A pandemia trouxe muitas mudanças para a vida das pessoas. Alguns costumes foram excluídos da nossa rotina, como festas e encontros presenciais. Outros, precisaram ser adaptados, como o trabalho remoto e as pausas para aquele cafezinho à tarde. Mas para muita gente, a rotina é a mesma: acordar, tomar uma xícara de café e sair para trabalhar.
Alguns preferem comprar e tomar no caminho para o trabalho e têm aqueles que esperam chegar na empresa para tomar a primeira xícara do dia. Para muitos o ditado é verdade: a vida começa depois do café! A bebida estimula, nos faz viajar pelos seus aromas, envolve pessoas e traz as melhores lembranças!
Mesmo durante esse período difícil de isolamento, o brasileiro manteve a sua preferência pela bebida, que hoje ocupa o segundo lugar das mais consumidas no país. Nem o fechamento das cafeterias, por conta das restrições de movimentação das cidades, não diminuiu o consumo do café. Apenas em março, a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) registrou um crescimento de cerca de 35%. O brasileiro passou a consumir de três a quatro xícaras, em média, por dia.
Dados divulgados pela entidade revelam que o Brasil segue sendo o segundo maior consumidor de café do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com uma diferença de 6 milhões de sacas. Somos ainda o maior exportador do produto e responsável por, aproximadamente, um terço da produção mundial. Neste 14 de abril, em que é celebrado o Dia Mundial do Café, que tal sabermos um pouco dessa combinação tão popular e apreciada?
Dupla café com leite faz bem para a saúde?
Arroz e feijão, queijo e goiabada, alface e tomate. Assim como no universo sertanejo, na culinária as duplas também sempre fazem muito sucesso. E uma das parcerias mais bem sucedidas na alimentação brasileira é sem dúvida o tradicionalismo café com leite, ou leite com café, como preferir.
De acordo com a nutricionista Lys Ane Souza Araújo, quando consumido com moderação, o café, por conta de seus principais componentes, a cafeína, reduz a sonolência e o cansaço mental, melhora a capacidade de concentração e é uma fonte rápida de energia. “Alguns estudos sugerem a associação benéfica do consumo do café no combate aos efeitos de doenças como Parkinson, Alzheimer e Diabetes tipo 2”, afirma a nutricionista.
Já o leite é uma fonte rica em proteína e cálcio, ou seja, fundamental para a formação e manutenção dos ossos do nosso corpo. “O alimento auxilia também na prevenção de síndrome metabólica e da diabetes tipo 2, com a redução da pressão arterial”, destaca Lys Ane. Como o leite é uma das principais fontes de proteína e cálcio, devido ao seu baixo custo e acesso fácil, a nutricionista também explica que a mistura com o café, além de melhorar o sabor, ajuda a aumentar a aceitabilidade do alimento.
A especialista alerta que, assim como outros alimentos, apesar dos seus benefícios nutricionais, o consumo excessivo de café com leite deve ser evitado. Conforme a nutricionista, para o café, o ideal é um consumo diário entre 50 e 300 mg, o que equivale a uma ou duas xícaras de café. Já para o leite, um alimento bastante calórico, a sugestão é de uma ingestão de até três copos de 200 ml por dia.
Risco de aumentar a ansiedade
Uma das fontes mais concentradas de cafeína, a bebida também é um verdadeiro combustível para a ansiedade. De acordo com a pesquisa já citada da Universidade da Califórnia, pessoas com ansiedade social são mais suscetíveis a efeitos colaterais nervosos apenas com pequenas quantidades de estimulante.
A cafeína também pode prejudicar a absorção de nutrientes essenciais para o equilíbrio do humor, como a vitamina D e as vitaminas do complexo B. O estudo sugere substituir o café por chás de ervas descafeinados, em especial, a camomila, conforme explica Elaine Di Sarno, psicóloga, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP.
Os alimentos que consumimos podem desempenhar um papel importante no aumento da frequência, profundidade e duração de episódios de ansiedade, especialmente se já houver pré-disposição. O ideal é gerenciar sua alimentação, se atentando ao que pode desencadear danos à sua psique e cortar de vez do cardápio”, afirma a especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia pelo IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).
Uma dica da nutricionista Lys Ane Souza Araújo é evitar o consumo do café à noite ou próximo do horário de dormir, já que a cafeína é um estimulante natural e isso pode afetar o sono. “Tem gente que até tem um metabolismo mais dinâmico e, às vezes, o fato de tomar café à noite não atrapalha na hora de dormir, mas para a grande maioria das pessoas, a cafeína consumida no período noturno, pode sim atrapalhar o sono. Por isso o café é uma bebida mais indicada para o café da manhã, ou após o almoço”, orienta a especialista.
Mitos e verdades sobre o famoso cafezinho
Tem aquelas horas que, realmente, só café “na causa”. Mais do que um símbolo forte gastronômico, ele é, em muitos momentos, um companheiro, um conforto ou um motivador. Apesar de tanta gente consumindo, permanece sempre constante uma discussão sobre seus benefícios (e eventuais malefícios) para a saúde e sobre qual a melhor forma de prepará-lo. Para esclarecer algumas dúvidas, Maíra Teixeira, barista e torrefadora de café, elencou algumas curiosidades sobre a bebida.
1. Café faz mal para a saúde.
Mito. Se não ingerido em excesso, o café pode ser um aliado da sua saúde. Ele é rico em minerais como ferro, zinco, magnésio e potássio. O grão também conta com ácidos clorogênicos, que ajudam na redução da glicose e insulina, prevenindo a diabetes tipo 2.
2. Café atrapalha a absorção de ferro.
Verdade. A cafeína e o tanino que estão na composição do café atrapalham a absorção do ferro no corpo. Mas calma aí, não precisa parar de tomar café (até porque os benefícios são muitos)! O ideal é que quem tenha uma baixa taxa de ferro no corpo não consumir café logo após as refeições, porque a probabilidade da bebida atrapalhar a absorção do nutriente é maior. Espere duas horas depois da refeição. Quem não tem problema de falta de absorção de ferro, pode tomar tranquilo seu cafezinho após a refeição. E, claro, é sempre bom reforçar que tudo em excesso faz mal. Então foque na qualidade do café e não na quantidade. Uma informação importante é que café arábica tem menos cafeína que o canephora (robusta e conilon). Então o arábica atrapalha menos a absorção do ferro.
3. Café espresso tem mais cafeína que o coado.
Verdade. Alguns estudos mostram que o café espresso tem quase duas vezes mais cafeína do que o café coado, em análises feitas em 60ml de cada tipo de bebida. Isso se dá porque a quantidade de pó utilizada é praticamente o dobro do que é utilizado para o coado. Fatores como pressão da água na máquina de espresso também influem no resultado, extraindo com mais força os compostos do café. Métodos de extração de café por pressão extraem mais e mais rápido.
4. Posso consumir quanto café eu quiser.
Mentira. Consumido em excesso, o café pode causar agitação e insônia. A quantidade indicada para um adulto é de, no máximo, 400 mg de cafeína por dia (3 xícaras de café aproximadamente).
5. Escreve-se café “Espresso” e não “Expresso”.
Verdade. Sim, o correto é com S. O motivo é que respeita-se a origem do nome da bebida, que é italiana.
6. Não pode ferver a água do café.
Mito. Primeiro de tudo: garanta sempre que a água utilizada seja sempre filtrada, garantindo assim que não vá um gosto residual de cloro da água da torneira para o café. Agora, sobre a fervura da água, principalmente em cafés de alta qualidade com torras claras a médias, precisamos de alta temperatura para conseguirmos extrair todas os solúveis e compostos positivos do café. Ou seja, pode sim ferver a sua água para o café. Ele vai ficar ainda melhor.
7. Queijo e café combinam.
Verdade. Queijo é uma das melhores harmonizações com o café. Quer um exemplo? Tente a combinação do café espresso com o aclamado queijo italiano Grana Padano. A harmonização neste caso acontece por similaridade (bebida potente, comida potente). A força do sabor deste queijo evidencia as qualidades do espresso, aumentando doçura e acidez.
Torra do café influencia nos aromas e sabores
O café também pode ser apreciado, assim como o vinho e a cerveja. E pode ter diferentes tipos de aromas e sabores. O café também nos proporciona uma experiência sensorial. O torrefador é o profissional capacitado para torrar café e desenvolver perfis de torras diferentes para o café verde (cru). É ele quem decide qual grau de torra é o ideal para o café escolhido.
O café cru, assim como a uva do vinho, traz em si características do próprio local onde foi plantado (terroir), microclima do local e processamento pós colheita. Isso faz com que o torrefador já tenha algumas informações importantes na hora do estudo de torra, trazendo ainda mais precisão.
A torra clara, por exemplo, traz ao café uma complexidade sensorial interessante, com mais acidez e notas aromáticas florais e frutadas. É uma bebida mais suave no paladar, mas muito complexa no aroma. Agradável e sempre surpreendente.
A torra de cor média é a preferida dos brasileiros, trazendo uma alta doçura, um pouco mais da intensidade do caramelo e chocolate. Geralmente uma bebida que o público em geral mais se identifica, boa para se tomar no dia a dia.
A torra escura, que é um padrão da marca Starbucks, é muito comum para os americanos. Tem ainda mais intensidade e força, trazendo um amargor específico de torra. Um fator importante de se observar na torra escura é que ela precisa ser muito bem feita para se tornar mais agradável. Se passar do ponto, ela pode ser uma experiência negativa para quem toma, aquele famoso “gosto de queimado”, que, vale frisar, não é o gosto de café.
Números sobre o consumo e produção no Brasil e no mundo
Não é à toa que o café é a segunda bebida mais consumida em todo o mundo, ficando atrás apenas da água. Diariamente são mais de 400 bilhões de xícaras de café consumidas no mundo. O posto de maior comprador da bebida fica com os EUA.
Segundo a Forbes, a Finlândia é o país que mais consome café (12 kg per capita ao ano). Inclusive, por lá, os trabalhadores são legalmente obrigados a dar uma pausa oficial para o café, é o único lugar do mundo que tornou esse “break” parte da lei.
O gosto por essa que é uma das paixões do brasileiro é traduzido em mais números. Pesquisa da Abic mostra que a bebida é figurinha carimbada nas mesas de 98% das casas brasileiras. Apesar disso, o país está na 15ª posição de consumo, com 5.5 kg per capita anualmente.
O Brasil é o maior produtor, com 59 milhões de sacas de 60 kg e mais de 300 mil fazendas de café, e país responde por um terço de todo o café do mundo, sendo que Minas Gerais é o estado com a maior produção nacional).
Com Assessorias