Linfoma. O inusitado nome entrou no vocabulário dos brasileiros depois que personalidades famosas, como os atores Reynaldo Gianecchini, Edson Celulari e a ex-presidente Dilma Rousseff, foram diagnosticados com esse tipo de câncer. E não é à toa que ouvir essas palavras está mais comum: no Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que para cada ano sejam diagnosticados ao menos 15 mil novos casos da doença ((linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin). E, segundo a entidade, por motivos ainda desconhecidos, o número duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), cerca de 70% da população mundial não sabe o que são linfomas, tipos de câncer que acometem o sistema linfático ou imunológico, mais comum em pacientes que tenham entre 15 e 30 anos de idade e naqueles acima dos 60 anos. Para alertar sobre a existência da doença, o dia 15 de setembro é marcado como o Dia Internacional de Conscientização sobre Linfomas.
Mas, do que se trata esse tipo de tumor?
De forma simplificada, os linfomas podem ser classificados como Hodgkin, mais raro e que afeta em especial jovens entre 15 e 25 anos e, em menor escala, adultos na faixa etária de 50 a 60 anos, ou não-Hodgkin, cujo grupo de risco é composto por pessoas na terceira idade (mais de 60 anos). Para Mariana Oliveira, hematologista do CPO Oncoclínicas, apesar de não haver prevenção por desconhecimento do que leva ao surgimento da neoplasia, a chave para deter a evolução progressiva do tumor é o conhecimento.
A boa notícia é o fato de os linfomas terem alto potencial curativo. O diagnóstico precoce é fundamental para alcançar o êxito no processo terapêutico, por isso o esclarecimento à população é essencial”, afirma.
As chances de remissão em pacientes com linfomas de Hodgkin chega a superar 80% dos casos quando o diagnóstico acontece ainda no estágio inicial, enquanto os não-Hodgkin de baixo-grau (não agressivos) têm altas taxas de sobrevida, superando a marca de 10 anos.
Como surge o linfoma
O linfoma surge quando ocorrem mutações em células do sistema linfático, que atuam na “filtragem” do sangue. Os linfomas afetam as defesas do organismo e ocasionam o aumento de tamanho dos linfonodos, popularmente conhecido como íngua que se manifestam nas axilas, virilha e na região do pescoço. Apesar do crescimento do linfonodo estar diretamente ligado ao processo infecioso do sistema imunológico, isso não costuma ser um processo doloroso.
Por isso, Otávio Baiocchi, hemato-oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz reforça a importância da população conhecer os sintomas da doença como forma de auxiliar no diagnóstico precoce e tratamento adequado dos linfomas.
O especialista reforça que além das ínguas, febre intermitente, sudorese noturna sem causa aparente, coceira na pele e perda repentina e significativa de peso são sintomas secundários característicos de linfomas.
Disfunções no sistema imune, que provocam inflamações crônicas das células, podem acometer qualquer pessoa, no entanto, pacientes transplantados, portadores do vírus HIV e quem sofre de doenças autoimunes estão mais suscetíveis a desenvolverem linfomas, devido às alterações imunológicas provocadas por essas condições”, afirma Baiocchi.
O especialista diz ainda que apesar de haver o registro de cerca de 70 subtipos de linfomas, todos eles são potencialmente curáveis desde que haja o diagnóstico precoce e que o tratamento seja conduzido por um médico especializado e familiarizado com as particularidades da doença. “Quem trata linfoma deve ter um conhecimento aprofundado sobre o assunto, para desvendar os defeitos apresentados pela doença e assim, poder oferecer um tratamento personalizado e eficaz a cada paciente”.
Sintomas e tratamento
Os sintomas em geral são aumento nos gânglios linfáticos (linfonodos ou ínguas, em linguagem popular) nas axilas, na virilha e/ou no pescoço, dor abdominal, perda de peso, fadiga, coceira no corpo, febre e, eventualmente, pode acometer órgãos como baço, fígado, medula óssea, estômago, intestino, pele e cérebro.
As duas categorias – Hodgkin e não-Hodgkin -, contudo, apresentam outros subtipos específicos, com características clínicas diferentes entre si e prognósticos variáveis. Por isso, o tratamento não segue um padrão, mas usualmente consiste em quimioterapia, radioterapia ou a combinação de ambas as modalidades”, explica Mariana Oliveira.
Em certos casos, terapias alvo-moleculares, que tem como meta de ataque uma molécula da superfície do linfócito doente, podem ser indicadas. “Estas proteínas feitas em laboratório atuam como se fosse um ‘míssil teleguiado’ – que reconhece e destrói a célula cancerosa do organismo”, ressalta o médico. Ainda, dependendo da extensão dos tumores e eficácia das medicações, pode haver a indicação de transplante de medula óssea.
Diante dos desafios impostos pela crescente incidência da doença, novas alternativas terapêuticas vêm surgindo para combater os linfomas, especialmente para os que não respondem aos tratamentos convencionalmente indicados. “A medicina tem avançado nos últimos anos principalmente através da terapia celular”, afirma a especialista.
Ela conta que o auto-transplante ,tratamento no qual é realizada uma quimioterapia mais intensa seguida pela infusão da medula do próprio paciente é uma delas. A terapia com CAR T é outra, e a principal novidade da área. Altamente especializadas, foram desenvolvidas, a partir de uma modificação genética das células, para atacar especificamente o tipo do câncer do paciente e aprovadas pela FDA (Food and Drug Administration), órgão regularizador do setor nos Estados Unidos. As drogas utilizadas nestas situações obtiveram taxas de sucesso que variaram de 50% a 80% dos casos, o que é animador.
E o recente arsenal de combate aos linfomas também incluí a imunoterapia. Com bons resultados apontados por estudos e pesquisas de referência global, o tratamento estimula o organismo do paciente a reconhecer e combater as células tumorais. “De forma bastante simplificada, podemos dizer que os imunoterápicos desativam os receptores dos linfócitos e, assim, permite que as células doentes sejam reconhecidas. Isso faz com que o organismo volte a combater o tumor – e sem causar efeitos colaterais comuns a outras medicações habitualmente adotadas nos processos terapêuticos”, finaliza Mariana Oliveira.
Pós-graduação em Onco-hematologia com foco em linfoma
Ciente da importância da necessidade de contribuir para que oncologistas e hematologistas tenham cada vez mais familiaridade com as particularidades e complexidades que envolvem o tratamento dos linfomas, a Faculdade do Hospital Alemão Oswaldo Cruz lançou o curso de pós-graduação em Onco-hematologia com foco em Linfoma. Este é o primeiro curso de pós-graduação, nestes moldes no país.
A implementação do curso está associada ao crescimento da área de hematologia no Brasil e chega como uma oportunidade de ajudar os profissionais da área, trazendo uma formação voltada para a prática clínica em doenças linfoproliferativas, como leucemia e linfomas. As aulas da primeira turma do curso, que tem duração de 18 meses, começam em setembro deste ano, de forma virtual, devido à pandemia do novo coronavírus. Os interessados podem se inscrever acessando o site.
Com Assessorias