O dia 13 de maio, quando se reforça a luta contra o preconceito racial no Brasil, também serve para discutir ações de equidade racial em saúde. De acordo com relatório da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), a população negra também tem menos acesso à saúde comparada à branca, inclusive na rede pública. Os dados mostraram que as pessoas de cor preta (11,9%) e parda (11,4) são destaque entre as que se sentiram discriminadas no serviço do Sistema Único de Saúde (SUS).

Além de buscar combater o racismo estrutural e reconhecer iniquidades que afetam a saúde, o relatório inclui atenção especial às doenças prevalentes na população negra, como o maior risco de hipertensão arterial, pré-eclampsia e eclampsia durante a gravidez. O ginecologista Carlos Alberto Sá Marques, membro da Comissão de Ética da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica.

“Existem doenças que são mais frequentes em pessoas negras, então o atendimento deve ser direcionado para a busca dessas patologias. Por exemplo: a hipertensão arterial é mais frequente na população negra, assim a chance de doença hipertensiva gestacional é mais comum nas mulheres negras. Com isso, o atendimento pré-natal é orientado no sentido de identificar precocemente essa complicação da gestação”.

Segundo ele, na área médica, o exercício da ética deve estar presente em cada atividade exercida, como na avaliação de riscos do paciente, na recepção, na qualificação técnica e na promoção do bem-estar de pacientes, acompanhantes e colegas.

“A princípio a população é atendida de acordo com a suas necessidades, de forma igualitária, não levando em consideração as suas características raciais. É dever do médico dedicar ao paciente a máxima atenção. Observar o paciente detalhadamente, responder aos seus questionamentos, aplicar todos os seus conhecimentos científicos em prol do paciente e jamais agir com imprudência, negligência ou imperícia”, enfatiza o Dr. Carlos.

Hipertensão arterial crônica é duas vezes maior em mulheres negras

Para Sérgio Hecker Luz, membro da Comissão de Assistência Pré-natal da Febrasgo, a hipertensão arterial crônica (HAC) se constitui em um desafio de saúde para todas as populações, especialmente nos países em desenvolvimento. Dados apontam que a HAC é duas vezes mais comum e provoca mais complicações obstétricas em mulheres negras do que em brancas.

“Considerando que as mortes maternas brasileiras, preponderantemente, estão relacionadas aos distúrbios hipertensivos, esta intercorrência clínica se reveste de destacada relevância quanto à necessidade dos profissionais que prestam assistência às gestantes e puérperas estarem qualificados e proporcionarem condutas oportunas e efetivas no intuito de reduzir danos maternos e para o nascituro”, comenta o especialista.

Apenas 3 entre 10 jovens médicos são negros

A desigualdade social entre pessoas negras e brancas no Brasil é uma realidade que se manifesta também nos cursos de Medicina. De acordo com o levantamento ‘Demografia Médica do Brasil’, publicado em 2023 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Universidade de São Paulo (USP), apenas 27% dos profissionais residentes em Medicina são negros (dos quais 3% se declaram pretos e 24% pardos), e 70% se identificam como brancos.

Vale ressaltar que todas as Unidades de Saúde Básicas possuem uma ouvidoria que pode ser acionada em casos em que o paciente se sinta discriminado e as distorções porventura existentes devem ser corrigidas. O médico tem a obrigação de observar os princípios éticos e deve ser penalizado quando deixa de cumpri-los, sendo denunciado à comissão de ética da UBS e ao Conselho Regional de Medicina, quando necessário.

Para um terço dos negros, discriminação racial aumentou

luta pela igualdade racial parece passar mesmo pela conscientização. Para 34% de clientes negros que responderam a uma enquete realizada pela plataforma TIM Ads, em 2022, a discriminação racial tem aumentado no Brasil, outros 29% acham que permanece igual. Isso significa que mais de seis entre dez participantes pretos e pardos creem que a situação não melhorou no país. Apenas 17% pensam que o preconceito tem sido reduzido. O levantamento foi feito com 227,4 mil clientes de planos pré-pagos da companhia, de todo o país, dos quais 106,7 mil se declaram pretos e pardos.

Esse quadro se traduz no local de trabalho, onde metade diz já ter sofrido racismo ou visto alguém ser discriminado devido à cor da pele. Já 46% contam que sentem que seu ambiente na empresa é inclusivo, embora 20% não achem que valorizem tanto a diversidade racial. E 56% contam que já perderam oportunidades de emprego ou conhecem pessoas que foram preteridas no preenchimento da vaga por discriminação racial.

Já 36% deles acham que a luta contra a discriminação racial está ganhando força no Brasil; 21%, que permanece igual; 13% pensam que estaria se enfraquecendo; e outros 30% não souberam responder. A pesquisa mostrou ainda que 48% da população afrobrasileira conhecem o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, mas 33% somente ouviram falar da data. Ou seja, praticamente um terço ainda desconhece o seu significado.

Com Assessorias

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