Imagine sentir uma dor constante nos punhos ou ombros, a ponto de tarefas simples como digitar ou levantar uma xícara se tornarem insuportáveis. Agora, imagine que, além do desconforto físico, a condição dobra suas chances de desenvolver depressão ou ansiedade. Esse é o impacto das Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), que afetam milhares de brasileiros.

Longe de ser apenas um incômodo passageiro, essas condições afetam músculos, tendões, ligamentos e nervos, causando dor e desconforto e estão relacionadas ao uso excessivo de algumas partes do corpo, especialmente no trabalho. Estas lesões e distúrbios são causadas por movimentos repetitivos, posturas inadequadas e esforços excessivos nas atividades laborais e podem levar a dores crônicas, inflamações e, em casos mais graves, incapacidades temporárias ou permanentes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), pessoas que convivem com dor crônica têm quatro vezes mais chances de desenvolver depressão e o dobro de probabilidade de enfrentar dificuldades no trabalho. Segundo o Ministério da Saúde, essas doenças são as que mais afetam o trabalhador e estão entre as principais causas de afastamento do trabalho.

No Brasil, os números são alarmantes: entre 2018 e 2023, mais de 46 mil casos de LER/DORT foram registrados, com um aumento expressivo no último ano, segundo dados do DATASUS. Entre 2007 e 2021, registraram-se 102.986 diagnósticos de LER/DORT no Brasil.

Dor invisível e impacto devastador

A terapeuta ocupacional Syomara Cristina Szmidziuk, que há mais de 30 anos atua na reabilitação de pacientes com lesões neuromotoras, alerta para a importância do diagnóstico precoce e da abordagem integral no tratamento dessas condições.

Não se trata apenas de aliviar a dor. É preciso entender que essas lesões comprometem a autonomia do paciente e afetam diretamente sua saúde mental. A reabilitação precisa considerar corpo e mente para ser eficaz”, explica.

A dor crônica também pode afetar o sono, aumentar os níveis de estresse e contribuir para a depressão. Estima-se que de 35% a 45% das pessoas com dor crônica sofram de depressão, segundo estudo publicado pelo Ochsner Journal. Syomara reforça que o problema precisa ser levado a sério não só pelas empresas, mas também por cada indivíduo.

A dor é muitas vezes invisível aos outros, mas seu impacto é devastador. Criar ambientes de trabalho saudáveis e promover a conscientização são passos inadiáveis para evitar que milhares de brasileiros percam não só sua produtividade, mas também sua qualidade de vida.”

Má postura e excesso de trabalho, os principais vilões

O Dia Mundial de Combate às Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) em 28 de fevereiro, é uma data dedicada a conscientizar a população sobre as enfermidades que mais impactam os trabalhadores brasileiros.

Devido à natureza rotineira dessas atividades, torna-se desafiador interromper o trabalho e evitar movimentos repetitivos, o que dificulta o descanso e a recuperação. No entanto, este dia foi designado não apenas para sensibilizar os empregadores, e para que os empregadores e colabores revejam suas posturas e adotem medidas que incentivem a implementação de medidas preventivas contra as LER.

Ao realizar tarefas repetitivas em sua rotina diária, os trabalhadores podem ficar vulneráveis a uma variedade de lesões. Sintomas como inflamação, dores nos membros superiores e dedos, fadiga muscular, formigamento e dificuldade de movimentação estão todos associados às Lesões por Esforços Repetitivos (LER).

A má postura diária e o excesso de demandas no ambiente de trabalho e na rotina diária podem gerar sinais de alerta no corpo ocasionadas principalmente nas regiões como cervical, lombar e ombros podem ser afetadas pela má postura ao sentar, enquanto cotovelos e punhos podem estar relacionados à intensa digitação.

O sedentarismo, em alguns casos, é apontado como um grande vilão, já que a atividade física desempenha papel crucial no fortalecimento das articulações e musculatura.

Condições inadequadas de ergonomia no trabalho

As síndromes conhecidas como LER ou DORT afetam os músculos, esqueleto e nervoso. Em grande parte dos casos, são causadas por condições de trabalho inadequadas ou agravadas por elas. Entre os distúrbios mais comuns estão:

  • tenossinovite e a tendinite, que provocam inflamação nos tendões;
  • epicondilite, conhecida como cotovelo de tenista, que inflama músculos e tendões do cotovelo;
  • bursite, que atinge pequenas bolsas de líquido responsáveis por reduzir o atrito entre músculos, tendões e ossos;
  • síndrome do túnel do carpo, causada pela compressão de um nervo no punho, e
  • doença  De Quervain, que provoca inflamação nos tendões do polegar.

A relação entre o ambiente de trabalho e o agravamento dessas condições também é evidente. Jornadas exaustivas, cobrança excessiva por produtividade, falta de reconhecimento e até situações de assédio moral agravam o quadro.

Em muitos casos, os profissionais têm de encarar a incredulidade de colegas e chefes, já que a dor é algo muito subjetivo e difícil de ser comprovado. Isso gera frustração e isolamento,” comenta Syomara.

A terapeuta ressalta que é necessário também ter cautela com movimentos repetitivos fora do ambiente profissional. Falta de postura ou ergonomia nas horas de lazer – como no uso excessivo de celulares, computadores ou controles de videogames – podem agravar casos de LER/DORT.

O mesmo acontece em outras atividades rotineiras, como carregar sacolas de compra de forma inadequada, elevar pesos excessivos ou fazer tricô por muitas horas.

Como cuidar das lesões causadas por esforços repetitivos

Conheça os sintomas, tratamentos e prevenção

A prevenção passa por adaptações ergonômicas no ambiente profissional e mudanças na rotina. Ajustes simples, como cadeiras e mesas na altura correta, uso de equipamentos ergonômicos e pausas regulares para alongamentos, reduzem a sobrecarga muscular. Alternar tarefas que exigem diferentes grupos musculares também é fundamental para evitar esforços repetitivos.

Além das medidas físicas, a conscientização sobre ergonomia e o cuidado com o estresse no ambiente de trabalho são essenciais. Programas de orientação e um ambiente que valorize o bem-estar ajudam a identificar sintomas precoces, além de prevenir o agravamento das condições. Atividades físicas regulares e posturas adequadas completam o ciclo de prevenção, o que garante mais saúde e produtividade aos trabalhadores.

A terapeuta ocupacional acredita na importância de um olhar integral para o paciente, atuando na recuperação da funcionalidade e na redução da dor. Esse trabalho avalia as limitações do paciente nas atividades diárias e profissionais, desenvolvendo estratégias que incluem exercícios de fortalecimento e alongamento, técnicas de relaxamento e orientações sobre posturas corretas.

Prevenção e tratamento

A reumatologista Camila Zubeidi cita os sintomas. ‘‘Dor nas costas, pescoço, ombro, mãos ou braços. Inchaço, formigamento ou fraqueza muscular. Dificuldade em movimentar-se ou executar tarefas que antes eram fáceis’’. As doenças podem ser tratadas com vários métodos. ‘‘Fisioterapia, medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios; descanso da área afetada e cirurgia em casos graves’’, completa a médica.

De acordo com a especialista há formas de prevenir esses problemas. ‘‘Para evitar o surgimento de LER/DORT, é importante tomar alguns cuidados como manter a postura correta ao trabalhar ou realizar qualquer tarefa.

Sentar-se de maneira confortável e com a coluna reta ajuda a prevenir dores. Se ficar muito tempo em uma posição, faça pausas regulares, levante-se, caminhe e estique o corpo a cada 30 a 60 minutos. Praticar atividades físicas e alongar-se com frequência ajuda a manter os músculos fortes e flexíveis. Organize seu local de trabalho de maneira ergonômica, ajustando a altura da cadeira, a posição do computador e outros equipamentos para evitar posturas prejudiciais’’.

O tratamento também engloba educação sobre ergonomia e suporte emocional, o que ajuda a evitar recaídas, promovendo qualidade de vida. O tratamento para essas lesões requer a expertise de profissionais especializados.

Ao perceber qualquer um dos sintomas, é crucial buscar a orientação de especialistas, como reumatologistas, fisioterapeutas e até mesmo psicólogos, se houver sinais de depressão e ansiedade. Eles prescreveram medicamentos adequados para cada caso, incluindo anti-inflamatórios”, orienta a reumatologista Cláudia G. Schainberg.

Para evitar lesões por esforços repetitivos, considere essas dicas:

  • Beba água regularmente ao longo do dia;
  • Mantenha os pés totalmente apoiados no chão;
  • A cada 25 minutos de trabalho, faça uma parada de 5 minutos para relaxar os músculos;
  • Mantenha a postura adequada: pulsos retos, costas sempre apoiadas, ombros relaxados e cabeça sempre na linha reta de visão.

Com Assessorias

 

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