Na semana em que se comemora o Dia Mundial de Luta contra a Aids (1/12), uma boa sugestão de leitura para este Dezembro Vermelho é a obra lançada este ano, em plena pandemia, pela médica infectologista Marcia Rachid. Referência no tratamento da Aids no Brasil, ela entendeu que havia chegado a hora de compartilhar histórias e sentimentos acumulados em sua cruzada de quase 40 anos para salvar vida.

O resultado é Sentença de vida, lançado pela Máquina de Livros, que reúne lembranças e anotações da autora em sua incansável luta contra o HIV desde os anos 80, quando não havia medicamentos contra o vírus. São crônicas do mundo real, que nos fazem rir e chorar numa mesma página.

Neste mergulho de Marcia em sua própria trajetória, emergem relatos únicos, sem nome, mas repletos de emoção. Como a história de um paciente que lhe pediu mais alguns meses para ver sua escola de samba ser campeã no carnaval.

Ou de um outro, hoje com 90 anos, que ri por ter perdido a maior parte dos amigos, enquanto ele, porta- dor do HIV há três décadas, vive saudável e realizado. Por outro lado, há episódios como a do adolescente, infectado com o vírus, que esconde dos pais seu tratamento, seus remédios e suas angústias.

Assim, Sentença de vida é também um manifesto contra o preconceito, que ainda hoje envolve quem tem aids. O livro traz histórias de pacientes marginalizados por amigos, familiares ou até mesmo outros médicos. Com delicadeza e sensibilidade, Marcia homenageia os que já se foram, os que sobreviveram e os que passaram praticamente incólumes pela doença. “Todos vivem em mim”, diz Márcia, que em 1989 seu uniu a Herbert Daniel e outros ativistas na criação do Grupo Pela Vidda.

Sentença de vida foi concluído pouco antes da pandemia do coronavírus. Mas a trajetória do HIV, de certa forma, ajuda na reflexão sobre o momento atual. A despeito de ter trabalhado por cerca de dez anos sem remédio para seus pacientes, Márcia Rachid nos mostra que ainda há muito a ser feito. Por isso, seus relatos não deixam de ser um alento contra o medo e a insegurança tão marcantes nesses últimos meses: “Um dia a mais de vida pode significar muito”, diz.

Na apresentação do livro, o psicanalista Benilton Bezerra Jr. resume a incansável luta de Marcia: “As histórias transmitem a convicção de que a solidariedade, a mobilização e o conhecimento médico compromissado com a vida podem sempre transformar o que parece uma sentença definitiva”.

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