Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050, a crise climática será responsável por 250 mil mortes adicionais por ano, em decorrência de desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. A estimativa é que os custos diretos com saúde decorrentes das mudanças climáticas alcancem de 2 a 4 bilhões de dólares por ano até 2030.

Diante das previsões alarmantes, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). em novembro, em Belém do Pará, deverá ser o ponto de partida para uma mudança de paradigma na corrida para frear as mudanças climáticas.

Nesta sexta-feira (17),  o movimento Médicos pelo Clima, idealizado pelo Instituto Ar, levou uma carta de recomendações à presidência da COP30 com um pedido claro: que a saúde seja tratada como eixo central nas negociações climáticas e nas ações de adaptação e mitigação propostas durante a conferência.

O documento foi recebido pela enviada especial para a saúde na COP30, a epidemiologista e enfermeira Ethel Maciel, durante encontro realizado na Universidade de Brasília (UnB).  Segundo Ethel, a conferência terá eventos dedicados a essa discussão.

Eventos com parceiros estratégicos: o próprio Ministério da Saúde, mas também financiadores, como fundações que têm uma grande entrada na saúde, por exemplo Fundação Gates, Fundação Rockefeller e a Wellcome Trust, que há muito tempo financiam questões de adaptação. Nós estaremos juntos com eles discutindo como implementar em municípios e estados o Plano de Ação de Belém [desenvolvido pelo Brasil para ajudar os países a adaptarem seus sistemas de saúde aos efeitos das mudanças climáticas]”.

Como enviada especial para a saúde na COP30, Ethel terá a função de representar o tema dentro da conferência, atuando como interlocutora estratégica e contribuindo para que suas pautas sejam incorporadas na agenda oficial.

Ainda vamos ter alguns congressos até a COP, falando para os profissionais de saúde e formadores de opinião dentro da área da saúde, para que a gente crie esse grande movimento, que é a ideia do presidente da COP, o embaixador André Corrêa do Lago, para chegarmos alinhados nesta ideia de que saúde é clima e clima é saúde. Não tem como dissociar isso mais”.

Estiveram presentes na entrega a médica embaixadora pelo clima e pneumologista Danielle Bedin, a líder do movimento Médicos pelo Clima, Brenda Kauane, e o professor do Centro Internacional de Bioética e Humanidades da UnB, Swedenberger Barbosa. 

A entrega dessa carta mostra que todos os estudos e toda nossa dedicação está no caminho certo e nós, como médicos, precisamos estar expostos e cientes de que esse é um assunto sobre o qual temos que falar entre outros médicos e também com a população geral, com nossos pacientes. A mudança climática está acontecendo agora, o calor está aumentando agora e se a gente não cuidar agora, os estragos vão ser ainda maiores no futuro”, defende a médica Danielle Bedin. 

A carta recebeu mais de 250 assinaturas, incluindo 70 organizações, movimentos e empresas, além de médicos, profissionais da saúde, lideranças da sociedade civil e outras pessoas que apoiam a causa. Entre as entidades signatárias estão:

  • Sociedade Brasileira de Pediatria,
  • Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia,
  • Fundação José Luiz Setúbal,
  • Associação Brasileira de Asmáticos (ABRA),
  • Instituto Bem do Estar,
  • Vertentes Ecossistema de Saúde Mental,
  • Projeto Hospitais Saudáveis e
  • Rede de Trabalho Amazônico (GTA), que articula mais de 600 entidades da Amazônia Legal.

A proposta é que a presidência da COP30, exercida pelo Brasil, lidere um esforço multilateral para consolidar a saúde como prioridade transversal nas políticas climáticas globais, a exemplo do que já ocorreu na presidência brasileira do G20 em 2024, com a Declaração Ministerial sobre Clima e Saúde.

Entre os pontos centrais da carta estão o fortalecimento do Plano de Ação em Saúde de Belém, iniciativa internacional proposta pelo Brasil para orientar ações de adaptação dos sistemas de saúde às mudanças climáticas; a defesa de linhas de financiamento específicas para ações de saúde e clima; e que assegure menções explícitas e consistentes à saúde nos principais documentos da COP30, como as decisões do CMA (Acordo de Paris) e as carta da presidência.

Como enviada especial para a saúde na COP30, Ethel terá a função de representar o tema dentro da conferência, atuando como interlocutora estratégica e contribuindo para que suas pautas sejam incorporadas na agenda oficial.

Ainda vamos ter alguns congressos até a COP, falando para os profissionais de saúde e formadores de opinião dentro da área da saúde, para que a gente crie esse grande movimento, que é a ideia do presidente da COP, o embaixador André Corrêa do Lago, para chegarmos alinhados nesta ideia de que saúde é clima e clima é saúde. Não tem como dissociar isso mais”.

Estiveram presentes na entrega a médica embaixadora pelo clima e pneumologista Danielle Bedin, a líder do movimento Médicos pelo Clima, Brenda Kauane, e o professor do Centro Internacional de Bioética e Humanidades da UnB, Swedenberger Barbosa. 

A entrega dessa carta mostra que todos os estudos e toda nossa dedicação está no caminho certo e nós, como médicos, precisamos estar expostos e cientes de que esse é um assunto sobre o qual temos que falar entre outros médicos e também com a população geral, com nossos pacientes. A mudança climática está acontecendo agora, o calor está aumentando agora e se a gente não cuidar agora, os estragos vão ser ainda maiores no futuro”, defende a médica Danielle Bedin.

Saúde e clima: uma agenda urgente

Sila Mesquita, coordenadora geral da Rede de Trabalho Amazônico (GTA), diz que “a crise climática é, antes de tudo, uma crise de saúde” e os impactos das mudanças no clima já estão sendo sentidos nos corpos e nas vidas das populações mais vulneráveis, como aumento de doenças respiratórias e infecciosas, insegurança alimentar, deslocamentos forçados e agravamento de problemas de saúde mental.

Colocar a saúde no centro do debate climático na COP 30 é fundamental para que as políticas públicas e as estratégias de adaptação considerem não apenas a redução de emissões, mas também a proteção direta da vida humana e o fortalecimento dos sistemas de saúde frente aos desafios que já estão postos”, enfatiza. Parceira do Movimento Médicos pelo Clima, a GTA é signatária da carta e articula mais de 600 entidades nas nove unidades da Amazônia Legal.

O médico pediatra Daniel Becker, embaixador do Movimento Médicos pelo Clima, também faz um apelo.

Nós sabemos o quanto a saúde já está sendo afetada com a mudança climática em termos de migrações, de ondas de calor, de enchentes e de doenças infecciosas”, afirma  “É fundamental que nós médicos nos engajemos no ativismo climático”, complementa.

Cuidado com as crianças e adolescentes

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Edson Liberal, as crianças estão mais expostas aos efeitos das mudanças climáticas por estarem com organismo em fase de desenvolvimento. “Precisamos reconhecer que enfrentar as mudanças climáticas é também proteger a infância e o futuro das nossas crianças e adolescentes”.

O médico destaca a importância de fortalecer o Plano de Ação em Saúde de Belém como uma estratégia para adaptar os sistemas de saúde, garantir respostas efetivas e transformar compromissos globais em políticas públicas reais. Além disso, reforça que o setor da saúde deve ser prioridade nos financiamentos climáticos. “Investir em saúde é investir em resiliência — em prevenção, vigilância e capacidade de resposta a emergências que afetam diretamente o bem-estar das pessoas”.

Para Raquel da Silva Casanova, médica embaixadora pelo clima na região Norte, não se pode separar a discussão sobre justiça climática sobre direito à saúde. Segundo ela, a mobilização de médicos e outros profissionais da saúde frente ao combate às mudanças climáticas é uma causa de extrema importância, pois quando falamos de justiça climática, também estamos falando de justiça social e em saúde.

Hoje não é possível fazer saúde sem pensar nas alterações climáticas intensas e extremas que tanto afetam o cotidiano das populações vulnerabilizadas. Incluir essa pauta como debate na COP30 é fundamental para que possamos, juntos, construir um plano eficaz para agir em parceria”, avalia.

Mobilização da classe médica

O Movimento Médicos pelo Clima tem ampliado sua atuação nos últimos anos, com mais de 15 mil profissionais da saúde alcançados, a criação de uma rede de médicos embaixadores com representação regional, publicações como a cartilha “Como as mudanças climáticas impactam a saúde das crianças?” e ações conjuntas com a Sociedade Brasileira de Pediatria e outras instituições.

A entrega da carta faz parte da agenda de incidência do movimento para a COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA). Também está prevista uma mobilização durante o evento, com a presença de médicos embaixadores e ações simbólicas em defesa da vida e da saúde frente à emergência climática. Pessoas e organizações interessadas em assinar a carta podem preencher o formulário eletrônico disponível neste link.

 

Fonte: Movimento Médicos pelo Clima (atualizado em 18/10/25)

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