Falta um mês para o Carnaval, que acontece oficialmente no dia 13 de fevereiro, mas que, como todos sabem, começa bem mais cedo no Rio de Janeiro. Então, é hora de esquentar os tamborins. Quem é louco pela festa mais popular do planeta já começa a planejar seu roteiro de blocos e a pensar na fantasia. E quem acha que samba não tem nada a ver com saúde está enganado. Está mais do que comprovado o efeito terapêutico do Carnaval para a saúde mental.

No Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira, na zona norte do Rio, o clima chega bem antes, com os preparativos para o Loucura Suburbuna, tradicional bloco que reúne pacientes psiquiátricos e seus familiares e também profissionais de saúde mental. O bloco faz parte do processo de integração dos pacientes com a comunidade e já desfila há 23 anos, com objetivo de promover a inclusão e o respeito às pessoas com transtornos mentais.

Atriz, produtora teatral e radialista, Ayala Rossana é uma das envolvidas no carnaval do Loucura. É dela e de Elaine Morgado a letra de ‘Loucura Suburbana, um ritual de alegria’, que concorre na escolha do samba, no próximo dia 25 de janeiro. Sua parceira, Elaine, venceu o samba de 2023. Abel, professor de Música e instrumentista responsável pelo bloco, gravou com as compositoras, acompanhando o samba no cavaquinho.

“Eu sou apaixonada pelo Loucura porque é um bloco de muita relevância dentro da saúde mental, um bloco que faz uma diferença incrível com a bateria Insandecida. É um lugar que me faz muito bem porque eu amo Carnaval, amo cultura, amo teatro, amo escrever. Então, esse lugar me faz ficar mais criativa”, ressalta a artista.

Elaine Morgado também fala da sua paixão pelo Loucura Suburbana: “É Loucura por ser um bloco da diversidade que abraça a diversidade e tem a sua cura coletiva. Como sou compositora, eu gosto de causas coletivas, eu acho que a gente só cresce coletivamente, no amor, na generosidade, nessa cadência mesmo coletiva. E eu estou super feliz de poder participar já neste ano, novamente, com essa parceira maravilhosa que é a Ayala, do Cura Suburbana”, afirma Elaine.

No Loucura, é Carnaval o ano inteiro

O Loucura Suburbana tem atividade cultural o ano inteiro, não é só no Carnaval. “Tem oficinas, tem um barracão dentro do próprio Instituto”, conta Ayala. O bloco se soma a outras atividades culturais desenvolvidas no antigo Hospital Psiquiátrico Nise da Silveira, no Engenho de Dentro. Como a Rádio Revolução, da qual Ayala também atua há 8 anos como voluntária.

“Tem o Loucura Suburbana, tem o Trilhos no Engenho, tem a Rádio Revolução, tem um grupo de escoteiros, tem a ginástica… Aos poucos, eu fui conhecendo mais a história da instituição, os  projetos que são desenvolvidos lá, as pessoas… E, como atriz, como produtora, como artista, eu gosto de escrever, então, resolvi compor meus próprios sambas, agora em parceria com a Elaine”, conta.

Depois de participar, como plateia, dos concursos de samba que aconteciam no Loucura, em 2022, Ayala acabou representando o irmão na final da edição realizada no Sesc do Engenho de Dentro, cantando o samba que ele inscreveu. Em 2023, ela decidiu, então, inscrever seu primeiro samba e agora neste ano resolveu concorrer novamente, junto com a vencedora do samba do ano passado. As duas resolveram montar um samba conjunto e contam sobre o processo de criação.

“É uma composição em conjunto que a gente fez juntas. A gente foi pensando, foi juntando, foi unindo, fez uma fusão de duas ideias e aí saiu esse samba pra concorrer. A gente tinha um tema esse ano, que foi colocado no grupo de compositores, que era pra falar de passado, futuro, presente, a respeito da saúde mental. Aí a gente construiu a letra em cima desse tema”, explica Ayala.

Além do samba, a atriz, produtora e radialista se inscreveu para o concurso de desenho da camiseta do bloco. “O Loucura é um bloco muito funcional, é patrimônio histórico do Rio de Janeiro, como a Revolução, a rádio que eu participo, é uma emissora que tem 30 anos, junto mesmo de todo esse processo, de todo esse trabalho com a saúde mental”, derrama-se Ayala, que se confessa loucamente apaixonada pelo bloco.

Trabalho no CAPS começou após o Loucura

O envolvimento com os temas da saúde mental foi crescendo e, há sete meses, a artista tornou-se colaboradora do CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Raul Seixas, no bairro do Engenho de Dentro, onde dá aulas de rádio e teatro.

“Já virou uma oficina de criatividade, inclusive eu tenho usuários do Caps lá, que já escreveram roteiro. Estou com o roteiro pronto aqui pra, de repente, a gente desenvolver uma pegada de cinema, um curta”, antecipa a atriz, animada com o trabalho.

Na Rádio Revolução, toda quinta-feira, Ayala apresenta um programa de entrevistas sobre o trabalho que desenvolve no Caps de Engenho de Dentro.

“Loucura, esse lugar é mais um lugar mesmo de equilíbrio, de criatividade. Eu exponho as minhas ideias e elas viram esses sambas que, graças a Deus, estão concorrendo desde o ano passado”, comentou.

E quem quiser torcer, pode se preparar. A escolha do samba acontece no dia 25 de janeiro, às 16h, no Kastellão (Rua Doutor Leal 861, próximo à UPA do Engenho de Dentro, em frente ao Bosque Dona Ivone Lara). A entrada é gratuita.

Conheça a letra do samba:

‘Loucura Suburbana, um ritual de alegria’

(Ayala Rossana – Elaine Morgado – OLM)

“Nosso barracão cheio de magia
Costura cores pra novas fantasias
Mundão de sonhos que viram samba
Loucura boa é Loucura Suburbana!”

“Alô Engenho de Dentro, nosso bloco vai arrasar…”

Vem cair nessa folia,
Nessa loucura
Que contagia
Loucura Suburbana faz a festa
Mais uma vez num ritual de alegria

E as lembranças do Nise da Silveira
Faz nosso bloco levantar poeira
Invade as ruas, desfila histórias
Com a Insandecida batucando suas memórias

Temos passado, somos presente
Já, o futuro, vem construir com a gente
Pé no chão e liberdade
Nise no coração, dignidade.

Ouça a playlist dos sambas concorrentes de 2024 aqui.

 

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