Em 2024, 40 milhões de pessoas foram deslocadas por desastres relacionados à água, destacando a urgência de atenção global para o tópico. As mulheres são as que mais sofrem com a insegurança hídrica – sendo responsáveis pela coleta de água em 7 de cada 10 domicílios – e enfrentam riscos agravados pelas mudanças climáticas, incluindo impactos sobre saúde, segurança, educação e meios de subsistência.
Os dados reforçam os esforços para fortalecer a responsabilização e a ação coletiva diante da crise climática, com o objetivo de colocar água, saneamento e questões de gênero no centro da adaptação climática e do controle de emissões.
Com este objetivo, a parceria global Sanitation and Water for All (SWA), sediada no Unicef, lançou novos frameworks na COP30, em Belém, aproveitando a tração gerada pela Reunião de Ministros do Setor de 2025, quando líderes globais endossaram o Pacto de Alto Nível sobre Segurança e Resiliência Hídrica, em outubro.
Lançado em 12 de novembro, o briefing de políticas intitulado “Crises convergentes e oportunidades potenciais: Gênero, clima, saneamento e água” traz recomendações baseadas em evidências para que líderes promovam igualdade de gênero e acesso equitativo à água e ao saneamento, além de reforçar a necessidade urgente de posicionar mulheres e meninas como líderes e detentoras de conhecimento nos esforços de adaptação climática.
Documento de política sobre gênero e clima na COP30
SWA também atualiza definição de serviços de água, saneamento e higiene resilientes ao clima
Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e membro do Conselho de Liderança Global do SWA, autora de um dos prefácios incluídos no Gender Policy Brief e que o apresentou durante a COP30, afirmou:
Para alcançar uma adaptação verdadeiramente transformadora, políticas sensíveis ao gênero devem desmontar desigualdades sistêmicas na governança de água e saneamento. Os marcos nacionais precisam incorporar a igualdade de gênero como um componente obrigatório e responsável dos serviços de água e saneamento resilientes ao clima.”
“A mudança climática deixou de ser uma ameaça distante. Ela já está aprofundando desigualdades, especialmente para mulheres, crianças e comunidades marginalizadas que menos contribuíram para as emissões, mas sofrem os maiores impactos. A igualdade de gênero é central para a justiça social e um poderoso motor de resiliência climática – que começa verdadeiramente quando mulheres e grupos marginalizados são colocados como líderes, e não apenas como beneficiários”, comenta Anjani Kapoor, chefe de políticas da SWA, falando durante o lançamento do documento na COP30.
Além disso, a SWA atualizou sua definição fundamental de serviços WASH resilientes ao clima, inicialmente apresentada na COP29 no Azerbaijão. A versão aprimorada incorpora amplo feedback de governos e parceiros, apresentando um novo Framework de Resposta, que oferece um conjunto de opções adaptativas nos níveis transfronteiriço, nacional e local.
Reconhecida como a “COP da implementação”, a COP30 recebe o documento como orientação prática e oportuna, baseada nos contextos locais, apoiando a implementação efetiva da Meta 9a do Framework dos Emirados Árabes Unidos para Resiliência Climática Global. O documento reforça a importância da gestão de riscos climáticos específicos a cada contexto como elemento essencial para transformar compromissos em ações de adaptação concretas.
Pacto de alto nível sobre segurança e resiliência hídrica
A SWA promove responsabilização por meio de parcerias multissetoriais robustas, indicadores transparentes de monitoramento e avaliação baseada em evidências, convertendo compromissos políticos coletivos em resultados tangíveis por meio do Pacto de Alto Nível sobre Segurança e Resiliência Hídrica.
O Pacto convoca governos a colocar água e saneamento no centro da ação climática, redução de riscos de desastres, proteção da biodiversidade e crescimento econômico sustentável. Ele funciona como um marco político vivo para orientar esforços conjuntos a partir de 2025, com revisões regulares de progresso em plataformas globais como a COP30, o Baku Dialogue on Water and Climate e a Conferência da ONU sobre Água de 2026.
Até o momento, 26 governos e 23 organizações já endossaram o Pacto – uma aliança crescente que fortalece a gestão sustentável da água em todos os níveis e estabelece as bases para os direitos humanos, prosperidade e estabilidade de longo prazo.
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“Não existirá justiça climática sem justiça de gênero”, diz ministra das Mulheres
Pasta promove várias atividades no Dia de Gênero na COP30, em Belém (PA), com encontro com catadoras de material reciclável e mulheres jovens
Vou me reunir com catadoras de material reciclável, vamos fazer debates sobre o Plano Clima e a participação das mulheres em todas as iniciativas. Temos tido atividades com a juventude, com as mulheres jovens de vários países. As mulheres estão ocupando um espaço fundamental nessa COP”, afirmou a ministra.
A ministra Márcia Lopes (Mulheres) foi enfática nesta quarta-feira (19) ao falar sobre o papel que as mulheres desempenham nos esforços globais para combater os efeitos da mudança do clima. “Não existirá justiça climática sem justiça de gênero”, disse, em entrevista no Bom Dia, Ministra. Márcia Lopes conversou diretamente de Belém (PA), onde nesta quarta e quinta (19 e 20) a agenda da COP30 será marcada pelas pautas tratadas no Dia de Gênero (Gender Day) e pela campanha mundial pelo fim da violência contra a mulher.
Não existirá justiça climática sem justiça de gênero. Vamos fazer debates com a participação das mulheres em todas as iniciativas. Temos tido atividades com a juventude, com as mulheres jovens de vários países. As mulheres estão ocupando um espaço fundamental nessa COP”, disse a ministra das Mulheres, que tem agenda também com um grupo de mulheres catadoras de materiais recicláveis.
Segundo Márcia Lopes, a agenda em torno do Dia de Gênero permite que mulheres indígenas, negras, pescadoras, das águas, campos e florestas participem mais intensamente das discussões. “Temos as meninas aqui também, que sempre vêm ao nosso encontro, dizendo que são meninas, mas que são cuidadoras, que também querem atenção, proteção, que querem mais acesso às políticas e isso é importante”.
Cartilha Mulheres nas Ações Climáticas
Outro ponto destacado por Márcia Lopes foi a cartilha Mulheres nas Ações Climáticas, distribuída durante a COP30. Segundo a ministra, a cartilha será distribuída em escolas, para que professoras e professores possam inserir o debate no contexto de sala de aula. “Nada melhor do que a educação, do que a formação, do que a mudança de rumo das visões em cada geração”.
Está fazendo sucesso. Precisamos ter um padrão de informação, de consciência. A gente vai fazer chegar por meio digital a toda a mídia do Brasil. Todos os dias, temos nove, dez atividades para conversar com o povo brasileiro e com mulheres de tantos outros países, de todos os continentes”.
A ministra detalhou ainda o protocolo internacional para o fortalecimento de mulheres e meninas em situações de emergência climática e desastres. A iniciativa é desenvolvida em parceria com organismos internacionais no âmbito do Plano de Aceleração de Soluções (PAS) da conferência em Belém (PA).
Nós já temos as diretrizes para que toda vez que houver uma situação de emergência, de calamidade, de desastres, as mulheres saibam como agir e buscar apoio. Ao mesmo tempo em que são as mais impactadas, as mulheres são as mais capazes de criar soluções alternativas em relação à reconstrução das casas, à busca da alimentação, ao cuidado dos filhos, da família, dos vizinhos. As mulheres são sempre muito solidárias”, explicou.
O legado da COP30 para as mulheres
Questionada sobre o legado da COP30 para as mulheres, Márcia Lopes detalhou como foi montada a preparação para o evento e disse que a programação incluía o antes, o durante e o depois da conferência.
Implantamos um curso de informação para o trabalho junto com as mulheres em todas as dimensões das suas vidas, que se chama Diplomacia Popular. Iniciamos com 100 pessoas e vamos agora avaliar e continuar para que, de fato, as mulheres se sintam protagonistas e nos ajudem a reverberar, reproduzir os parâmetros, os princípios. Vamos sair daqui fortalecidas”.
PLANO NACIONAL – A ministra ressaltou ainda que o Plano Nacional de Políticas Para as Mulheres tem sido discutido com a sociedade. “Estamos no momento de construir o nosso Plano Nacional e vamos conversando, adequando realidades, procurando dar prioridade àquilo que as mulheres de cada estado estabelecem como necessidades para a melhoria da qualidade de vida, da convivência, da participação e do protagonismo na sociedade”, afirmou.
Segundo a ministra, as discussões em torno do plano envolvem, em todas as áreas, quase mil conferências livres nas esferas municipais e estaduais, com ampla participação popular.
As mulheres tiveram a liberdade de se reunir. Mulheres jornalistas fizeram conferência livre, empresárias, catadoras de material reciclável. Quando a gente faz as conferências, a gente abre caminho. Isso é democracia. E agora, com 60 propostas prioritárias, vamos elaborar o Plano Nacional. As mulheres estão mais mobilizadas”.
Com Assessorias




