Por Miriam Pontes de Farias*

Nós, humanos, somos seres sociáveis. Temos necessidade de pertencer aos grupos e, quando isto não ocorre, nos sentimos rejeitados e/ou excluídos. O primeiro grupo no qual pertencemos é a família. É nela que nos sentimos protegidos, aceitos, e aprendemos a nos relacionar com o outro.

Depois vem a vizinhança, as comunidades religiosas ou culturais e, enfim, a escola; esse primeiro ambiente em que estaremos sozinhos, sem a presença protetora de familiares. Onde aprenderemos que as diferenças existem e devemos conviver com elas. E, não raro, também descobrimos que a “diferença” pode estar em nós mesmos.

Mas o mundo mudou e ficou digital. E muito antes da escola, as crianças já estão expostas às redes sociais. Redes virtuais, de acesso fácil e rápido, para o bem ou para o mal.

Se por um lado a Internet oferece acesso à informação e amplia a visão de mundo, com grupos virtuais de variados interesses, por outro, as redes sociais oferecem um mundo idealizado, glamoroso e efêmero. Tudo muda muito rápido e não acompanhar esse ritmo é ficar “de fora”, excluído.

Bullying é exemplo de rejeição agressiva

A exclusão dói. O bullying é um exemplo da rejeição agressiva, mas não ter seguidores, não receber “likes”, não estar nos grupos de WhatsApp, não seguir os artistas preferidos, enfim, não saber em tempo real, de tudo o que acontece, também dói.

Nas redes sociais, temos a ilusão que estamos pertencendo aos grupos de amigos, mas de fato, quantas pessoas do grupo você conhece? Você pode ter milhares de seguidores, mas quantas pessoas você se relaciona realmente?

Com a enorme quantidade de pessoas que temos nos grupos e como seguidores, é humanamente impossível nos relacionar com todos eles; não há vínculo, não há proximidade, não há intimidade. Como diz o filósofo Bauman, são “relações líquidas”, efêmeras, superficiais.

Vivemos um tempo em que todo mundo está prestando atenção em todo mundo e em ninguém em especial. Todos em volta da mesa, atentos ás notícias do mundo, sem enxergar quem está ao lado. E, de repente, chega uma desagradável sensação de solidão, de estar de fora, de estar sozinho.

Então, corre-se para as redes sociais para sentir-se conectado de novo. Sem perceber que os momentos de solidão, de estarmos em conexão com a nossa essência, para nos reconhecermos em nós mesmos, é fundamental para o processo de socialização. E vice-versa.

Se nos deixarmos levar pela avalanche de informações velozes da modernidade, acabamos nos perdendo de nós mesmos. E se não sabemos quem somos, não sabemos o que oferecer ao outro. Nem o que queremos receber desses outros. Ou seja, a solidão é um estado necessário para a nossa existência e, principalmente, para nosso processo de socialização.

Muitas pessoas têm pavor da palavra solidão, mas existem várias atividades que para realizarmos precisamos estar sozinhos, que ninguém pode fazer por nós. Por exemplo: ler um livro ou estudar é uma atividade solitária, ainda que o cérebro esteja em pleno desenvolvimento.

Em momentos de criação, os artistas frequentemente precisam de momentos solitários, para deixar fluir o seu potencial criativo. Quando nos conectamos com o divino, seja no sentido espiritual ou meditativo, estamos sozinhos. Até mesmo quando fazemos nossas necessidades fisiológicas, é um momento solitário.

Quando identificar uma solidão patológica

Quando podemos identificar que a solidão não é mais saudável e está patológica? Tudo na medida certa é saudável. Os nossos sentimentos e emoções são sinalizadores que algo está bem ou mal conosco. A solidão se torna doentia quando o momento solitário não é produtivo e está carregado de desesperança, sofrimento e dor.

Neste caso podemos sentir muita tristeza, desânimo e angústia. Há um vazio enorme dentro de nós, procrastinamos as tarefas que antes gostávamos de fazer, queremos estar isolados muitas horas nas redes sociais, nos fechamos e sofremos. Podemos estar em uma festa, ou no Maracanã, ou até mesmo em um show com muita gente, mas nos sentimos muito sós.

Em alguns casos a solidão pode estar relacionada com a depressão, que é uma doença que precisa ser tratada e pode levar ao suicídio. Lembrem-se: A VIDA é o nosso BEM MAIOR.

O mundo digital não surgiu para dominar nossas vidas

O mundo digital surgiu para nos auxiliar e não para dominar as nossas vidas. Percebo que estamos ficando cada vez mais dependentes e reféns dele, por isto convido você a resgatar a sua essência!

Quando perceber que está difícil se afastar do vício das redes sociais procure a ajuda profissional de um psicólogo. Ele poderá te ajudar a se reconectar com você e com o seu propósito de vida.

É necessário resgatar a nossa essência, humanizar as nossas relações, nos conectar mais conosco e com outras pessoas. A gente se constrói na relação com o outro.

Desejo que você se sinta pertencente ao mundo digital, tenha seus momentos solitários saudáveis e se relacione com pessoas de verdade, criando relações afetivas!

Miriam Pontes de Farias

Psicóloga (CRP 05/25815), pós-graduada em Hipnose Clínica, professora, conferencista internacional, palestrante, coordenadora e supervisora de grupos há mais de 20 anos. Foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH) e ministra cursos de Hipnose Clínica, Regressão de Memória e Auto-hipnose.

Contatos: miriam.psi.hipnose@gmail.com / facebook.com/AHipnose / Instagram: @miriam.psi.hipnose /www.miriamhipnose.com.br Tel.: (21) 99221-8462 (WhatsApp)

Miriam escreve para a seção ‘Palavra de Especialista’ uma vez por mês, aos sábados. Contatos: palavradeespecialista@vidaeacao.com.br.

Leia outros artigos de Miriam Pontes de Farias 

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *