Nomofobia: quando a conexão virtual vira síndrome

Pandemia fez crescer casos de pessoas diagnosticadas com Nomofobia. Doutora em Psicanálise, Andrea Ladislau explica essa síndrome

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Por Andrea Ladislau*

Atualmente, viver conectado é algo tão comum quanto comer, beber ou se vestir. Essa conexão se dá a todo tempo e em qualquer lugar através de dispositivos móveis como celulares, smartphones, tablets, por meio dos quais as pessoas obtêm e divulgam informações, compartilham dados, fazem compras, checam a conta bancária, estabelecem relacionamentos, dentre muitas outras coisas.

Não podemos fechar os olhos para os benefícios que a tecnologia nos trouxe, principalmente, em momentos de isolamento. O avanço tecnológico e a oferta de ações e atividades nas redes sociais aproximaram as pessoas, encurtaram distâncias e ampliaram por todos os continentes a comunicação, assim como o lastro de velocidade das informações.

Mas os perigos de uma grande exposição e de uma conexão intensa, são muitos, entre eles a própria dependência e compulsão desenvolvida, principalmente pelos jovens. O excesso desta utilização tecnológica dá origem a uma síndrome: a Nomofobia, uma condição ou transtorno psicológico que se manifesta pela dificuldade, por parte de um indivíduo de se desconectar de aparelhos tecnológicos durante o dia.

Ou seja, o que até bem pouco tempo parecia inofensivo, hoje demonstra uma verdadeira e descontrolada dominação do ser humano. É, portanto, uma necessidade quase que inconsciente de estarmos sempre conectados. Fato é que, essa dependência tecnológica, de tão severa e intensa, tornou-se uma síndrome com registro no livro de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID 11).

Nomofobia: o que significa isso?

Uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como celular, podem ser sinal de Nomofobia (Reprodução de Internet)

A Nomofobia consiste em, nada menos do que, a capacidade que o indivíduo tem de perder o controle sobre si mesmo, a ponto de se tornar um “escravo” da tecnologia, ou seja, tornar-se dependente de um aparelho, além de vivenciar sensações desagradáveis e um medo irracional de estar desconectado do mundo virtual e desatualizado de informações ou eventos.

Consequentemente, o uso exagerado destes aparelhos eletrônicos pode refletir no surgimento desse transtorno psicológico, pois permanecer conectado a todo tempo passa a ser mais atrativo do que todas as outras possibilidades e atividades do cotidiano. Um sinal claro de que a vida real está sendo substituída por uma realidade virtual.

Mas quais os riscos e sintomas da síndrome e como saber se o desejo de estar conectado se transformou em uma doença? E de que forma podemos fazer essa classificação entre a necessidade doentia do uso das redes e conexões para uma utilização saudável? Como perceber se isso está de fato acontecendo?

3 fatores que definem a síndrome

Para explicar melhor, três fatores principais precisam ser avaliados. Eles demonstram e constatam a presença da síndrome e sinalizam que algo está errado.

O primeiro fator é a exclusividade, pois sinaliza que a tecnologia passa a ser a sua única fonte de obtenção de prazer e da
satisfação;

O segundo aspecto é a tolerância, identificada pela intensidade em que a pessoa gasta cada vez mais, uma parte maior do seu
tempo com o celular.

E, por fim, temos a abstinência, que consiste no fato de que, começam a surgir sintomas desagradáveis e mudanças bruscas de humor, especialmente quando não se pode utilizar o aparelho, ou qualquer outro instrumento tecnológico. Uma abstinência comparada inclusive, com a abstinência de drogas.

Principais sintomas da Nomofobia

Facilidades da vida na internet tornam as pessoas mais sedentárias e dependentes de tecnologia (Imagem de Luisella Planeta Leoni por Pixabay)

Importante também ficar atento aos sintomas característicos da Nomofobia, que são a dificuldade de concentração, onde o indivíduo não consegue tirar o olho do celular, as notificações chamam e ele é tomado por uma irresistível necessidade de ver e responder quase que instantaneamente, ficando até angustiado de não o fazer.

Além disso, essa pessoa sente um desejo imenso de estar conectado a todo momento, alimentando internamente uma sensação de estar perdendo algo sempre que está desconectado.  Em casos mais graves, ao se imaginar sem atualização e sem acesso aos meios sociais, a pessoa pode sentir taquicardia, falta de ar, ansiedade exacerbada e inquietação.

Dessa forma, o transtorno influencia no desenvolvimento de relações com extrema dependência emocional, gerando uma verdadeira limitação da vida.

Fato é que, não raro identificarmos pessoas extremamente irritadas ou ansiosas quando, por alguma falha, ficam sem conexão virtual. Se sentem inseguras ao extremo.

Além de estarem sujeitas a problemas posturas, dificuldades com a visão, crises de pânico, dores de cabeça, insônias, falta de apetite, crises de ansiedade e, até mesmo depressão.

A coisa é tão séria, que temos casos em que o sindrômico chega ao ponto de carregar dois aparelhos ao mesmo tempo para se precaver da falta de um deles.

Desintoxicação digital: um excelente antídoto

A Síndrome da Nomofobia reflete na verdade, uma camuflada necessidade de aceitação e pertencimento. Ela contribui para a imaturidade emocional, onde a pessoa afetada, demonstra atitudes imediatistas que denunciam total falta de controle sobre os impulsos, além de altos níveis de ansiedade e insegurança.

Claro que não podemos negar que o mundo virtual tem muito a oferecer e muito a proporcionar ao nosso cotidiano, especialmente agora, no momento em que a era tecnológica explodiu e tornou-se necessária para o auxílio e aproximação das pessoas durante o isolamento social. Facilitou e potencializou também o comércio virtual, mudando a vida de muitos que não se viam tão cibernéticos (caso dos idosos que, cada vez mais, estão interagindo nas redes).

Porém, é preciso enfrentar o mundo real, afinal não somos seres meramente virtuais. Se desconectar e se desintoxicar das redes, associando esse trabalho com terapias pontuais, pode ser um excelente antídoto contra a Nomofobia. Visto que, propiciará sérios benefícios para a saúde mental, além de resgatar relações sociais e íntimas.

Além da terapia que pode identificar quais os gatilhos e o porquê do mergulho no mundo virtual, uma pessoa afetada por essa síndrome também pode criar regras para promover um uso mais racional das tecnologias. Por exemplo, um excelente aliado é o chamado DETOX DIGITAL: uma verdadeira desintoxicação das redes e do mundo virtual.

Dicas para realizar um detox digital

Para iniciar esse processo, desligue o celular e se afaste da conexão por pelo menos 1 a 2 horas todos os dias.

Durante o período em que estiver desconectado, procure fazer atividades mais prazerosas e voltadas para si, sem a necessidade da tecnologia, como por exemplo: ler um livro, tomar um banho de mar, apreciar a natureza, ou mesmo conversar com os familiares próximos.

Com o tempo, tente ficar um dia inteiro sem os aparelhos. Aproveite também para não levar o celular para a cama quando for dormir. Deixe ele desligado ou longe de sua cama.

Portanto, existem muitas ações práticas que podem ajudar a frear e controlar o impulso por estar conectado a todo momento, diminuindo o
desconforto e a angústia por não estar conectado, favorecendo assim o bem-estar e o alívio emocional necessário para o fortalecimento de sua saúde mental.

Devemos estar atentos aos sinais, pois se o indivíduo reage mal ou tem sensações desagradáveis quando perde sua conexão virtual ou apresenta sintomas característicos aos descritos acima, o ideal é consultar um especialista em busca de um diagnóstico preciso, visando a cura da dependência patológica pelos aparelhos eletrônicos.

Além disso, é preciso encontrar outros interesses que não sejam as redes sociais ou a internet, priorizando atividades mais simples de modo offline e a socialização com amigos e parentes. Desta maneira, os pequenos prazeres da vida são retomados e o equilíbrio e a saúde física e mental agradecem.

Andrea Ladislau, doutora em Psicanálise (Foto: Divulgação)

*Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.

Contatos: Instagram: @dra.andrealadislau / Telefone: (21) 96804-9353 (Whatsapp)

Andrea Ladislau colabora para a seção Palavra de Especialista uma vez por mês. Dúvidas e sugestões para palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

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