle de peso, dieta saudável e exercícios regulares.
Diabetes pode acontecer com qualquer um! Saiba como detectar
No imaginário coletivo, a diabetes pode parecer uma doença restrita a quem tem histórico familiar ou um quadro muito específico. Não é bem assim. E as pessoas estão manifestando a doença cada vez mais cedo. Endocrinologista mapeia a condição e dá o caminho para captar um eventual diagnóstico precoce
Quem não tem diabéticos na família pode até pensar que está livre de adquirir a doença, mas fatores como hábitos alimentares não saudáveis, sedentarismo, excesso de peso e um dia a dia estressante têm gerado diagnósticos cada vez mais cedo – até mesmo em crianças.
Thais Mussi, endocrinologista e netabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), lembra, por exemplo, que a American Diabetes Association (ADA) recomenda que as pessoas comecem o rastreio do diabetes aos 35 anos. “Principalmente quem está com excesso de peso e tem fatores de risco adicionais”, complementa a médica.
No geral, segundo ela, o diabetes tipo 1, a versão autoimune da doença, pode ter início em qualquer idade, mas geralmente se manifesta durante a infância ou adolescência. O diabetes tipo 2, mais comum, pode se desenvolver em qualquer idade, com maior incidência em pessoas com mais de 40 anos. “O DM2 está frequentemente associado à obesidade e ao envelhecimento”, informa a médica.
Diagnóstico: quanto antes, melhor
Na intenção de rastrear um possível início de diabetes, a Dra. Thais indica que as pessoas não hesitem em fazer testes, caso observem sintomas parecidos com os iniciais do diabetes. “Esses sintomas nem sempre são fáceis de perceber e podem se desenvolver tão lentamente, que a pessoa pode ter diabetes tipo 2 durante anos, antes de ser diagnosticada”, alerta.
O quadro a ser observado, segundo a médica, envolve:
- Sede excessiva
- Urinar com frequência elevada
- Cansaço maior que o normal
- Visão embaçada
- Perda de peso involuntária
O reconhecimento de possíveis sintomas do diabetes pode levar ao diagnóstico e tratamento precoces. Isso pode ajudar a prevenir complicações e levar a uma melhor condição de saúde”, diz a médica.
A visão da Dra. Thais Mussi, corrobora com a detecção precoce, “o primeiro motivo de estarmos atentos a esse diagnóstico é poder dar início ao acompanhamento e tratamento o quanto antes, já que se trata de uma doença de alta morbidade e mortalidade”, alarma a médica.
Com o diagnóstico precoce, ela entende que se previnem complicações futuras envolvendo problemas de visão, doenças renais, efeitos nos nervos periféricos – o que acarreta os chamados “pés diabéticos”- e até cetoacidose diabética. “Este último é mais comum no diabetes tipo 1. É um processo bastante complexo, mas, resumidamente, é uma espécie de acidez anormal no sangue, que causa vômitos, náuseas, dor no abdômen e até uma modificação no hálito”, informa a Dra. Thais.
Métodos de detecção do diabetes
“Quando falamos em diagnóstico (e mesmo durante o tratamento), nenhum exame é tão importante quanto o de glicemia em jejum, que é um exame laboratorial, de sangue, simples de fazer”, afirma a Dra. Thais.
Para confirmar o diagnóstico, ela cita como comuns também o exame de hemoglobina glicada e o teste de tolerância à glicose. “Mas o mais importante é entender que o diabetes pode ser rapidamente identificado se a pessoa fizer um acompanhamento médico rotineiro, repetindo os exames sempre que solicitado por seu médico”, orienta a profissional.
A Dra. Thais detalha que, em pacientes que não apresentam sintomas há um processo a ser seguido. “É recomendado utilizar como critério de diagnóstico glicemia plasmática de jejum maior ou igual a 126 mg/dl, a glicemia duas horas após uma sobrecarga de 75 g de glicose igual ou superior a 200 mg/dl ou a HbA1c maior ou igual a 6,5%. É necessário que dois exames estejam alterados. Se somente um exame estiver alterado, ele deverá ser repetido para confirmação”, explica a endocrinologista.
Os sintomas e suas razões
A seguir, a endocrinologista aprofunda a característica e as razões que desencadeiam certos sintomas do diabetes:
Maior sede e mais micção – Nas pessoas que têm diabetes, o açúcar extra se acumula no sangue, forçando os rins a trabalharem horas a mais para filtrar e absorver o excesso de açúcar. Quando os rins não conseguem acompanhar, o açúcar extra vai para a urina e leva consigo fluidos dos tecidos do corpo. Isso causa desidratação, gerando mais sede, que leva a mais micção.
Fadiga – O nível elevado de açúcar no sangue perturba a capacidade do corpo de usar o açúcar como energia.
Perda de peso – O açúcar perdido no excesso de urina também leva à perda de calorias. Junto com a desidratação, isso pode causar rápida perda de peso. Isso é especialmente verdadeiro em pessoas que têm diabetes tipo 1, mas também pode acontecer em algumas pessoas com tipo 2.
Visão embaçada – Altos níveis de açúcar no sangue retiram fluido dos tecidos do corpo, incluindo o cristalino dos olhos. Isso afeta a capacidade de foco dos olhos.
Feridas de cicatrização lenta ou infecções frequentes – Níveis elevados de açúcar no sangue podem causar fluxo sanguíneo deficiente e prejudicar o processo natural de cura do corpo. Por isso, as pessoas com diabetes podem notar feridas de cicatrização lenta, especialmente nos pés. Em mulheres com diabetes, infecções fúngicas na bexiga e vaginais podem ocorrer com mais frequência.
Formigamento e dormência nas mãos e pés – Embora sejam menos comuns, ocorrem porque muito açúcar no sangue pode afetar o funcionamento dos nervos.
Remissão é uma possibilidade no tipo 2
O diabetes é uma doença crônica e, portanto, incurável. Mas, em alguns casos, sua remissão é uma possibilidade, segundo a Dra. Thais. “A remissão é quando a doença está silenciada. Ou seja, o paciente, mesmo sem tomar os medicamentos, não tem sinal, sintoma ou alteração laboratorial que indique o desenvolvimento da doença”, explica ela. A remissão, contudo, não representa cura, já que na retomada de hábitos que “acordam” a doença, o paciente voltará a apresentar o diabetes.
Para atingir o estágio de remissão, o ideal, segundo a Dra. Thais, é que o paciente foque em perder peso de forma saudável, nutrindo bons hábitos, como alimentação balanceada e prática de exercícios físicos.
Alguns estudos recentes apontam que, em pacientes com menos de 6 anos de doença, dietas de baixa calorias por três meses, acompanhadas de uma reintrodução calórica progressiva e uma fase de acompanhamento de manutenção de peso perdido, podem fazer o paciente atingir o estágio de remissão sem a necessidade de medicamentos”, exemplifica a especialista, a reforçar que qualquer medida de cuidado deve ser orientada por médicos especialistas.
A notícia é boa, mas engloba apenas pacientes com diabetes tipo 2, já que no tipo 1, como explica Dra. Thais, “o corpo trabalha contra si próprio, atacando as células beta, tornando impossível chegar à remissão”. Ela conta que existem estudos com células-tronco em andamento, mas ainda estão em fase inicial.
Com Assessorias