Nem sempre os sintomas das doenças são claros. Uma dor de estômago pode indicar um infarto em curso, um sangramento na gengiva pode ser sinal de diabetes. Nesse sentido, aquela dor de ouvido ou mesmo o entupimento do canal auditivo, bem como uma dor de cabeça constante podem representar um problema que pouca gente conhece: a DTM, sigla para Disfunção Temporomandibular.

Apesar do nome estranho, essa doença atinge cerca de 30 milhões de pessoas no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, as DTMs atingem cerca de 10 milhões de brasileiros, de acordo com dados do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial.

A disfunção tem uma incidência maior em mulheres e conta com alguns fatores de risco, além do gênero, como a idade, quadros de estresse ou trauma e anormalidades na face. Os problemas causados pela DTM podem atingir tanto adultos quanto crianças e adolescentes.

Um estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Baseadas em Evidências (COBE – UFSC) e divulgado como matéria de capa do Journal of American Dental Association (JADA) identificou que uma em cada seis crianças e adolescentes apresenta sinais clínicos de alterações na articulação temporomandibular (ATM). A pesquisa é resultado de uma revisão em 11 trabalhos já existentes e avaliações em mais de 15.000 indivíduos com idade entre 3 e 18 anos do mundo todo.

Uma pesquisa feita com crianças entre seis e oito anos reportou que aproximadamente 35% dessas crianças com pelo menos um sinal de DTM. Os dados  alertam aos dentistas sobre a importância de procurar sinais de DTM em crianças e adolescentes.

“A infância é o período da vida onde o indivíduo adquire hábitos orais parafuncionais ou não-funcionais. Os mais frequentes são os de sucção não-nutritiva, por exemplo as chupetas. Roer unhas, mascar chiclete e o bruxismo do sono e em vigília aparecem como prevalentes em idades maiores. Essas práticas são danosas, uma vez que solicitam de forma excessiva os músculos da mastigação e geralmente levam à fadiga muscular”, pontua André Porporatti, que é membro fundador da Sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial (SBDOF) e  um dos pesquisadores do COBE-UFSC.

Sinais e sintomas são os mesmos que em adultos

Os pais ou responsáveis devem ficar atentos ao aparecimento de queixas e às manifestações de dor na região. Os sinais e sintomas da DTM em crianças são os mesmos dos adultos: dor, som na articulação e limitação dos movimentos da mandíbula. “Os pais devem prestar atenção se a criança de queixa de dor de cabeçador na região do ouvido ou ainda se evita alimentos duros”, explica dentista Adriana Lira Ortega, mestre em DTM e membro da Sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial (SBDOF).

Mesmo com os estudos, a especialista acredita que o número de casos de DTM infantil pode ser, na realidade, ainda maior. Muitas vezes, o paciente não tem o diagnóstico correto da doença. “Os sintomas da DTM infantil podem passar despercebidos ou serem confundidos com outras condições de saúde. Isso pode acontecer pela falta de maturidade da criança em perceber as alterações ou até mesmo de verbalizá-las de forma adequada”, diz ela.

As crianças nem sempre conseguem expressar o que sentem. Os sinais e sintomas de Disfunção Temporomandibular (DTM) mais comuns são: a sensibilidade muscular à palpação, dor e fadiga muscular, ruídos articulares na mandíbula, abertura restrita de boca, travamentos de boca, movimentos mandibulares assimétricos, dores na cabeça e na face e sintomas otológicos (zumbido, sensação de ouvido cheio, dor de ouvido)”, destaca Porporatti.

De acordo com ele, a prevalência de sons na ATM,  como estalos, cliques e crepitações é de 14%. Os sinais mais frequentes foram os estalos na mandíbula (barulhos próximo ao ouvido) com 10% dos casos seguido de limitação mandibular (dificuldade em abrir a boca) com 2,3%.

Pais devem monitorar: nem sempre é preciso tratamento

Em muitos casos, o sinal clínico da DTM não representa necessidade de tratamento. “Alguns casos de sinais ou sintomas na infância devem ser apenas monitorados e servir de alerta para o profissional de que aquela criança pode apresentar fatores de risco para o desenvolvimento da DTM”, afirma a especialista.

De acordo com a dentista, o tratamento para as crianças e adolescentes que sofrem com a DTM seguem opções minimamente invasivas e procedimentos reversíveis. “São utilizadas técnicas com enfoque cognitivo-comportamental, exercícios terapêuticos – com recursos térmicos e de movimento – e, em casos, específicos, dispositivos intrabucais, como placas”.

“Muitas pessoas convivem com o problema, tendo dores de cabeça, de ouvido e faciais, sem chegarem ao diagnóstico correto, o que as obriga a utilizar constantemente analgésicos e relaxantes musculares. Vale destacar que de 5% a 10% dos casos diagnosticados precisam passar por tratamento cirúrgico”, explica o cirurgião bucomaxilofacial e coordenador do setor de ATM do Hospital CEMA, Érico Vlasic Campello.

Sintomas, diagnóstico e tratamento

A DTM é o nome que se dá às disfunções que atingem as articulações temporomandibulares, também conhecidas como ATMs. Elas ficam localizadas entre o maxilar e o crânio, na região anterior à orelha, em ambos os lados e podem causar dor e desconforto na região da mandíbula. “Essas articulações são importantes, pois são responsáveis por promover movimentos mandibulares para frente, para trás e para os lados. São elas que nos permitem abrir e fechar a boca, mastigar, engolir e falar”, detalha o especialista.

Entre os sintomas mais comuns estão a dificuldade, dor, limitação para abrir ou movimentar a boca, estalos na ATM, travamento na mandíbula, dores na face e perto do ouvido, sensação de cansaço nos músculos da face e alguns tipos de dores de cabeça. Outros sintomas menos comuns incluem dor no pescoço, ombro, nuca e costas, inchaço ao lado da boca e/ou da face, desvios da mandíbula, surdez momentânea, vertigem ou zumbido e ouvido tampado.

Em casos avançados, o paciente não consegue fechar a boca, o que exige atendimento em pronto-socorro para recolocar a mandíbula na posição original”, afirma o especialista.

Diagnóstico

Os procedimentos de diagnóstico são similares ao de um adulto, incluindo anamnese e exame físico – avaliação das ATMs, músculos do rosto, dentes, arcadas dentárias, seios maxilares, etc. O professor ainda ressalta que os sintomas, algumas vezes, não são problemas que precisam de tratamento, no entanto, as orientações de um especialista em Dor Orofacial e DTM são fundamentais para a identificação e controle dos fatores de risco.

Para chegar ao diagnóstico, o especialista pode pedir exames de tomografia, radiografia e ressonância magnética. Essa última é a melhor forma de descobrir tais disfunções, pois produz imagens detalhadas dos tecidos moles. “Por isso, é importante recorrer a um especialista, caso desconfie de que sofre de DTM, para fazer o tratamento adequado e recuperar a qualidade de vida”, finaliza.

A boa notícia é que a DTM tem tratamento, que visa, principalmente, minimizar a dor e restabelecer a função temporomandibular. As formas de tratamento vão desde medicamentos, terapias de reabilitação oral e/ou aplicação ortopédica, mudanças de comportamento, procedimentos simples realizados em consultórios e cirurgia. Tudo vai depender da gravidade do caso.

Da Redação, com Assessorias

 

 

 

Medidas preventivas DTM, tanto para adultos quanto para crianças, se baseiam, principalmente, em hábitos que podem evitar o desenvolvimento e/ou agravamento da doença. “A boa qualidade do sono e o controle de hábitos orais parafuncionais são exemplos de atitudes preventivas para a DTM”, finaliza a especialista.

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