Este ano, o Brasil atingiu a marca de 672 mil pacientes que se tratam com cannabis medicinal, número recorde e 56% superior ao do ano passado. Os pacientes estão espalhados por aproximadamente 80% dos municípios. Os dados constam do anuário produzido pela Kaya Mind e divulgado nessa terça-feira (26).
A liberação, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quanto ao cultivo da planta, tem colocado o Brasil em evidência. Ao todo, este ano, 413 empresas estrangeiras exportaram produtos para o país, o que significou, ainda, diversificação dos itens nesse mercado. Hoje, há mais de 2.180 produtos de cannabis medicinal, variedade que contempla diversas condições, de Alzheimer a autismo.
O segmento movimentou R$ 853 milhões, valor que ajuda a dimensionar sua força.  A quantia atingida este ano supera em 22% a do ano passado, de R$ 699 milhões. A projeção é de que o faturamento chegue a R$ 1 bilhão em 2025. Em 2021, o montante foi bem inferior, de R$ 144 milhões, passando, no ano seguinte, para R$ 364 milhões.
A expansão da cannabis medicinal é visível no Brasil, não apenas em números, mas na forma como a medicina integra essas opções de tratamento à rotina dos pacientes em todo o país”, diz Maria Eugenia Riscala, CEO da empresa Kaya, que abriga a Kaya Mind, responsável pelo levantamento.

Segundo ela, os frascos com cápsulas e as embalagens de óleos, sprays e tópicos ainda não se sobressaem nas prateleiras por conta dos entraves relativos à legalização. Isso ajuda a explicar por que quase metade dos pacientes medicinais (47%) depende da importação do produto que necessitam e que conseguem mediante prescrição médica. O restante recorre a farmácias (31%) e associações (22%).

Conservadores abandonam preconceito ao ver evolução dos pacientes

As associações de pacientes exercem um papel fundamental para quem não tem condições financeiras de cobrir os gastos. A TO Ananda, associação do Tocantins, uma das diversas Organizações Não Governamentais (ONGs) que oferecem apoio a pacientes e familiares de pacientes que usam a cannabis medicinal.

Jonadabe Oliveira da Silva, vice-presidente da TO Ananda, diz que observa até mesmo pessoas mais conservadoras compreendendo que se trata de algo verdadeiramente eficaz e abandonando o preconceito. “Estão quebrando [a visão preconceituosa ou de que é tabu] depois de ver pacientes”, afirma Jonadabe.

A organização completou dois anos, sempre mantendo o espírito de colaboração e de senso coletivo. Ele conta que a entidade surgiu a partir da experiência da presidente atual, que tomava um analgésico conhecido, bastante forte, para dor, durante muito tempo e resolveu se desintoxicar. Ela, então, conheceu o óleo de cannabis. “E aí, ela foi procurar pessoas que tinham alguma história com o óleo”, esclarece Silva.

Atualmente, a associação conta com o apoio da Defensoria Pública e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e, para o ano que vem, a expectativa é a de que fechem parcerias com laboratórios e instituições de ensino superior privadas. A ampliação da entidade tem dado segurança a Silva, inclusive, para trocar de carreira. “Eu atuo como cabeleireiro, mas estou em transição, estudando o cultivo, o mercado.”

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Aumento no consumo e redução dos preços de até 25% em 3 anos

O mercado brasileiro de cannabis medicinal vive um momento de transição significativo. Nos últimos dois anos, houve uma desaceleração nas importações, enquanto as vendas nas farmácias mais que dobraram ano a ano. O crescimento deste mercado regulado impulsionou a concorrência e o consumo local, resultando em uma redução contínua nos preços dos produtos de cannabis disponíveis nas farmácias do país.

A análise é da Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCann), que diz ter observado uma queda histórica de 25% no valor médio dos produtos nos últimos três anos.

Nos últimos 12 meses, as vendas de produtos de cannabis movimentaram R$ 170,2 milhões, com 438 mil unidades vendidas e 95 mil pacientes atendidos. Esses dados, fornecidos pela consultoria IQVIA, especializada em monitoramento de vendas no varejo farmacêutico, sublinham o crescimento acelerado do setor, além de refletirem a crescente aceitação e demanda por produtos regulamentados pela Anvisa”.

Os dados da IQVIA revelam um crescimento substancial nas vendas de produtos de cannabis medicinal nas farmácias. Apenas entre janeiro e abril de 2024, foram comercializadas 165,8 mil unidades, um aumento de 96% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Este crescimento robusto e sustentado demonstra que o mercado de cannabis medicinal no Brasil está em uma trajetória ascendente, com clara mudança do perfil de consumo, além de enorme potencial para transformações significativas na saúde pública e nas oportunidades de negócios”, afirma a BRCann.

Prioridade para produtos em farmácias e drogarias

Em um movimento estratégico para consolidar o mercado regulado de cannabis medicinal no Brasil, a Anvisa aprovou este ano a Análise de Impacto Regulatório (AIR), essencial para a revisão da RDC 327/19.

A medida visa priorizar a comercialização de produtos de cannabis nas farmácias e drogarias sujeitas à vigilância sanitária, em detrimento dos produtos importados pela RDC 660/22 ou manipulados por associações de pacientes.

Atualmente, a Anvisa já emitiu 36 autorizações sanitárias para produtos de cannabis no contexto da RDC 327/19, dos quais 26 estão efetivamente no merc

Prazo estendido para estudos clínicos

A indústria farmacêutica deve investir substancialmente em estudos científicos para comprovar a eficácia e segurança dos produtos de cannabis, uma exigência regulatória para que sejam qualificados como medicamentos, tenham seus preços regulados pela Câmara de Medicamentos (CMED) e, eventualmente, incluídos na Conitec – Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (SUS).

A BRCann estima que o setor deve destinar cerca de 300 milhões de reais nos próximos três anos para a realização dos estudos clínicos necessários. Para a entidade, o investimento em estudos clínicos não é apenas uma exigência regulatória, mas uma estratégia essencial para liderar um mercado em expansão. “Isso também proporcionará produtos seguros e eficazes aos pacientes, ao mesmo tempo em que reduzirá a circulação de mecanismos alternativos não regulados no Brasil”, diz a entidade.

Originalmente transitória, a RDC 327/19 estava prevista para durar cinco anos. Agora, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera estender esse prazo por mais cinco anos, permitindo que as empresas que se submetem aos termos da RDC 327/19 completem os estudos clínicos necessários para alçar os produtos de canabis à posição de medicamentos – fitoterápico, específico ou novo.

A pandemia de covid-19, que coincidiu com a promulgação da regulamentação, atrasou significativamente o avanço das pesquisas, então a forte atuação da Anvisa em prol desta extensão visa corrigir as distorções experimentadas pelo mercado.

Com informações da Agência Brasil e BRCann

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