A chegada do inverno trouxe junto o aumento dos casos de síndromes respiratórias agudas graves – que atendem pela sigla SRAG e que envolvem infecções pelos vírus da Covid-19, gripe e da temida bronquiolite, entre outros.
Os três últimos boletins epidemiológicos divulgados pela Fiocruz nos dias 20 e 27 de junho e 4 de julho, indicam aumento nas internações, especialmente por influenza A (gripe), vírus sincicial respiratório (VSR) – causador da bronquiolite – e rinovírus. Crianças de até 4 anos seguem como a faixa etária mais afetada.
O novo Boletim do InfoGripe, divulgado nesta quinta-feira (4/7), reforça a alta circulação do vírus sincicial respiratório (VSR) nas crianças pequenas, com valores expressivos de incidência e mortalidade. Outro vírus com destaque na população infantil é o rinovírus.
O estudo aponta a manutenção do aumento de casos dos vírus influenza, VSR e rinovírus nos estados do Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo. Também continuam a aumentar novas hospitalizações por VSR e rinovírus em estados como Roraima, Amapá e Ceará.
Em 2024, já foram notificados 89.118 casos de SRAG, sendo 43.334 (48,6%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 33.319 (37,4%) negativos e ao menos 7.441 (8,3%) aguardando resultado laboratorial.
Do total, foram registrados 5.553 óbitos, sendo 3.057 (55,1%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 2.009 (36,2%) negativos, e ao menos 151 (2,7%) aguardando resultado laboratorial. Dentre os positivos este ano 57,3% são de Sars-CoV-2 (Covid-19), 27.2% são de influenza A, 9,9% de vírus sincicial respiratório e 0,5% de influenza B.
Em todo o país, há sinal de estabilidade nas tendências de longo prazo (últimas seis semanas) e de curto prazo (últimas três semanas). A análise tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) na semana epidemiológica26, de 23 a 29 de junho.
Rio de Janeiro registra aumento de casos de SRAG
No Rio de Janeiro, em análise divulgada nesta segunda-feira (1/7), a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) confirma que houve um aumento no número de casos por SRAG nas últimas três semanas. Apesar do aumento, as solicitações de leitos para idosos com 80 anos ou mais e para crianças com até quatro anos permanecem estáveis, apresentando pouca variação.
De acordo com os dados, a estimativa de casos (nowcasting) ultrapassa o canal endêmico, nas semanas mais recentes, indicando a necessidade de atenção e um monitoramento mais frequente.
A estimativa de casos para a Semana Epidemiológica 23 foi de 470 casos, com 380 já registrados; para a SE 24, o modelo apontou 471 casos estimados, sendo que 296 casos já estão registrados no sistema; para a SE 25 foram estimados 527 casos, com 259 já registrados.
Com o aumento no número total de casos registrados, seguimos em alerta. Este período do ano é muito caracterizado pelo crescimento de síndromes respiratórias. Por isso mesmo, a atenção precisa ser ainda maior”, ressalta Claudia Mello, secretária de estado de Saúde do Rio.
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A importância da vacinação contra a gripe e a Covid-19
Diante desse cenário neste início do inverno no hemisfério Sul – quando a transmissão de vírus respiratórios se intensifica -, pesquisadores e autoridades sanitárias destacam a importância da vacinação tanto da Covid quanto da influenza, de todos os públicos elegíveis para se imunizar.
De acordo com a pesquisadora Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz) e do InfoGripe, a vacinação contra a gripe segue como principal mecanismo de prevenção, pois evita o agravamento de casos de síndromes respiratórias agudas graves.
Além disso, alguns cuidados, como o uso de máscaras em locais fechados, com baixa circulação de ar, maior aglomeração de pessoas e em unidades de saúde, são recomendados, sobretudo aos moradores das regiões que apresentam alta na circulação de vírus respiratórios.
Tatiana recomenda que, em caso de aparecimento de sintomas, a orientação é que a pessoa se isole e fique em casa de repouso, evitando a transmissão do vírus a outros indivíduos que ainda não foram infectados e que são grupo de risco, como idosos, crianças e pessoas com comorbidades. Caso não seja possível, a indicação é sair de casa fazendo uso da máscara. uma piora desses sintomas, é fundamental buscar atendimento médico.
Em caso de sintomas como coriza, tosse leve, febre persistente, respiração acelerada e com dificuldade, reforçamos a necessidade de procurar uma unidade mais próxima de atendimento”, completa a secretária de Saúde do Rio.
Dados de positividade para semanas recentes estão sujeitos a grandes alterações em atualizações seguintes por conta do fluxo de notificação de casos e inserção do resultado laboratorial associado.
Sinal de aumento da Covid-19 no Nordeste
Em relação à Covid-19, o InfoGripe alerta para o início de atividade do vírus em alguns estados das regiões Norte e Nordeste, em especial no Piauí e no Ceará, ainda que siga em patamares baixos quando comparados ao histórico de circulação no país. Nas últimas semanas, a maior parte das hospitalizações por SRAG em idosos foram causadas pela Covid-19.
É importante que tanto hospitais quanto unidades sentinelas de síndrome gripal fiquem atentos para qualquer sinal de aumento de circulação do vírus nessas regiões”, ressalta a pesquisadora.
Nas quatro últimas semanas epidemiológicas, a prevalência entre os casos positivos foi de 43,8% para vírus sincicial respiratório (VSR); 21,5% para influenza A (gripe), 6,9% para Sars-CoV-2 (Covid-19) e 0,8% para influenza B.
Entre os óbitos, a prevalência entre os casos positivos foi de 46,3% de influenza A, 21,4% de vírus sincicial respiratório, 20,0% de Sars-CoV-2 (Covid-19) e 1,1% de influenza B.
A covid-19 tem se mantido em patamares baixos quando comparada a seu histórico de circulação. Contudo, o vírus tem sido a principal causa de internação por SRAG entre os idosos no estado do Ceará nas últimas semanas. Além disso, alguns estados do Norte e Nordeste têm apresentado uma leve atividade de covid-19.
9 estados com tendência de alto de SRAG a longo prazo
A atualização feita pela Fiocruz aponta que nove estados apresentam aumento de SRAG na tendência de longo prazo: Amapá, Ceará, Espirito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Sul, Roraima e São Paulo.
Entre as capitais, nove mostram indícios de crescimento de SRAG: Boa Vista (RR), Cuiabá (MT), Macapá (AP), Maceió (AL), Porto Alegre (RS), Rio Branco (AC), São Paulo (SP), Teresina (PI) e Vitória (ES).
Na semana anterior, o boletim revelava crescimento de SRAG em dez estados: Amapá, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo.
No RJ, vírus sincicial predomina em crianças; rinovírus entre os idosos
A nova edição do Panorama de Síndrome Respiratória Aguda Grave e Vírus Respiratórios (Panorama SRAG) da SES-RJ indica que crianças com idade até 4 anos seguem como a faixa etária com maior número de internações – incluindo as faixas de até 1 ano e de 1 a 4 anos – entre as SEs 23 a 25.
Nessa faixa, segundo dados do Painel Viral do Lacen-RJ, o laboratório estadual de referência, os principais agentes infecciosos são o Vírus Sincicial Respiratório (40,84%), um dos causadores da bronquiolite, e o rinovírus (32,23%).
Já o percentual de internações por SRAG na faixa etária de 80 anos ou mais apresentou uma leve diminuição nas semanas epidemiológicas 23 a 25 (02/06 a 22/06). Em relação aos principais vírus causadores de SRAG nesta faixa, houve um pequeno aumento em infecções por rinovírus (16,84%), uma diminuição nas causadas pelo Sincicial Respiratório (8,53%), e estabilidade nas causadas por influenza do tipo A (8,34%).
O novo Panorama SRAG no Rio de Janeiro levou em consideração as Semanas Epidemiológicas (SE) 23 a 25, que correspondem ao período de 2 de junho a 22 de junho. O Panorama SRAG também analisa os tipos de vírus que predominam nas diversas faixas etárias dos pacientes internados e as solicitações de leitos feitas por meio do Sistema Estadual de Regulação.
O estudo utiliza três sistemas como fonte de dados: o Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), o Sistema Estadual de Regulação (SER) e o Sistema de Informação de Gerenciamento de Amostra Laboratorial (GAL), no qual são registrados os resultados dos exames feitos pelo Lacen-RJ. Os dados constam no Painel de Indicadores Precoces, disponível no site da SES neste link https://cisshiny.saude.rj.gov.
Com informações da SES-RJ e Fiocruz (atualizado em 4/7/24)