A notícia da morte precoce de um jovem médico abalou a comunidade médica de Campos dos Goytacazes (RJ). Entre médicos, professores e ex-colegas, circulou a informação de que Lucas Peixoto Glória morreu de Covid-19 e que não havia se vacinado contra a doença. Após uma internação no Hospital Unimed Campos, ele evadiu-se à revelia dos médicos e dias depois voltou na urgência, já com problema respiratório grave e baixa oxigenação, vindo a falecer na noite de terça-feira (1).

Formado pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC) e filho de médicos que atuam como professores na instituição, Lucas fez residência em Pediatria no Hospital São José do Avaí, em Itaperuna, considerado uma referência no interior do estado. Pais de Lucas, o clínico geral José Ramos Glória, e a mãe, a pediatra Cristina Maria Carvalho Peixoto, que se encontra em tratamento quimioterápico por conta de um câncer de mama, estão inconformados.

Hospital da Unimed em Campos: jovem médico evadiu-se do local e retornou já com quadro grave (Reprodução do Facebook)

Nesta quinta-feira (3), durante o velório, uma parente do jovem médico informou que ele sofria de depressão e teve uma pneumonia, mas não disse se seria decorrente da Covid-19 e se havia tomado a vacina. Pessoas próximas afirmam que os pais não são negacionistas e que possivelmente Dr Lucas teria deixado de tomar a vacina por conta da depressão.

Já o secretário de Saúde do município, Paulo Hirano, disse a médicos que “a morte de Lucas está entre os 5% de vacinados que vão a óbito nessa onda, segundo as estatísticas”. Para ele, foi uma fatalidade. Não há informações se Dr Lucas sofria de alguma comorbidade que pudesse agravar o quadro respiratório. A causa da morte não foi oficialmente confirmada pelo hospital até o fechamento desta reportagem.

Uma médica de Campos que conhecia Lucas e sua família, mas não quis se identificar, disse que o índice de não-vacinados contra a Covid-19 entre acadêmicos de Medicina é praticamente zero. “Já entre os médicos, não podemos dizer o mesmo”, lamenta, mencionando o caso de uma professora que ensinaria práticas negacionistas a seus alunos, minimizando os efeitos da vacina e divulgando técnicas integrativas como alternativa de tratamento precoce da doença.

A Faculdade de Medicina de Campos emitiu uma nota de pesar pela morte de Lucas. O caso vem sendo acompanhado pelo Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), que deve se reunir nesta sexta-feira (4). Procurado quarta-feira (2) pelo Portal ViDA & Ação, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), que está em fase de mudança de gestão, não se posicionou ainda a respeito.

Impacto da ômicron na saúde dos médicos

 

A morte do Dr Lucas ainda precisa ser esclarecida, mas ajuda a ilustrar uma pesquisa inédita divulgada nesta quinta-feira (3) pela Associação Médica Brasileira (AMB), em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), sobre o impacto da variante Ômicron na classe médica. O levantamento apontou que 87,3% dos médicos brasileiros tiveram covid-19 nos últimos dois meses.

Com o aumento das infecções e a carência de profissionais na linha de frente, a saúde mental da maioria desses profissionais também é afetada: eles afirmam que se sentem esgotados (51,1%), apreensivos (51,6%) e ansiosos (42,7%). Além disso, relatam que colegas se sentem sobrecarregados (64,2%), estressados (62,4%) e com exaustão física ou emocional (56,2%) no ambiente de trabalho.

“A Ômicron está contaminando vários profissionais de saúde e vários estão com Síndrome de Burnout”, confirma uma médica ouvido por ViDA & Ação, que não quis se identificar, mas também foi diagnosticada com o transtorno, causado por esgotamento mental. Sobre a possibilidade de o Dr Lucas não ter se vacinado contra a Covid-19 por causa da depressão, comentou:

“A depressão é uma doença que, entre outras coisas, causa baixa da imunidade, apatia, desleixo e desapego à vida. Por outro lado essa pandemia está sendo um ‘gatilho’ para vários distúrbios psicológicos e psiquiátricos, inclusive com dependência química e abuso de álcool e drogas”.

Pesquisa confirma aumento de casos

A pesquisa feita pela AMB e APM ouviu 3.517 profissionais de saúde, sendo que 52,5% deles estão na linha de frente do combate à covid-19. O aumento de casos sentido na própria pele é observado por quase totalidade dos entrevistados na pesquisa: 96,1% dos profissionais que atendem em locais que recebem pacientes com covid-19 observam a tendência de alta de infecções em algum grau em relação ao último trimestre do ano passado. sendo que 44,6% notaram grande tendência de alta dos casos positivos.

Quando se compara à situação de óbitos em relação ao últimos três meses do ano passado, a percepção de alta é menor, mas já pôde ser observada por 40,5% dos médicos. Na última terça-feira (1º/2), o país voltou a registrar mais de 900 mortes pela covid-19.  O aumento de casos e mortes pressiona o sistema de saúde e uma das maiores deficiências notadas pelos entrevistados no combate à pandemia é a falta de médicos e enfermeiros.

Veja mais detalhes sobre a pesquisa aqui.

Com assessoria AMB

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