O Brasil enfrenta uma onda de intoxicações por consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. Até o último dia 9, o país somava 259 notificações, sendo 24 confirmações, que chegaram a causar sequelas graves nas vítimas, incluindo 5 óbitos. O estado de São Paulo concentra a maioria dos casos, com 181 registros até o momento. Há pouco mais de uma semana, o Rio de Janeiro registrou a primeira suspeita de intoxicação por metanol, mas ainda não há casos confirmados da doença no estado.

Seguimos acompanhando os casos suspeitos e tomando as medidas necessárias para atender os pacientes. Apesar de termos um sinal de alerta ligado, o cenário ainda é favorável no estado. Nossos médicos estão preparados para atender possíveis intoxicações, mas é importante se informar e aumentar a cautela ao beber”, destaca a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.

Segundo ela, o ideal é reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente as destiladas até que haja o rastreio das adulterações. Ainda assim, se houver consumo, deve ser com atenção a possíveis sinais de falsificação. E em qualquer sinal de gravidade, a recomendação é buscar atendimento médico na unidade de saúde mais próxima.

As perguntas mais comuns sobre intoxicação por metanol

Diante disso, para orientar a população, a Secretaria de Estado de Saúde  responde as dúvidas mais comuns sobre os cuidados necessários ao ingerir bebidas alcoólicas.
Por que o metanol é tão perigoso?
O metanol é um solvente, utilizado em produtos industriais. Ele não é feito para o consumo humano. Quando ingerido, o corpo o transforma em substâncias ainda mais tóxicas, que podem causar danos muito graves , levar à cegueira e até à morte.
Com quais bebidas devo me preocupar para possíveis adulterações?
Qualquer bebida de origem duvidosa ou que não siga as normas de rotulagem e segurança deve ser evitada. A recomendação é consumir apenas produtos devidamente regularizados. Portanto, se consumir, que seja num estabelecimento de confiança, e atenção ao preço. Falsificações tendem a ser mais baratas, além disso podem ter sinais, como impurezas ou corpos estranhos no líquido.
Licores ou misturas caseiras devem ser evitados. São bebidas produzidas sem controle de destilação, e podem ter presença residual de metanol.
Quais sinais procurar numa garrafa?]
Os rótulos originais devem conter: denominação do produto, marca, lote, teor alcoólico, data de fabricação e/ou validade, conteúdo líquido, nome ou razão social e endereço completo do produtor, CNPJ ou equivalente, número de registro no Ministério de Agricultura e Pecuária.
Ao abrir a tampa de uma garrafa, a grande maioria faz barulho, e rompe as conexões plásticas. Produtos importados, como uísques, contam com o selo IPI, em material identificável na lateral da tampa. Já nos nacionais, não devem portar o selo.
Ao comprar, compare garrafas semelhantes. Devem ter o mesmo volume e cor. Bebidas são produzidas em série e possuem padrões de qualidade.
Se eu beber, com quais sintomas devo me preocupar?
Os sintomas podem aparecer entre 6 e 72 horas. Se, após consumir bebida alcoólica, a pessoa apresentar  visão turva, desconforto gástrico e quadros de gastrite, a recomendação é procurar a unidade de atendimento mais próxima de casa.
A intoxicação por metanol tem tratamento?
Sim. O tratamento deve ser feito em um hospital e prevê a administração de um antídoto (o próprio etanol, de grau farmacêutico) para impedir que o corpo transforme o metanol em substâncias tóxicas. Dependendo da gravidade, também pode ser necessária a hemodiálise para filtrar o sangue e remover a substância.

Médico emergencista esclarece principais dúvidas

Ademar Simões, médico emergencista e coordenador do Serviço de Emergência do Hospital Mater Dei Salvador, esclarece as principais dúvidas em relação às intoxicações por metanol na população, abordando sintomas, efeitos da contaminação, possibilidades de tratamentos e a chegada de antídotos contra a substância. Confira:

Quais são os principais sinais de intoxicação por metanol?

Os sintomas iniciais costumam ser parecidos com uma “ressaca forte”: náusea, vômito, dor abdominal e mal-estar. Além disso, a pessoa pode sentir dor de cabeça, tontura e fraqueza. Conforme a intoxicação progride, podem surgir alterações na visão (embaçamento, visão turva ou até cegueira), falta de ar, confusão mental e sonolência intensa. Em casos graves, pode evoluir para convulsões e coma.

Como o metanol age no organismo após a ingestão?

O perigo não é exatamente o metanol em si, mas os produtos de sua transformação no fígado. Quando metabolizado, ele se transforma em formaldeído e depois em ácido fórmico, substâncias extremamente tóxicas que afetam o sistema nervoso, a visão e a capacidade do corpo de manter o equilíbrio ácido-base.

Como a substância acaba afetando a visão e o sistema nervoso, podendo até mesmo induzir coma?

O ácido fórmico atinge principalmente o nervo óptico, que leva as informações dos olhos ao cérebro, causando visão borrada ou perda visual. Além disso, ele prejudica o funcionamento das células do sistema nervoso, levando a confusão mental, sonolência, convulsões e, nos casos mais graves, coma.

Existem diferenças de efeitos entre homens e mulheres?

Não existem diferenças significativas na forma como o metanol age entre homens e mulheres. O que muda é a quantidade ingerida em relação ao peso corporal: como, em média, mulheres têm menor peso, podem ser mais afetadas por doses menores da substância.

Pessoas com doenças pré-existentes (como fígado ou rins comprometidos) correm mais risco em caso de intoxicação?

Sim. O fígado é o órgão que transforma o metanol em suas formas tóxicas, e o rim é responsável por eliminar os resíduos. Pessoas com doença hepática ou renal têm mais dificuldade em lidar com a substância e podem evoluir mais rápido para quadros graves. Idosos e pessoas com doenças crônicas também estão em maior risco.

Como o etanol funciona no tratamento e por que ele é usado?

O etanol (o mesmo álcool presente em cerveja, vinho e destilados) compete com o metanol no fígado. Ou seja, quando o fígado está ocupado metabolizando o etanol, o metanol fica “em espera” e demora mais para ser transformado em suas formas tóxicas. Isso dá tempo para o corpo eliminar parte da substância pela urina e permite que o paciente receba tratamento hospitalar adequado.

Qual a diferença do etanol para o antídoto específico contra o metanol que está chegando aos hospitais brasileiros?

O antídoto específico chama-se fomepizol. Ele bloqueia diretamente a enzima responsável por transformar o metanol em ácido fórmico, sendo mais eficaz e seguro do que o etanol. Enquanto o etanol é uma alternativa útil e disponível, o fomepizol é a opção de primeira linha nos países onde está disponível.

Enquanto o fomepizol não é disponibilizado de forma geral no Brasil, quais medidas imediatas podem salvar a vida do paciente?

Além do uso de etanol em ambiente hospitalar, é fundamental o suporte intensivo: hidratação venosa, correção do desequilíbrio ácido do sangue e, nos casos mais graves, hemodiálise para remover rapidamente o metanol e seus derivados tóxicos do organismo.

Existe algum tempo crítico entre a ingestão e o início do tratamento que aumenta as chances de sobrevivência? O que deve ser feito para mitigar as consequências neste caso?

Sim. Quanto mais cedo o tratamento começar, maiores as chances de evitar sequelas e salvar a vida. Os sintomas podem demorar de 6 a 24 horas para aparecer, o que atrasa a busca por ajuda. O ideal é que qualquer suspeita de ingestão de bebida adulterada leve a pessoa imediatamente ao hospital. Não esperar os sintomas surgirem é a medida mais importante para mitigar as consequências.

Como se prevenir contra intoxicações por metanol?

Neste momento de incertezas, o melhor é evitar ingestão de bebidas destiladas, em especial em estabelecimentos duvidosos, que não garantam a procedência da bebida.

Com Assessorias

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *