A pandemia de Covid-19 veio, matou mais de 600 mil pessoas no Brasil e parece estar indo embora. Entretanto, a doença cardiovascular e o diabetes, assim como o excesso de peso ficam. Em um momento de crise econômica, onde se tem dificuldade de marcar consultas, particularmente no Sistema Único de Saúde (SUS), é extremamente importante a adoção de medidas para se fazer a prevenção da mais grave doença do diabetes: a cardiovascular.
O alerta é da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), por conta do dia 14 de novembro, lembrado anualmente como o Dia Mundial do Diabetes, doença crônica que afeta a maneira como o corpo metaboliza a glicose e afeta cerca de 250 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, 16 milhões de indivíduos têm diabetes, ou seja, um em cada nove adultos, e estima-se que 46% deles não sabem.
Acima de 50% daqueles que possuem alguma doença cardíaca possui também algum transtorno relacionado à glicose no organismo e a destaca que mais de dois terços das pessoas que morrem do coração têm diabetes e acima de 80% das mortes por diabetes estão relacionadas a problemas cardíacos e renais, ou seja, vasculares.
“O diabetes com a hipertensão arterial são as doenças mais prevalentes na população brasileira. O grande problema é que a sua principal complicação é a doença cardiovascular. Mais de 80% dos diabéticos morrem de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou doença renal, que também é uma doença vascular”, ressalta José Francisco Kerr Saraiva, o diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC/Funcor.
Diagnóstico precoce é fundamental para controle da doença
Segundo ele, antes da descoberta da insulina, em 1921, as pessoas com diabetes iam à óbito por desnutrição, infecções e coma cetoacidótico, por exemplo. A descoberta da substância, há um século, permitiu que as pessoas pudessem viver e envelhecer, e com o envelhecimento no diabetes, veio a doença cardiovascular.
Geralmente o paciente só é diagnosticado quando apresenta lesão na retina, ou no rim, disfunção erétil ou doença cardíaca, por exemplo. Nesses casos, o diabetes evoluiu silenciosamente sem ser detectado e a confirmação tardia pode trazer complicações irreversíveis. O diagnóstico precoce é fundamental para prevenir ou minimizar tais problemas.
“O diagnóstico do paciente diabético, hoje, está associado ao aumento do peso, que está relacionado a hábitos contemporâneos não saudáveis, como inatividade física e excesso de alimentos calóricos. Se as pessoas fizerem exercícios, ingerirem uma menor quantidade de alimentos calóricos e tiverem possibilidade de realizar dieta saudável, rica em alimentos naturais, elas terão uma menor ingestão de caloria. Reduzindo o peso você vai diminuir a sua sobrecarga na produção de insulina”, afirma o diretor.
Segundo ele, o aumento da população acima do peso é um fator preocupante, afinal estudos já indicaram que o aumento de peso é proporcional ao aumento de incidência de diabetes. Dados do Ministério da Saúde e de outras pesquisas mostraram que dos adultos no Brasil, mais de 50% estão com excesso de peso, o que acaba levando à chamada intolerância ou resistência à insulina.
Adiposopatias neutralizam ação da insulina
“Sabemos que o excesso de peso vai muito além do acúmulo de gordura. Essa adiposidade abdominal, inclusive, ganhou recentemente um nome na Organização Mundial da Saúde (OMS): são as adiposopatias, ou seja, doenças relacionadas à produção de hormônios no tecido gorduroso ao redor do fígado e dos intestinos, que podem neutralizar a ação da insulina, predispondo ao diabetes”, explica o diretor.
A OMS projeta que em 2025 haverá 2,3 bilhões de pessoas com sobrepeso e mais de 700 milhões de obesos no planeta, aumentando, consequentemente, o número de pessoas com diabetes.
Com isso, também se estará mais propenso à hipertensão arterial, dislipidemias e doença aterosclerótica, que compromete os vasos sanguíneos, o cérebro, as artérias coronárias e os rins. Além disso, o diabetes pode levar a outras doenças arteriais periféricas que ocasionam amputação de membros.
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Desafio é incentivar a prevenção da doença cardiovascular
Para Saraiva, o grande desafio em um país com mais da metade da população com excesso de peso e mais de quatro milhões de pessoas tomando insulina é fazer a prevenção da doença cardiovascular para evitar que o diabetes progrida.
Isso se faz, primeiramente, tomando corretamente as medicações para o controle da glicose, e mudando o estilo de vida, ou seja, realizando atividade física – desde caminhadas, corridas, andar de bicicleta. O melhor esporte é aquele que os indivíduos têm vontade de praticar.
“O mais importante é que o indivíduo procure uma atividade física que seja do seu prazer e com isso consigamos melhorar esse cenário da redução do peso. Sabemos que as pessoas fisicamente ativas têm menor peso”, conta o médico.
Outras recomendações que são extremamente importantes, como combater o tabagismo – “o fumo é um verdadeiro veneno para esses pacientes” – e ter uma dieta saudável, baseada em alimentos naturais e evitando o consumo de produtos processados, como açúcar.
“Eu diria que se você perder peso, praticar exercícios e possuir uma alimentação saudável, a sua chance de ter complicações do diabetes é muito menor, particularmente se você fizer atividades físicas e o uso correto dos medicamentos”, afirma Saraiva.
Fonte: SBC, com Redação