A vida nos prega peças inesperadas e, muitas vezes, bastante duras. Foi assim na manhã de terça-feira (14), quando a amiga Luiza Xavier me ligou. Gelei. Na era do Whatsapp, receber ligação no celular virou sinônimo de má notícia, o ‘telegrama’ de antigamente. Dito e feito. A sempre sorridente e bem-humorada Mônica Manfredini, de 52 anos, nossa colega do Reinventar JornalistasRJ, que colaborava para o recém-criado Blog Quarentenas, sofrera um infarto fulminante na madrugada.
Um susto enorme, ainda mais nesses ‘tempos de pandemia do novo coronavírus’ – expressão que já virou lugar comum nessas semanas sinistras que vivemos -, quando as vítimas deixam de ser números e vão ganhando rostos conhecidos. Na mesma manhã, recebíamos as notícias de que mais dois jornalistas cariocas partiram também precipitadamente – o subeditor do portal CanalEnergia Oldon Machado, 43, que lutava contra um câncer, e o editor de imagens do SBT, José Augusto Nascimento Silva, o Naná, 57, vítima da covid-19.
Um choque triplo para quem ainda sobrevive de Jornalismo e Comunicação no Rio de Janeiro e vê, a cada dia, tantos profissionais indo embora, sem ao menos termos a chance de dizer ‘adeus’. Aos poucos, a ficha ia caindo… E se o conteúdo da notícia sobre Mônica era inacreditável, a forma como reagimos a ela já deveria ser uma velha conhecida… ainda mais para quem, como eu, já perdeu pai, mãe e irmão, todos precoce e brutalmente.
Mas a morte sempre nos surpreende e nos confronta com aquilo que jamais desejaríamos admitir: nossas fraquezas, egoísmo e a negação da finitude da vida. Quase sempre é um ‘tapa na cara’ da nossa realidade frenética de deixar tudo para amanhã: as conversas que não priorizamos, os desejos quase sempre adiados, o pedido de perdão que não externamos, as promessas não cumpridas.
Comigo a mais forte foi a última sensação. Há tempos, nossa animada reinventante contou que estava trabalhando com “reflexo” e me convidou para conhecer o espaço terapêutico onde estava atuando, em Copacabana. Adiei, adiei e acabei não conseguindo ir, pelo alegado e injustificável motivo de sempre: falta de tempo, de me priorizar e permitir momentos de cuidado, em meio à rotina corrida do dia a dia (sim, muitos de vocês me apontarão o dedo – “casa de ferreiro, espeto de pau”… ou “façam o que digo, não façam o que eu faço”).
Agradeci a gentileza do convite e sugeri a Mônica fazermos uma entrevista para a seção SuperAção do ViDA & Ação. Além de uma boa história para contar, era a chance de mostrarmos um pouco mais sobre essa técnica terapêutica milenar que, a partir de toques firmes e relaxantes em pontos energéticos nos pés, trabalha também a nossa mente. Uma prática integrativa, como tantas outras agora vetadas nesses estranhos tempos atuais, em que o contato físico se tornou um perigo à vida – o que nos torna tristes, solitários e distantes porque somos seres cinestésicos que precisamos do toque pra nos sentir mais vivos e humanos.
O tema tinha e tem alto valor jornalístico para um site pretensamente especializado em saúde. Mas por pura falta minha, nos atropelos da vida, com os temas factuais que nos movem, virou mais uma promessa que não consegui cumprir e que só agora, tomada de remorso, passadas as primeiras 24 horas da pancada inicial da passagem de Mônica, tomo coragem para assumir. No egoísmo inerente do ser humano, tento não me redimir, mas ao menos minorar esse duro golpe na consciência, sem ousar pedir-lhe desculpas porque jamais me perdoarei.
Sei que agora não mais adianta este espaço, meu erro não será reparado, mas me alivia uma única certeza: Mônica partiu cedo, tinha muito o que compartilhar e nos ensinar. Deixou um legado, muitos aprendizados e uma legião de amigos e admiradores. E sobretudo: partiu serena e feliz. Foi reinventar-se em outro plano. Que sua alma descanse em paz. E que suas gargalhadas e seu amor pelo ‘cuidar’ do outro se perpetuem. Eternamente. Os pés – e a aura – dos anjos agradecerão seus toques suaves.
Superação – Mônica Manfredini
Jornalista vira terapeuta e usa ‘reflexo’ para aliviar estresse
Jornalista especializada em Saúde, Mônica Manfredini, decidiu mudar os rumos da sua vida profissional num momento de grandes transformações e incertezas nas redações de grandes veículos da cidade. Em 2016, passou a frequentar os encontros do Reinventar no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde nos conhecemos. Estimulada pela troca de conhecimentos e histórias de superação, decidiu investir no jornalismo digital. Em 2017, criou o blog Saúde Bem Explicada, onde escrevia sobre temas diversos, entrevistando vários especialistas.
Em 2018, Mônica decidiu fazer a grande reinvenção da sua vida. Apaixonou-se pelas práticas integrativas complementares e se tornou terapeuta. Primeiro, especializou-se em Reflexologia Podal, uma técnica milenar egípcia que consiste em massagear e aplicar leve pressão em áreas reflexas dos órgãos do corpo nos pés. Depois, passou a estudar e aplicar outras terapias também, como as Barras de Access.
Sempre trabalhei muito na área de saúde no decorrer dos mais de 25 anos de formação em Jornalismo. Hoje me sinto muito feliz em promover o bem-estar e o equilíbrio nos pacientes por meio da Reflexologia Podal. O feedback que tenho recebido de alívio de dores em geral e estresse demonstra que esta terapia pode complementar os tratamentos médicos. Esses resultados já valem a minha reinvenção profissional”, contou ela.
A Reflexoterapia Podal atua na desobstrução dos percursos neurais e promove um relaxamento profundo, favorecendo os processos curativos do próprio organismo. Os principais resultados percebidos logo após a primeira sessão incluem alívio de dores, redução de estresse, alívio dos sintomas da menopausa, das dores na coluna e das provenientes da artrite, além de promover uma sensação de bem-estar. Com a técnica, é possível evitar o aparecimento de doenças físicas e mentais, além de reduzir os sintomas decorrentes de questões emocionais já existentes, como depressão e ansiedade.
Pacientes relatam benefícios
Pacientes atendidos por Mônica no Espaço Toque Vital, em Copacabana, relataram os resultados obtidos. “Após as sessões a sensação de leveza nas pernas e nos pés é tão grande que consigo andar melhor. As dores diminuem muito e o bem-estar me deixa satisfeita”, disse a aposentada Léa Menezes, de 92 anos, que sofre de artrose.
A tradutora Cláudia Hussak procurou a Reflexologia para tratar a dor na coluna, a tonteira e o zumbido decorrentes de problemas na cervical. “Com a estimulação podal, as tonteiras desapareceram e o zumbido diminuiu muito. Além disso, o sono é reparador”, atestou.
Para o psiquiatra Arnaldo Guimarães, as sessões de Reflexologia levam a um relaxamento profundo e ao mesmo tempo a um revigoramento após o término. “Durante vários dias após receber a técnica, percebo a mesma sensação de relaxamento. Ao longo da sessão durmo muito. Melhorei também o meu sistema urinário”, contou.
Como surgiu a reflexologia podal
Em busca de técnicas para alívio da dor, o otorrinolaringologista americano William Fitzgerald observou, no início do século XX, que havia muitas pesquisas em andamento na Europa sobre o funcionamento do sistema nervoso e os efeitos da estimulação dos percursos sensoriais no resto do corpo. Ele constatou que para que todo o organismo funcionasse em harmonia era preciso liberar as energias positivas por meio de um trabalho nas zonas longitudinais dos pés. Dessa forma, a energia pode fluir em todas as partes
do corpo, como órgãos, músculos e glândulas.
Fitzgerald, considerado o criador da Reflexologia moderna, afirmava que os bloqueios energéticos significam que algumas áreas não funcionam bem ou estão prestes a contrair uma doença. De acordo com a terapia zonal, pelas linhas imaginárias ao longo do pé, a energia percorre todo o corpo para que o organismo funcione em harmonia. Essa conexão energética deve permanecer aberta para garantir uma boa saúde. Ao manipular as zonas reflexas do pé, um sinal é emitido ao longo do sistema nervoso até chegar ao cérebro que estimula os órgãos internos a regular e otimizar o seu funcionamento.
Pesquisas comprovam benefícios
Entre os benefícios da Reflexologia Podal estão a melhora da circulação sanguínea e do trânsito intestinal, a eliminação de detritos orgânicos e toxinas, o estímulo do sistema imunológico e o desbloqueio de áreas congestionadas energeticamente a fim de evitar o surgimento de doenças, além de ajudar na recuperação pós-cirúrgica aliviando a dor por meio da liberação de endorfinas.
De acordo com o National Board of Health Council (Dinamarca, 1995), 220 pacientes que apresentaram dores de cabeça tratados por 78 reflexologistas num período de três meses, 16% relataram que se sentiram curados, 65% afirmaram que a Reflexologia ajudou a diminuir a dor e 18% não constataram alteração.
O relatório da Beijing International Reflexology Conference (China, 1996) divulga que entre 50 mulheres entre 20 e 51 anos tratadas durante dois anos com a Reflexologia e que sofriam com inflamação pélvica, distúrbio menstrual, infertilidade e cisto no ovário, 84% declararam que seus sintomas desapareceram totalmente e 16% que eles foram eliminados em grande parte.
Quarenta mulheres entre 20 e 60 anos participaram de um estudo do FDZ-Danish Reflexology Association (1992), para determinar o impacto da reflexologia na constipação crônica. O resultado foi a redução de 4,4 para 1,8 no número de dias entre as evacuações. Em relação à diabetes tipo 2, um total de 32 portadores foram divididos em dois grupos. Um recebeu tratamento convencional com agente hipoglicêmico e reflexologia e o outro apenas o agente hipoglicêmico. Após 30 dias, o grupo que havia recebido a reflexologia apresentou diminuição do nível de glicose no sangue e o grupo tratado apenas com a medicação não apresentou qualquer mudança significativa.
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Mônica Manfredini, jornalista, amiga, mãe, esposa e filha dedicada, nos deixou na madrugada deste 13 de abril de 2020. Seu sorriso contagiante, seu amor pela vida e sua enorme vontade de avançar sempre nos fará falta, ainda mais nesse momento mundial de grande incerteza. Para onde vamos? O que esperar do amanhã? O que irá nos acontecer?
Em todos os grupos e projetos dos quais participava, Mônica deixa um vazio imenso. No entanto, ironicamente (o que, afinal, é a vida senão uma grande ironia?) deixa também esperança. Sim, sua partida abrupta, causada por um infarto fulminante, nos revela que é possível mudar, transformar o que não nos satisfaz mais e encontrar novos caminhos para a felicidade. E tudo isso agora, nesta vida, neste instante.
A trajetória recente da Mônica é prova de que o que queremos está ao nosso alcance, desde que estejamos verdadeiramente dispostos a enfrentar a dor e a delícia de sair da casca, trocar de pele, deixar o casulo ou outra analogia qualquer que explique o renascer, o reinventar, o recomeçar.
Depois de uma longa e bem-sucedida carreira como assessora de imprensa, Mônica se viu diante das mudanças profundas em que o jornalismo e a comunicação foram mergulhados. E decidiu mudar. Foi uma das primeiras a frequentar os eventos do projeto ReinventarRJ, onde a conheci. Sempre alegre, animada, pronta para abraçar e oferecer um incentivo, ela descobriu um novo caminho profissional. Estudou, pesquisou e se tornou terapeuta, passando a aliviar a dor do outro com sessões de Reflexologia e Barras de Access.
Havia encontrado seu propósito em um período da vida em que muitos já não conseguem enxergar nada mais que imagens amareladas do sucesso alcançado em tempos passados. Recentemente, por estar sempre em movimento, pôde unir a nova atividade profissional com a experiência da escrita ao colaborar com o blog Quarentenas.com, que reúne mulheres, profissionais de comunicação, baseadas em diversos países.
Mônica foi uma autêntica representante do movimento Reinventar. Uma luz para todos nós que seguimos em busca de algo maior, de uma vida mais digna e justa. Obrigada, Mônica! Voe cada vez mais alto, querida amiga. (Por Luiza Xavier, no Grupo Reinventar JornalistasRJ)