O Outubro alerta para a importância de falar não só sobre prevenção do câncer de mama, mas também sobre tratamento, que ainda não é acessível para boa parte dos pacientes. O crescimento do número de pessoas com este tipo de neoplasia reflete diretamente na venda de medicamentos para tratamento da doença.
Um levantamento da plataforma Consulta Remédios (CR) mostra o quanto pacientes com a doença precisam de acolhimento não só familiar e profissional, mas também financeiro. Para se ter ideia, um dos medicamentos mais vendidos na plataforma em sua versão de 500 comprimidos chega ao impressionante valor de R$ 18 mil.
“Não são todos os medicamentos que possuem custo exagerado. Depende da dosagem, quantidade de comprimido. Mas se você pensar que uma paciente que possui um tumor depende não só desse, mas de diversos outros medicamentos, quase fica inviável o tratamento de forma particular”, observa Paulo Vion, CEO da plataforma Consulta Remédios.
A alta do preço dos medicamentos condiz com a pesquisa publicada pelo estudo “Quanto custa o câncer?”, realizado em parceria entre o Observatório de Oncologia, o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e o Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. A pesquisa mostrou que nos últimos quatro anos, o custo médio de tratamento da doença subiu 400%. Isso inclui o tratamento completo, com medicações, quimioterapia e radioterapia.
De acordo com levantamento da epharma, o número de unidades de medicamentos para câncer de mama vendidas para beneficiários do programa PBM cresceu 44% de 2020 para 2022. Santa Catarina lidera a venda de antineoplásicos, seguida pelos estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, respectivamente.
“O crescimento da procura pelos medicamentos oncológicos é reflexo também da pandemia da Covid-19, quando diversas consultas e tratamentos foram postergados. Com isso, muitos casos da doença foram mais bem diagnosticados nesse período mais recente”, explica Wilson Oliveira Junior, diretor de Negócios e Operações da epharma.
Medicamento mais vendido por variar de R$ 15,10 a R$ 936
No levantamento, que considerou os últimos três meses, a CR identificou também que o medicamento mais vendido foi o Anastrozol. O medicamento, que teve estudo publicado pela revista The Lancet e há alguns anos vem sendo usado com sucesso em mulheres pós-menopausa justamente para evitar a doença, tem uma variação de preço também impressionante. Se buscado na CR é possível observar que os valores que vão de R$15,10 a R$ 936,21, uma variação de 6.100%.
“A gente observa também um comportamento que leva ao uso inadequado de medicamentos. Assim como aconteceu com o Ozempic, medicamento originalmente utilizado no tratamento de diabetes mas que vem sendo usado para o emagrecimento, a gente tem conhecimento de pessoas que usam o Anastrozol também para fins estéticos, o que acaba colocando em risco à saúde. Mais do que isso, a alta procura de um medicamento como esse acaba inflacionando o preço, prejudicando pessoas que realmente precisam”, alerta a farmacêutica da CR, Rafaela Sarturi Sitiniki.
Para Vion, é preciso oferecer aos pacientes cada vez mais alternativas para driblar esses custos. “A gente entende que o SUS é referência na assistência à saúde, mas hoje, segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), o setor privado de saúde possui mais de 50 milhões de usuários. São pessoas que de alguma forma precisam também de ferramentas para evitar os gastos excessivos numa fase tão complicada”, diz Vion.
A possibilidade de realizar a comparação de preços de forma facilitada é uma das maneiras de oferecer aos usuários uma alternativa quando o assunto é economizar.
“Quando a gente fala de varejo farmacêutico, muitas pessoas ainda têm receio de realizar compras online, mas quando estamos falando de medicamentos de alto custo, a internet é um dos caminhos, pois possibilita uma pesquisa mais ampla. Essa é uma estratégia que vem dando certo e vem de encontro à responsabilidade que healthtechs têm na democratização do conhecimento e do acesso a tratamentos de saúde”, finaliza o CEO.
Remédios biossimilares são alternativa
Os medicamentos biossimilares estão desempenhando um papel fundamental no avanço do tratamento do câncer de mama, representando novas opções terapêuticas para as pacientes, mesmo em casos com metástases. Os biossimilares oferecem uma perspectiva econômica favorável, uma vez que geralmente o custo-benefício é melhor em comparação com os medicamentos de referência, oferecendo a mesma qualidade, segurança e eficácia.
“Terapias-alvo como o trastuzumabe, por exemplo, indicado para o tumor do tipo HER2 positivos, um dos mais agressivos, desempenham um papel crucial nesse contexto. Este biomedicamento pode ser usado inclusive em combinação com a quimioterapia e a hormonioterapia, uma vez que não impacta nos outros tratamentos, e ainda, antes ou depois de procedimentos para retirada de tumor”,afirma Carolina Martins Vieira, oncologista clínica e pesquisadora do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
De acordo com a Fiocruz, biossimilares são medicamentos desenvolvidos de modo a garantir os mesmos resultados em termos de segurança, qualidade e eficácia a outro já existente já aprovado pelas agências reguladoras. Esses remédios são biológicos – ou seja, obtidos a partir organismos vivos geneticamente modificados como bactérias, plantas ou animais – e não são considerados uma forma de ‘genéricos’, que são produzidos por síntese química.
Como suplementos e remédios manipulados podem auxiliar?
Infelizmente, muitas pessoas com câncer sofrem com os efeitos adversos do tratamento da quimioterapia, como enjoos, perda de peso e apetite, e até mesmo queda de cabelo. Uma análise feita com 1.654 pacientes (1.328 homens e 326 mulheres) mostrou que as mulheres experimentaram taxas significativamente mais altas de náusea e vômito (89% para mulheres, comparado com 78% para homens) e diarreia (54% contra 47%), evidenciando que o agravamento das reações afetam principalmente as mulheres.
“Porém, com avanços medicinais, já existem maneiras de passar por esse processo com mais tranquilidade por meio do uso de medicamentos manipulados, que auxiliam nos sintomas e são feitos de forma personalizada para cada paciente para focar no seu bem-estar”, afirma a Head de qualidade da Manipulaê, Regiele Viana.
Para amenizar os efeitos colaterais da quimioterapia, alguns medicamentos indicados são:
- Suplementos vitamínicos e minerais
A vitamina D e Vitamina B12 são um dos principais nutrientes que os pacientes perdem durante o tratamento. A vitamina D ajuda na saúde óssea, absorção de cálcio, regulação do humor e redução de inflamação. Já a B12 é essencial para a produção de glóbulos vermelhos e apoio de energia, auxiliando na fadiga que a quimioterapia causa.
- Fitoterápicos
Durante a quimioterapia, o sistema imunológico do paciente pode ficar enfraquecido, tornando-o mais suscetível a infecções. Algumas ervas, como o astrágalo, são conhecidas por suas propriedades imunomoduladoras e podem ajudar a fortalecer o sistema imunológico. Lembrando que é fundamental consultar um oncologista para fazer o acompanhamento do quadro, com prescrições de medicamentos e detalhamento das dosagens.
Confira a lista dos dez medicamentos mais vendidos e seus preços médios*:
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*Valores registrados na plataforma CR
Como prevenir o câncer de mama?
O câncer é uma das principais causas de morte de mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê que, para cada ano do triênio 2023-2025, haja 73.610 casos novos no país, com um risco estimado de 66,5 casos a cada 100 mil mulheres. Esse número alto justifica a importância do Outubro Rosa, uma vez que o diagnóstico precoce tem grande impacto na condução do tratamento. Segundo dados do Inca, 90% dos casos possuem altos índices de cura quando diagnosticados precocemente.
Diante deste contexto, a Biomm apoia a campanha “Com empatia, somos mais vida”, realizada pela Femama para conscientizar e sensibilizar o público sobre o tema, alertando para a importância do diagnóstico precoce, do tratamento adequado e da empatia para os pacientes e sua rede de apoio.
A detecção precoce do câncer de mama é essencial para aumentar as chances de cura, como o autoexame, que consiste em examinar regularmente as mamas em busca de qualquer alteração. Além do autoexame, é essencial que mulheres com mais de 40 anos façam regularmente a mamografia de rastreamento, mesmo que não apresentem sinais ou sintomas visíveis. Esse exame possibilita a detecção do tumor na fase inicial, quando as chances de cura chegam a 95%.
Para se prevenir, conheça os principais sintomas do câncer de mama:
- Nódulo ou caroços palpáveis na mama ou região das axila
- Alteração e secreção nos mamilos;
- Alterações na pele que recobre o local do nódulo;
- Região da mama com aspecto parecido a uma casca de laranja
- Linfonodos (glândulas) inchados, como axila ou região do pescoço;
- Perda de peso;
- Fadiga.
Vinícius Miranda Borges, oncologista do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), reforça a importância de adotar um estilo de vida saudável como parte da prevenção do câncer de mama: “Há fatores de risco que podem ser controlados, como manter um peso saudável, evitar o uso prolongado de hormônios externos, reduzir o consumo de álcool, praticar atividade física regularmente e evitar o tabagismo”, explica.
A disseminação de informações e a conscientização são essenciais para melhorar os resultados no combate ao câncer de mama. “Encorajamos todas as mulheres a adotar práticas preventivas e a se submeterem a exames regulares conforme orientação médica. A prevenção começa com o conhecimento e o autocuidado”, finaliza o especialista.
Com Assessorias