A cantora Ludmilla, de 29 anos, revelou neste sábado (9), durante o show da turnê Numanice 3, que ela e a dançarina Brunna Gonçalves, 32, estão esperando o primeiro filho. Nas redes sociais, a notícia também foi contada através de um vídeo em que a cantora aparece pintando um quadro enquanto Brunna dança – fazendo com que o desenho se transforme em um bebê. No palco, Ludmilla beijou a barriga de Brunna. “Agora somos três”, disse a cantora.
O casal havia anunciado há exatamente um ano que estava em tratamento nos Estados Unidos para conseguir engravidar, pelo método da fertilização in vitro (FIV). Recentemente, os influenciadores digitais Carlinhos Maia, de 33 anos, e Lucas Guimarães, 30, também anunciaram em suas redes sociais que irão aos EUA para iniciarem um processo de paternidade por meio da reprodução assistida.
Embora pareça impossível, com o avanço da medicina reprodutiva, este tipo de gestação vem se tornando cada vez mais comum. Mas o que muitos casais homoafetivos não sabem é que não é necessário buscar esta alternativa fora do país. No Brasil, a prática é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), demonstrando ser totalmente segura.
Desde 2013, casais homoafetivos e indivíduos solteiros têm acesso permitido às técnicas de fertilização in vitro (FIV) no Brasil previstas na Resolução 213/2013 do CFM. Em 2017, houve a ampliação de técnicas de reprodução assistida permitida, como a gestação compartilhada (ou recepção de óvulos da parceira – ROPA).
O Portal Vida e Ação ouviu vários especialistas em reprodução assistida para explicar todas as opções disponíveis. Confira!!!
Nasce um novo conceito de família
De acordo com Edson Borges Jr, diretor científico do FertGroup, a possibilidade de pessoas em relacionamentos homoafetivos gerarem uma família é uma questão de autonomia e reconhecimento dos direitos individuais. “Técnicas como fertilização in vitro, inseminação artificial ou até mesmo barriga solidária possibilitam que a parentalidade seja alcançada de forma inclusiva e atue na quebra das barreiras tanto sociais, quanto biológicas”.
O fato é que casais homoafetivos, seja de homens ou mulheres, podem realizar o sonho de ser pais ou mães com as mesmas técnicas seguras e reconhecidas usadas por casais heterossexuais”, celebra Alfonso Massaguer, ginecologista especialista em reprodução humana, diretor clínico da MAE (Medicina de Atendimento Especializado).
Como a FIV funciona em casais de mulheres?
Dentre os tratamentos disponíveis, a FIV e a inseminação artificial continuam sendo os mais buscados pelos casais LGBTQIAPN+. No caso das mulheres, como foi o caso de Ludmilla e Brunna, o tratamento para casais homoafetivos costuma ser mais simples, sendo necessário apenas um doador de sêmen – que pode ser anônimo de um banco de sêmen ou ainda de um parente até quarto grau.
Na FIV, uma das parceiras doa o óvulo e o embrião é transferido para o útero da outra mulher, que será a responsável pela gravidez – também conhecida por gestação compartilhada. Porém, independente da técnica escolhida pelo casal, é fundamental buscar pela ajuda de um especialista.
Contar com uma clínica de medicina reprodutiva se tornou uma realidade no Brasil para os casais LGBTQIAPN+, não sendo mais necessário ir tão longe. O Brasil está “par e passo” nas técnicas e resultados dos tratamentos de Medicina Reprodutiva, quando comparado com os outros países. Optar pelo serviço é um fator que traz segurança aos pacientes, além de oferecer informações relevantes”, orienta o especialista.
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Segundo a especialista, a FIV consiste na doação de óvulos, geralmente vinda de uma mulher anônima ou de algum familiar do casal. Já a substituição de útero, mencionada por Carlinhos, envolve a fecundação do óvulo com espermatozoide de um dos parceiros do casal e a transferência do embrião para o útero da “barriga solidária”. A médica diz que o processo de doação de espermatozoides ou de barriga solidária não deve ter nenhum caráter lucrativo ou comercial.
A barriga solidária deve ser encontrada pelo casal e, por determinação do CFM, deve pertencer à família de um dos parceiros do casal, em um parentesco consanguíneo até o quarto grau. Ou seja, mãe, irmã, avó, tia ou prima. Além disso, a mulher deve ter até 50 anos de idade, já ter um filho vivo e estar em boas condições de saúde física e mental”, explica Dra. Claudia.
Quando pessoas LGBTQIAPN+ devem procurar um especialista?
Segundo a especialista, embora o assunto pareça simples, ainda é cercado por dúvidas e polêmicas, especialmente com relação aos riscos, taxas de sucesso e etc. “Por isso, um casal interessado em ter um filho por meio da reprodução assistida deve procurar uma clínica especializada que ofereça profissionais capacitados, além de um ambiente acolhedor e humanizado, com tecnologia e processos eficazes e seguros”.
A busca por um especialista, aliás, costuma ser um ponto muito individual de cada casal LGBTQIAPN+, contudo, alguns momentos podem ser importantes para o início de uma avaliação detalhada. Um deles é o planejamento familiar, justamente para que sejam discutidas as melhores opções disponíveis para cada casal.
Tão importante e delicada como a decisão de ter filhos em casais heterossexuais, Paula Fettback, ginecologista especialista em Reprodução Humana pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), chama a atenção também para momentos que precedem a concretização da gravidez:
A gravidez para casais homoafetivos é um processo importante. Tudo deve ser feito com o máximo de compromisso e cuidado, com profissionais capacitados e ambientados com a legislação, para que o casal gere uma criança saudável e, da mesma forma, um ambiente familiar saudável“, recomenda a ginecologista.
Estamos grávidas(os). E agora?
Em paralelo ao processo da gravidez em si, diversas outras esferas exigem a atenção do casal, segundo Paula Fettback. Ela cita, por exemplo, a questão do registro do bebê: “Depois de todos os procedimentos, a criança gerada deverá ser registrada com o nome dos dois pais, ou das duas mães, por um deles, em cartório”.
Segundo ela, no que tange à licença maternidade ou paternidade, ambos terão direito, “sendo que a licença maternidade de 4 meses é geralmente liberada para apenas um deles, caso ambos trabalhem”, detalha a médica.
Outro momento é para pessoas que passarão pela transição de gênero e desejam preservar a fertilidade antes do tratamento. “Em casos como esse, podemos aconselhar a criopreservação de óvulos ou de espermatozoides, por exemplo”, finaliza Edson Borges.
Maternidade e paternidade entre casais homoafetivos: conheça as opções legais
Aos casais que desejam explorar as possibilidades, o médico Alfonso Massaguer, ginecologista especialista em reprodução humana, lista as opções autorizadas no Brasil:
Para casais de mulheres:
- Inseminação Intrauterina (IIU):
A IIU envolve a introdução de esperma doado diretamente no útero durante a ovulação. É uma técnica menos invasiva e mais acessível financeiramente, com uma taxa de nascimento vivo de cerca de 20% por ciclo. A técnica demanda pelo menos uma trompa normal para o sucesso.
- Fertilização In Vitro (FIV):
A FIV consiste na fertilização de óvulos com esperma doado em laboratório, seguida da transferência do embrião para o útero. Sua taxa de sucesso é de aproximadamente 60% por ciclo e ela permite o congelamento de embriões para futuras tentativas sem que seja necessária uma nova coleta de óvulos.
- Recepção de Óvulos da Parceira (ROPA):
Ela atende a casais femininos em que ambas as parceiras desejam participar biologicamente do processo: uma fornece os óvulos e a outra gestará o embrião. A taxa de nascimento vivo para esta opção é de cerca de 70% por tratamento. A FIV é necessária para a realização desta modalidade.
Para casais de homens:
- Fertilização In Vitro (FIV) com Útero de Substituição:
Envolve a fertilização de óvulos de uma doadora com o esperma de um dos parceiros e transferência do embrião para o útero de uma gestante de substituição. Neste caso, a gestante pode ser uma parente de até quarto grau. Se não houver esta possibilidade, uma outra pessoa pode ser escolhida com autorização do Conselho Regional de Medicina (CRM). A taxa de nascimento vivo neste caso é de aproximadamente 85%.
Com Assessorias