O Loucura Suburbana é o último dos quatro blocos dedicados à saúde mental do Rio a desfilar no Carnaval 2023. Na última quinta-feira antes do Carnaval (16) , o bairro do Engenho de Dentro volta a receber o bloco que usa a luta antimanicomial para expressar sua arte há mais de 20 anos. Os blocos Zona Mental e Tá Pirando, Pirado, Pirou desfilaram no último final de semana e o Império Colonial se apresenta nesta terça-feira (14).
Além da alegria e do samba no pé, todos são formados por usuários, familiares e profissionais da rede de saúde mental da cidade, que aproveitam a maior festa popular brasileira, em toda sua diversidade, para promover a inclusão e o respeito. Com participação de moradores locais e foliões de toda a cidade, os blocos fazem parte do circuito oficial do carnaval carioca e além de promover a integração com a comunidade, dão visibilidade à luta antimanicomial.
Integrante da bateria do Loucura Suburbana há dois anos, Pauline Carvalho se emocionou ao falar da motivação da festa. “A causa do bloco, a luta antimanicomial, é algo que me toca. O Loucura Suburbana integra os pacientes do IMNS com os moradores do entorno. É um propósito além do carnaval, é promover a saúde das pessoas que precisam de assistência psicossocial”, conta a tamborinista.
Já a vice-diretora do IMNS, Priscilla Hauer, destacou a importância que o Loucura Suburbana ganhou no Engenho de Dentro: “O bloco se tornou o evento que marca o início do carnaval na Zona Norte, virou uma tradição que mobiliza várias entidades. É uma verdadeira interseção entre a comunidade e a instituição, desde os usuários até os profissionais. E as atividades não se restringem só a fevereiro, mas produzem cultura o ano todo, se preparando para este momento”.
Bloco ultrapassou barreiras do hospício
Pioneiro entre os blocos da saúde mental no Rio, o Loucura Suburbana foi criado em 2001 como parte do processo de integração dos pacientes do Instituto Municipal de Assistência à Saúde (IMAS) Nise da Silveira com a comunidade. O bloco sairá pelas ruas do bairro da Zona Norte, também comemorando o retorno ao convívio social com o fim das restrições impostas pela pandemia. Com 40 ritmistas e cerca de mil componentes, os foliões partem do IMAS e seguem pelas ruas do bairro até retornar ao Instituto.
O Loucura Suburbana conseguiu ultrapassar as barreiras dos hospícios, além de botar o bairro do Engenho de Dentro no mapa dos grandes blocos do Carnaval de rua carioca. A iniciativa tem a missão de abrir o carnaval na região. Ou seja, além de divertir os foliões, o bloco busca transformar o preconceito contra a loucura em respeito. Os bonecos de Germano, estruturas do mesmo patamar dos bonecões de Olinda (PE), são características marcantes no desfile do bloco.
No início da década passada o bloco carnavalesco se tornou o primeiro Ponto de Cultura em saúde mental na cidade do Rio de Janeiro. O espaço disponibiliza atividades faz uma linha do tempo que resgata o nosso samba e o nosso carnaval. O Ponto de Cultura Loucura Suburbana: Engenho, Arte e Folia também tem a missão de incorporar a cultura aos dispositivos de saúde mental e a população ao lado criativo do inovador do mundo da loucura.
O trajeto parte da Rua Ramiro Magalhães 521 e segue pela Rua Gustavo Riedel; Rua Pernambuco; Praça Rio Grande do Norte; Rua Barbacena; Rua Ana Leonídia; Rua Gustavo Riedel. Trajetos e horários podem sofrer alterações. O desfile acontecerá às 17h, com concentração uma hora antes em frente ao Instituto. O cortejo tem o financiamento do Fomento à Cultura Carioca, um projeto de patrocínio da Prefeitura do Rio.
Blocos ligados à rede de saúde mental promovem muito samba no pé
O primeiro dentre os quatro blocos de saúde mental do Rio a destilar desfilar foi o Zona Mental, na última sexta-feira (10/2), com concentração na Praça Guilherme da Silveira, em Bangu, zona oeste da cidade. Iniciativa do coletivo da rede de atenção psicossocial da Zona Oeste, a agremiação saiu pela primeira em 2017, reunindo ainda estudantes, artistas e moradores do Jardim Sulacap a Sepetiba.
Neste ano, o bloco homenageou o craque Marinho, ex-jogador do Bangu e usuário da rede, falecido em 2020. O samba vencedor é de autoria de usuários e profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad) Júlio César de Carvalho, em Santa Cruz.
Já o Tá Pirando, Pirado, Pirou! abriu alas para a loucura no Carnaval do Rio no dia 12 (o bloco desfile sempre no domingo que antecede o carnaval), na Urca, bairro que abrigou o Hospício Pedro II, o primeiro da América Latina. Neste ano, o bloco – que nasceu a partir de articulação de trabalhadores e usuários do Instituto Philippe Pinel, em Botafogo – comemorou 18 anos.
Após o hiato provocado pela pandemia, rendeu uma homenagem aos que partiram, vítimas da Covid-19, com o enredo “Gurufim pra recomeçar”, de Munique Matos. O bloco ficou concentrado, com participações especiais dos cantores Makley Matos, Nina Wirtti e Julieta Brandão. O desfile teve apoio da bateria da Portela. Além do samba escolhido para o carnaval 2023, foram entoados sambas imortais conhecidos do grande público.
No mesmo dia, já em frente ao Pão de Açúcar, o Tá Pirando, Pirado, Pirou! cantou seu último samba com carro de som e depois em versão acústica. Mantendo a tradição, outros blocos de rua foram convidados a participar do cortejo. Neste ano, os convidados foram o Vem Cá Minha Flor e a Sinfônica Ambulante, promovendo uma grande integração social.
Fundado em 2011, o Império Colonial desfila na terça-feira (14), com concentração na horta do Museu Bispo do Rosário, em Curicica. Neste carnaval, além do fim das restrições impostas pela pandemia, o grupo temmais um motivo para comemorar: o fim das internações de longa permanência no Instituto Municipal de Assistência à Saúde (IMAS) Juliano Moreira, com o encerramento do Núcleo Franco da Rocha, no dia 27 de outubro de 2022. Com a medida, a Prefeitura do Rio concluiu o processo de desinstitucionalização de pacientes psiquiátricos na cidade, um marco da luta antimanicomial.
Agenda dos Blocos
Acompanhe a agenda de blocos de rua pelo instagram @blocosderuario para saber novidades e informações mais atualizadas sobre os Blocos de Carnaval de Rua do Rio de Janeiro.
Com Riotur e SMS-Rio (atualizado em 16/02/23)