O cantor Netinho, de 58 anos, foi diagnosticado com um câncer no sistema linfático, também conhecido como linfoma. Com histórico de complicações de saúde, como três cirurgias no cérebro, colocação de quatro stents e três AVCs sofridos em 2013, Netinho convive ainda com uma válvula cerebral permanente. Nesta quarta-feira (2), de volta ao hospital, ele gravou um depoimento encorajando outras pessoas que enfrentam a doença.
Estou com toda positividade, fé e crença de que, em breve, vou voltar a cantar como antes, vou cantar bem melhor”, disse ele, otimista. “Apesar de ser um processo muito forte e afeta o corpo todo, a reação não é igual para todas as pessoas”, contou o cantor, sobre a quimioterapia (veja o depoimento na íntegra ao final do texto).
A descoberta do câncer de Netinho foi divulgada no último dia 23, por meio de um boletim médico publicado na página oficial do artista. O cantor precisou ser hospitalizado após sentir fortes dores nas costas e perder os movimentos das pernas. Após internação, ele recebeu alta no dia 21 de março e seguia em acompanhamento onco-hematológico.
Netinho desmente fake news sobre a sua saúde
Na véspera, Netinho aproveitou o Dia da Mentira (1 de abril) para falar algumas coisas. Se algum médico, jornalista, blogueiro, estiver vendo notícias sobre mim, é mentira. Nenhum desses entrou em contato comigo”, afirmou ele em um vídeo publicado no Instagram.
Leia mais
Linfoma não Hodgkin: entenda o câncer de Suplicy, aos 83 anos
Linfomas: um câncer curável, mas silencioso que pode levar à morte
7 entre 10 pessoas desconhecem o que são linfomas: saiba mais
Linfoma não Hodgkin: entenda a doença de Jorge Aragão
Íngua é sinal de linfoma: entenda o câncer que ataca sistema linfático
Linfoma não Hodgkin mata prefeito de BH aos 77 anos
Na última terça-feira (26),o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, faleceu em decorrência de um Linfoma não Hodgkin, um tipo de câncer que afeta o sistema linfático. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Mater Dei desde 3 de janeiro, quando deu entrada com quadro de insuficiência respiratória aguda grave. A doença, que pode se manifestar de forma agressiva ou indolente, exige diagnóstico precoce e tratamento especializado.
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que para cada ano do triênio 2023-2025 sejam diagnosticados 3.080 casos de linfoma de Hogdking e 12.040 de linfoma não Hodgking. E, segundo a entidade, por motivos ainda desconhecidos, o número duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Observatório de Oncologia, entre 2008 e 2017, foi mostrado que o linfoma costuma ser diagnosticado tardiamente no Brasil. Cerca de 58% dos pacientes descobrem a doença em estágio avançado e 60% dos homens e 57% das mulheres têm um diagnóstico tardio.
Linfomas têm alto poder curativo, diz médica
De forma simplificada, os linfomas podem ser classificados como Hodgkin, mais raro e que afeta em especial jovens entre 15 e 25 anos e, em menor escala, adultos na faixa etária de 50 a 60 anos, ou não-Hodgkin, cujo grupo de risco é composto por pessoas na terceira idade (mais de 60 anos). O tipo do linfoma que acomete Netinho, nem o estágio da doença, foram divulgados.
Para a oncohematologista Mariana Oliveira, apesar de não haver prevenção por desconhecimento do que leva ao surgimento da neoplasia, a chave para deter a evolução progressiva do tumor é o conhecimento. “A boa notícia é o fato de os linfomas terem alto potencial curativo. O diagnóstico precoce é fundamental para alcançar o êxito no processo terapêutico, por isso o esclarecimento à população é essencial”, afirma.
Os sintomas em geral são aumento dos gânglios linfáticos (linfonodos ou ínguas, em linguagem popular) nas axilas, na virilha e/ou no pescoço, dor abdominal, perda de peso, fadiga, coceira no corpo, febre e, eventualmente, pode acometer órgãos como baço, fígado, medula óssea, estômago, intestino, pele e cérebro.
As duas categorias – Hodgkin e não-Hodgkin -, contudo, apresentam outros subtipos específicos, com características clínicas diferentes entre si e prognósticos variáveis. Por isso, o tratamento não segue um padrão, mas usualmente consiste em quimioterapia, radioterapia ou a combinação de ambas as modalidades”, explica Mariana Oliveira.
Em certos casos, terapias alvo-moleculares, que tem como meta de ataque uma molécula da superfície do linfócito doente, podem ser indicadas. “Estas proteínas feitas em laboratório atuam como se fosse um ‘míssil teleguiado’ – que reconhece e destrói a célula cancerosa do organismo”, ressalta o médico. Ainda, dependendo da extensão dos tumores e eficácia das medicações, pode haver a indicação de transplante de medula óssea.
Novas alternativas de tratamento
Diante dos desafios impostos pela crescente incidência da doença, novas alternativas terapêuticas vêm surgindo para combater os linfomas, especialmente para os que não respondem aos tratamentos convencionalmente indicados. “A medicina tem avançado nos últimos anos principalmente através da terapia celular”, afirma a especialista.
Ela conta que o autotransplante, tratamento no qual é realizada uma quimioterapia mais intensa seguida pela infusão da medula do próprio paciente, é uma delas. A terapia com imunoterapia é outra. Com bons resultados apontados por estudos e pesquisas de referência global, o tratamento estimula o organismo do paciente a reconhecer e combater as células tumorais.
De forma bastante simplificada, podemos dizer que os imunoterápicos desativam os receptores dos linfócitos e, assim, permite que as células doentes sejam reconhecidas. Isso faz com que o organismo volte a combater o tumor – e sem causar efeitos colaterais comuns a outras medicações habitualmente adotadas nos processos terapêuticos”, finaliza Mariana Oliveira.
‘Estou com toda positividade, fé e crença’, diz Netinho
“Bom dia, hoje é dia 2 de abril de 2025. Eu sou o Netinho, estou de volta aqui no Hospital Aliança Estadual em Salvador, para a segunda fase do meu tratamento. Fiz a primeira, foi ótima. Estou na segunda fase e gostaria hoje de desmistificar um pouco essa história em relação ao câncer e a quimioterapia, e contar que quando eu vim fazer a primeira terapia, eu vim com um pouco de medo, porque o nome quimioterapia espanta muita gente. Eu mesmo não sabia o que era.
“Achei que era uma coisa muito invasiva, que ia cortar meu corpo. Não entendi muito bem. E quando instalaram a quimioterapia, eu perguntei: ‘E a quimioterapia vai começar que horas?’, [e disseram] ‘Já começou, Netinho’. Então, gente, não tenha medo, vocês que estão passando por isso ou podem vir a passar no futuro. Venham com a mente calma, tranquila, positiva, porque a quimioterapia, apesar de ser um processo muito forte e afeta o corpo todo, a reação não é igual para todas as pessoas.”
“Então, não é porque você vai passar por uma quimioterapia que necessariamente terá que ter os mesmos efeitos que aquela pessoa A, B ou C passaram. Depende da sua genética e pelo lugar, depende também de tudo o que você fez na sua vida para a sua saúde… Me senti na obrigação de desmistificar um pouco essa coisa pesada que existe em relação ao câncer”. “Estou com toda positividade, fé e crença de que, em breve, vou voltar a cantar como antes, vou cantar bem melhor. Bom dia para todos. Um abraço”.
Fonte: Oncoclínicas e CNN Brasil