Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050, a crise climática será responsável por 250 mil mortes adicionais por ano, em decorrência de desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. A estimativa é que os custos diretos com saúde decorrentes das mudanças climáticas alcancem de 2 a 4 bilhões de dólares por ano até 2030. Diante das previsões alarmantes, a 30ª Conferência do Clima, em novembro, em Belém do Pará, deverá ser o ponto de partida para uma mudança de paradigma na corrida para frear as mudanças climáticas.
O Movimento Médicos pelo Clima, idealizado pelo Instituto Ar, levará uma carta de recomendações à presidência da COP30 com um pedido claro: que a saúde seja tratada como eixo central nas negociações climáticas e nas ações de adaptação e mitigação propostas durante a conferência. O documento será entregue no próximo dia 17 de outubro, em Brasília, à enfermeira Ethel Maciel, enviada especial para a saúde na COP30 pelo governo federal.
A carta já tem assinatura de entidades como Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Rede de Trabalho Amazônico GTA, Associação Brasileira de Asmáticos (ABRA), Instituto Bem do Estar, Vertentes Ecossistema de Saúde Mental e Instituto Talanoa, além de outras entidades estratégicas, como conselhos profissionais, associações médicas e organizações da sociedade civil da área da saúde.
Entre os pontos centrais da carta estão o fortalecimento do Plano de Ação em Saúde de Belém, iniciativa internacional proposta pelo Brasil para orientar ações de adaptação dos sistemas de saúde às mudanças climáticas; a defesa de linhas de financiamento específicas para ações de saúde e clima; e que assegure menções explícitas e consistentes à saúde nos principais documentos da COP30, como as decisões do CMA (Acordo de Paris) e as carta da presidência.
A proposta é que a presidência da COP30, exercida pelo Brasil, lidere um esforço multilateral para consolidar a saúde como prioridade transversal nas políticas climáticas globais, a exemplo do que já ocorreu na presidência brasileira do G20 em 2024, com a Declaração Ministerial sobre Clima e Saúde”, diz o movimento, em comunicado.
Saúde e clima: uma agenda urgente
Sila Mesquita, coordenadora geral da Rede de Trabalho Amazônico (GTA), diz que “a crise climática é, antes de tudo, uma crise de saúde” e os impactos das mudanças no clima já estão sendo sentidos nos corpos e nas vidas das populações mais vulneráveis, como aumento de doenças respiratórias e infecciosas, insegurança alimentar, deslocamentos forçados e agravamento de problemas de saúde mental.
Colocar a saúde no centro do debate climático na COP 30 é fundamental para que as políticas públicas e as estratégias de adaptação considerem não apenas a redução de emissões, mas também a proteção direta da vida humana e o fortalecimento dos sistemas de saúde frente aos desafios que já estão postos”, enfatiza.
A GTA e parceira do Movimento Médicos pelo Clima que é signatária da carta e articula mais de 600 entidades nas nove unidades da Amazônia Legal. O médico pediatra Daniel Becker, embaixador do Movimento Médicos pelo Clima, também faz um apelo.
Nós sabemos o quanto a saúde já está sendo afetada com a mudança climática em termos de migrações, de ondas de calor, de enchentes e de doenças infecciosas”, afirma “É fundamental que nós médicos nos engajemos no ativismo climático”, complementa.
Cuidado com as crianças e adolescentes
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Edson Liberal, as crianças estão mais expostas aos efeitos das mudanças climáticas por estarem com organismo em fase de desenvolvimento. “Precisamos reconhecer que enfrentar as mudanças climáticas é também proteger a infância e o futuro das nossas crianças e adolescentes”.
O médico destaca a importância de fortalecer o Plano de Ação em Saúde de Belém como uma estratégia para adaptar os sistemas de saúde, garantir respostas efetivas e transformar compromissos globais em políticas públicas reais. Além disso, reforça que o setor da saúde deve ser prioridade nos financiamentos climáticos. “Investir em saúde é investir em resiliência — em prevenção, vigilância e capacidade de resposta a emergências que afetam diretamente o bem-estar das pessoas”.
Para Raquel da Silva Casanova, médica embaixadora pelo clima na região Norte, não se pode separar a discussão sobre justiça climática sobre direito à saúde. Segundo ela, a mobilização de médicos e outros profissionais da saúde frente ao combate às mudanças climáticas é uma causa de extrema importância, pois quando falamos de justiça climática, também estamos falando de justiça social e em saúde.
Hoje não é possível fazer saúde sem pensar nas alterações climáticas intensas e extremas que tanto afetam o cotidiano das populações vulnerabilizadas. Incluir essa pauta como debate na COP30 é fundamental para que possamos, juntos, construir um plano eficaz para agir em parceria”, avalia.
Mobilização da classe médica
O Movimento Médicos pelo Clima tem ampliado sua atuação nos últimos anos, com mais de 15 mil profissionais da saúde alcançados, a criação de uma rede de médicos embaixadores com representação regional, publicações como a cartilha “Como as mudanças climáticas impactam a saúde das crianças?” e ações conjuntas com a Sociedade Brasileira de Pediatria e outras instituições.
A entrega da carta faz parte da agenda de incidência do movimento para a COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA). Também está prevista uma mobilização durante o evento, com a presença de médicos embaixadores e ações simbólicas em defesa da vida e da saúde frente à emergência climática. Pessoas e organizações interessadas em assinar a carta podem preencher o formulário eletrônico disponível neste link.
Fonte: Movimento Médicos pelo Clima