A meningite é uma doença grave que provoca a inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e pode levar à morte em poucas horas. Pode ter diversas causas, sendo as mais comuns as virais, bacterianas e fúngicas. Com histórico severo de surtos e epidemias no Brasil, a meningite ainda é um desafio para a saúde pública devido ao seu alto potencial de transmissibilidade, que pode levar a surto e letalidade.

O Brasil já registrou 8.877 casos e 886 mortes por meningite em 2023. O número de óbitos relacionados a doenças infecciosas tem aumentado nos últimos anos, preocupando os especialistas da área. A meningite viral foi a que causou o maior número de casos em todo o país – 3.678 -, mas o maior número de mortes foi pela meningite pneumocócica, uma bactéria que pode atingir crianças e adultos, com 250 óbitos.

No Estado de São Paulo, por exemplo, foram confirmados 2.484 casos de todos os tipos de meningites no primeiro semestre de 2023, um aumento de 33% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Mais de 170 pessoas faleceram até agosto deste ano devido a casos de meningite, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado. No mês de setembro, o Ministério da Saúde confirmou um surto no estado de Alagoas, são mais de 15 casos confirmados, principalmente em bebês abaixo de 1 ano.

Com casos registrados desde 1906, o País teve a década de 1970 marcada pela ocorrência de uma grande epidemia de meningite meningocócica dos subgrupos C e A, e a de 1990 acometida pela meningite tipo B. Entre os anos de 2007 e 2020, foram notificados 393.941 casos suspeitos de meningite no país, sendo confirmados 265.644 casos de várias etiologias, sendo a meningite viral mais frequente (121.955 casos), seguida pela etiologia bacteriana (87.993 casos).

As epidemias foram vencidas com a oferta de vacinas para a população, mas surtos são registrados até hoje. A baixa adesão às campanhas de vacinação no Brasil tem resultado em um aumento nas ocorrências. Os números da meningite no Brasil são preocupantes e reforçam a importância da conscientização e da prevenção. O 5 de outubro celebra o Dia Mundial de Combate à Meningite, como forma de destacar a importância do diagnóstico rápido para o tratamento e da vacinação como uma das medidas de prevenção e controle.

“É fundamental estar atento aos sintomas da doença e buscar atendimento médico em caso de suspeita. A meningite é uma doença que tem alta letalidade, podendo levar à morte em menos de 24 horas ou podem levar a sequelas graves, como perda de visão, audição e amputação de membros. As formas mais graves podem ser prevenidas com a vacinação”, explica Claudia Maekawa Maruyama, médica infectopediatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

23% dos adolescentes podem transmitir e não desenvolver a doença

Embora muitos desconheçam, a doença pode acometer pessoas de todas as idades, inclusive adolescentes. Até 23% dos adolescentes e jovens adultos podem ser portadores da bactéria causadora da meningite meningocócica e podem transmiti-la sem necessariamente desenvolver a doença.

“As crianças menores de um ano de idade são as que têm maior risco de adoecer, no entanto, os adolescentes e adultos jovens são os principais responsáveis pela manutenção da circulação da doença. Eles podem transmitir a bactéria sem necessariamente desenvolver a doença, sendo chamados de portadores assintomáticos”, explica Ana Medina, farmacêutica, pós-graduada em imunologia e gerente de assuntos médicos de vacinas da biofarmacêutica GSK.

Assim como acontece com outras doenças de transmissão respiratória, o meningococo pode ser facilmente transmitido de uma pessoa para outra por meio do contato direto com gotículas ou secreções respiratórias através de tosse, espirro e beijo, por exemplo. E o estilo de vida e comportamentos dessa faixa etária podem propiciar ainda mais a transmissão da bactéria, como, por exemplo, compartilhar copos e objetos, algo tão comum entre os adolescentes.

“O comportamento do adolescente é naturalmente um fator de risco para a transmissão da bactéria. Por isso, a vacinação desta faixa etária é fundamental para oferecer proteção direta para os adolescentes contra a meningite meningocócica e, também, no caso dos sorogrupos A, C, W e Y, para diminuir a colonização e a propagação da bactéria entre a população”, destaca a médica.

SUS oferece vacinação gratuita

A forma mais eficaz para se proteger da meningite é a vacinação. O Programa Nacional de Imunização (PNI) oferece prevenção contra agentes infecciosos como o vírus influenza B e as bactérias meningococo e pneumococo. Para prevenir a meningite bacteriana, é importante manter o esquema vacinal completo para garantir a proteção.

As vacinas começam aos dois meses de idade, oferecidas pelo SUS, há também vacinas na rede particular aumentando a cobertura de proteção. De acordo com o Ministério da Saúde e as Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os adolescentes devem seguir o esquema vacinal recomendado para a idade. Diversas vacinas estão disponíveis na rede pública de saúde e na rede privada.

Apesar de haver no calendário oficial de imunização estas vacinas, nos últimos anos têm se observado uma queda de cobertura vacinal, inclusive nas vacinas que previnem meningite bacteriana, portanto é importante que a imunização na infância e na adolescência seja incentivada para que se possa diminuir a presença desta temível doença.

Além das vacinas contra a meningite meningocócica, as redes pública e privada disponibilizam aos adolescentes vacinas contra diversas outras doenças. Alguns exemplos são as vacinas hepatite B, febre amarela, sarampo, caxumba e rubéola (através da vacina tríplice viral), difteria, tétano e HPV. Já as vacinas hepatite A, catapora, gripe, coqueluche, dengue e meningocócica B, disponíveis para o adolescente apenas na rede privada.

Além de manter a vacinação em dia, no caso da meningite meningocócica, outras formas que também podem ajudar na prevenção incluem evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados e limpos. Seguir uma alimentação saudável e a etiqueta respiratória e higienização constante das mãos também fazem parte da prevenção. Salomón aconselha lavar as mãos regularmente, usar máscara, evitar o compartilhamento de objetos pessoais e se distanciar de locais fechados com aglomeração.

“Essas medidas preventivas ajudam a combater várias doenças, inclusive a meningite e a encefalite. Ambas as infecções apresentam sintomas semelhantes, como febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez na nuca, náusea, vômito, intolerância à luz, prostração, confusão mental, convulsões, sonolência e dificuldade respiratória”, conforme lista o especialista.

Vacina meningocócica ACWY previne quatro tipos diferentes

A vacina meningocócica ACWY – que previne quatro sorogrupos diferentes que causam a doença – está disponível gratuitamente nos postos de saúde para vacinação de rotina dos adolescentes de 11 a 12 anos, e temporariamente para adolescentes de 13 a 14 anos, até dezembro de 2023.

Essa vacina também está disponível na rede privada para outras faixas etárias e é recomendada nos calendários das sociedades médicas da criança e do adolescente a partir dos 3 meses de idade. Para a prevenção da doença causada pelo sorogrupo B, a vacina está disponível nas clínicas privadas e é recomendada pelas sociedades médicas para crianças e adolescentes a partir dos 3 meses de idade.

“Vale reforçar que o calendário vacinal está sempre mudando e incluindo novas vacinas. Devido à disponibilidade de vacinas, aumento de casos e alguns surtos, alguns estados do país ampliaram a vacinação contra a doença meningocócica C ou ACWY para adolescentes até 19 anos, grupos especiais e profissionais de saúde, por exemplo”, alerta Ana Medina.

Por conta disso, segundo ela, é essencial que o adolescente e os pais procurem um profissional de saúde para se informar sobre a situação vacinal e necessidade de completar doses faltantes. “Caso o adolescente não tenha recebido alguma dose na infância, ou seja, não tenha sido vacinado na idade preconizada, é necessário atualizar a caderneta de vacinação o mais rápido possível”, destaca.

Alguns adolescentes podem ter sido vacinados na infância contra a meningite meningocócica causada pelo sorogrupo C, que foi disponibilizada no país pelo Programa de Imunizações para lactentes a partir do ano 2010 e para adolescentes de 11 e 12 anos a partir do ano 2017.

“Os adolescentes que foram vacinados com essa vacina na infância podem fazer o reforço na rede pública com a vacina ACWY se estiverem entre 11 e 12 anos de idade, ou atualizar a vacinação com as vacinas ACWY e B na rede privada, de acordo com esquema adequado para a idade e recomendação médica”, completa.

Saiba mais sobre a meningite

Meningite x encefalite

Causada pela bactéria Neisseria meningitidis – também chamada de meningococo –, a meningite meningocócica é uma inflamação das membranas que envolvem o cérebro, o encéfalo e a medula espinhal, podendo causar sequelas e até mesmo levar a óbito em 24 horas. 

Ela possui pelo menos 12 sorogrupos, sendo que seis deles são os mais comuns (A, B, C, W, X e Y). As formas mais agressivas de meningite são as de origem bacteriana, que podem resultar em perda de audição e visão, convulsão e déficit intelectual, enquanto as meningites virais tendem a ser mais brandas.

Já a encefalite afeta diretamente o cérebro, frequentemente desencadeada por vírus, mas também pode ser causada por picadas de carrapatos e insetos, além do consumo de alimentos ou bebidas contaminados. Há ainda a meningoencefalite, uma condição rara e geralmente fatal, que se caracteriza pela infecção simultânea do cérebro e das meninges.

Transmissão

Em geral, a transmissão da meningite é de pessoa para pessoa, por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta, através da fala, espirro e tosse e contato com objetos infectados.

A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno e das virais na primavera-verão. O sexo masculino também é o mais acometido pela doença.

Apesar de ser habitualmente causada por microrganismos, também pode ter origem em imunossupressão como câncer (metástases para meninges), lúpus, ou reação a algumas drogas, traumatismo craniano e cirurgias cerebrais.

Sintomas

É fundamental estar atento a sintomas como febre, dor de cabeça, rigidez na nuca, vômitos, aumento da sensibilidade à luz, crises convulsivas, tremores, delírio, coma e confusão mental, manchas vermelhas na pele. Nas crianças pequenas: febre (ou hipotermia), vômitos, irritabilidade, prostração, bebês podem apresentar alterações da fontanela (moleira).

Os sintomas característicos dos quadros de meningite viral ou bacteriana nunca devem ser desconsiderados, especialmente em faixas etárias extremas: nos primeiros anos de vida e idosos.  Na presença de sinais que possam sugerir a doença, a pessoa deve ser avaliada pelo médico para que o diagnóstico seja feito e o tratamento instituído precocemente.

“Alguns sintomas da meningite podem ser confundidos com outras infecções não fique na dúvida: criança chorosa, com dor de cabeça, irritabilidade, inapetente, vômitos, prostrada, manchas vermelha pelo corpo, rigidez de nuca, precisa ser levada o mais breve possível, para avaliação médica de urgência”, alerta a Dra. Maruyama.

Os sinais e sintomas iniciais da meningite meningocócica incluem febre, irritabilidade, dor de cabeça, perda de apetite, náusea e vômito, e podem ser facilmente confundidos com outras doenças infecciosas, como a gripe, por exemplo. Por isso, é essencial ficar atento aos sinais e, caso tenha piora dos sintomas ou o aparecimento de outros sinais como pequenas manchas arroxeadas na pele, rigidez na nuca e sensibilidade à luz, é preciso procurar um atendimento médico o mais rápido possível.

Diagnóstico

A meningite, em conjunto com a encefalite, representam as emergências médicas mais frequentes que envolvem o sistema nervoso, e podem evoluir para quadros graves. Por isso, o coordenador da UTI Neurológica da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Salomón Soriano Ordinola Rojas, ressalta a importância de diagnosticar e tratar da doença na fase inicial. “A precocidade faz grande diferença, reduzindo o risco de complicações e possíveis sequelas”, diz.

Essas inflamações no sistema nervoso são provocadas pela presença de vírus, bactérias e outros agentes infecciosos, como fungos e protozoários. A transmissão geralmente ocorre por meio do contato com gotículas e secreções de alguém infectado, conforme explica o médico da BP.

“Caso tenha contato com alguém infectado, é importante procurar assistência médica para prescrição de medicação preventiva”, orienta. Ele também enfatiza que é importante procurar atendimento mesmo sem apresentar sintomas clássicos, como rigidez na nuca, pois os sinais costumam ser vagos e indeterminados.

O diagnóstico é realizado por meio do exame de líquido cefalorraquidiano para identificar o agente infeccioso, e por meio da ressonância magnética para determinar qual a região afetada. O tratamento varia conforme a causa, sendo baseado em corticoides, antivirais, antibióticos e outros medicamentos administrados por via intravenosa durante um período médio de 7 a 14 dias para controle dos sintomas.

Tratamento

O tratamento é de acordo com a causa da doença, podendo ser internado ou em domicílio, para as meningites bacterianas, faz-se uso de antibioticoterapia em ambiente hospitalar, já para as meningites virais, na maioria dos casos, são autolimitadas, não se faz tratamento com medicamentos antivirais, apenas sintomáticos, em geral as pessoas se recuperam espontaneamente. Porém alguns vírus, como herpes vírus, podem vir a provocar meningite com necessidade de uso de antiviral específico.

Nas meningites fúngicas o tratamento é mais longo, com altas e prolongadas dosagens de medicação antifúngica, escolhida de acordo com o fungo identificado no organismo do paciente. Nas meningites por parasitas, tanto o medicamento contra a infecção como as medicações para alívio dos sintomas são administrados por equipe médica em paciente internado.

A resposta ao tratamento também é dependente da imunidade da pessoa, e pacientes com HIV/AIDS, diabetes, câncer e outras doenças imunodepressoras são tratados com maior rigor e cuidado pela equipe médica.

“Sem atendimento e tratamento médico adequados, há um maior risco da evolução da doença para quadros mais graves e óbito. Por conta da gravidade e rápida evolução, além das formas de prevenção, como não compartilhar objetos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar, a vacinação segue como a melhor forma de prevenção”, finaliza Ana Medina.

Tire 10 dúvidas sobre a meningite

Nos primeiros seis meses de 2023 foram registradas 155 mortes em decorrência da doença, cujas maiores incidências estão nos municípios de São Paulo, Guarujá, Guarulhos, Osasco, Ribeirão Preto e Santo André. O índice de óbitos é 32,60% inferior ao do mesmo período de 2022, quanto foram registradas 230 mortes.

Além de São Paulo, capital, algumas cidades do estado apresentam maiores índices, como Campinas, ao lado de São Bernardo do Campo, Santo André (ambas no ABC) e Guarulhos (Grande São Paulo). Dois especialistas do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), esclarecem as principais dúvidas sobre a doença: o neurologista Felipe da Graça e a infectologista Vera Rufeisen.

1 – O que é meningite?

“A meningite é uma inflamação das meninges, que são estruturas que protegem e recobrem o cérebro, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central”, descreve o neurologista.
2 – Quantos tipos de meningite diferentes existem?

A infectologista explica que “os dois tipos principais são os virais e os bacterianos, mas também existem aqueles transmitidos por protozoários, fungos, microbactérias, medicamentos, doenças autoimunes, dentre outros”. A letalidade, porém, está ligada às bacterianas.

3 – Quais são as principais diferenças entre elas?

De acordo com a Vera Rufeisen, as meningites virais habitualmente apresentam quadros mais leves, autolimitados, e que não necessitam terapêutica específica, exceto as causadas pelo vírus da herpes, que demandam tratamento diferenciado.

Já as bacterianas meningocócicas (tipo B e C) e pneumocócicas, causadas pelo Haemophylus influenzae, geram quadros mais graves, que requerem imediato diagnóstico e terapia antimicrobia

na apropriada. Por vezes, pode ser fatal ou deixar sequelas, tais como perda da audição e visão, problemas com memória, concentração, coordenação motora, equilíbrio, aprendizado e fala, epilepsia e paralisia cerebral.

4 – Qual é considerada mais frequente?

“O tipo de maior incidência, neste momento epidemiológico, é o Meningococo tipo C, transmitido por contato próximo direto entre as pessoas, a menos de um metro de distância”, alerta Vera.

5 – Quais são os principais sintomas deste tipo de meningite?

“Dor de cabeça intensa, febre, vômito e rigidez de nuca. Podemos ter, ainda, em casos mais graves, sonolência, confusão mental ou convulsões. Manchas vermelhas na pele também são frequentes”, lista Felipe da Graça.

“A febre alta e a dor de cabeça já são motivos suficientes para que a pessoa procure atendimento médico, pois o diagnóstico precoce pode evitar complicações e morte pela doença. Pais, mães e responsáveis por bebês precisam ficar atentos a irritação, falta de apetite e de resposta a estímulos, a moleira protuberante e reflexos anormais”, adiciona.

6 – Como ocorre a transmissão de meningite?

“As virais e bacterianas ocorrem por via aérea, de pessoa para pessoa, por meio de gotículas, secreções do nariz e da garganta. Ou seja, pelo ar. Também pode ocorrer por meio de objetos/alimentos contaminados com patógenos (vírus, bactérias ou parasitas)”, explica o neurologista.

7 – Como é feito o diagnóstico?

“Inclui avaliação médica, coleta do líquor (líquido que envolve o cérebro e a medula) e pode ser necessário exames de imagem como tomografia”, detalha Felipe.

8 – Como a meningite é tratada?

De acordo com o neurologista, o tratamento varia de acordo com o tipo de meningite, desde medicações sintomáticas (usadas apenas para sintomas) e hidratação até necessidade de antivirais e antibióticos.

9 – Por quanto tempo o tratamento deve ser feito?

“O tempo varia. Comumente entre 7 e 14 dias”

10 – Como é possível prevenir?

“A prevenção inclui isolamento de casos suspeitos, etiqueta respiratória e vacinas”, orienta Vera.

Fontes: GSK, BP, Vera Cruz e Rede de Hospitais São Camilo

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