Pesquisa realizada pela Aldeias Infantis SOS indica um aumento de 7,61% nas internações por afogamentos em 2022, entre a faixa etária de 0 a 14 anos. O aumento foi ainda maior entre bebês de até 1 ano de idade: houve 18,18% a mais casos de internação de crianças nesta faixa etária por este motivo.

Naquele ano, foram registrados 109.988 casos de internações de crianças e adolescentes no Brasil, causadas por acidentes (lesões não intencionais). As quedas responderam por 43% das ocorrências, enquanto as queimaduras foram responsáveis por 20% e os acidentes de trânsito, por 10% do universo avaliado.

O levantamento foi elaborado com base nos dados do DataSUS, departamento de informática do Sistema Único de Saúde, e desenvolvido pela unidade meio da Organização, Instituto Bem Cuidar.

Apesar de não figurar entre as principais causas de internação no ano passado, houve um aumento substancial em relação a 2021, ano em que os afogamentos representaram 26% dos óbitos por lesões não intencionais entre crianças e adolescentes, sendo a segunda causa de morte nessa faixa etária.

No grupo entre 5 e 9 anos, os casos de afogamento em 2022 aumentaram em 75%. Já em crianças de até um ano, esse acréscimo foi de 18,18%, enquanto na faixa etária entre 1 e 4 anos, de 1,48%.

Terceira causa de morte entre crianças e adolescentes em 2021

Já em 2021, os afogamentos representaram a terceira causa de mortes entre crianças e adolescentes no Brasil, só perdendo para acidentes de trânsito e sufocação, segundo pesquisa divulgada em junho deste ano pela Aldeias Infantis SOS, por meio do Instituto Bem Cuidar (IBC). O número de afogamentos entre bebês de até 1 ano cresceu 81%. Entre 1 a 4 anos, o aumento foi de 13%.

O estudo mostra um aumento de 5% no total de óbitos em comparação com o ano anterior, totalizando 3.275 mortes de crianças, com idades de 0 a 14 anos, em decorrência de acidentes. A cada dia, em média, nove crianças perdem suas vidas devido a acidentes. Entre as principais causas estão os acidentes de trânsito, responsáveis por 28% dos casos, seguidos por sufocação (27%) e afogamento (26%).

Os dados divulgados no boletim anual da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), apontam que quatro crianças morrem afogadas diariamente no Brasil, um total de 1.530 ao ano. O estudo ainda aponta que o afogamento é a primeira causa de óbito entre os pequenos de 1 a 4 anos; a segunda entre 5 a 9 anos e terceira causa entre crianças de 10 a 14 anos.

Um fato que chama a atenção no relatório é que 55% das mortes – na faixa de 1 a 9 anos – acontecem em piscinas e espelhos d ‘ água nas residências ou entorno, o que representa um óbito a cada três dias. A ocorrência de afogamentos durante o lazer na piscina é 2 vezes mais frequente do que a queda acidental. Já os maiores de 10 anos são mais acometidos em águas naturais, como praias, rios e represas.

Dia Mundial da Prevenção ao Afogamento: 90% poderiam ser evitados

Diante deste cenário e em prol do Dia Mundial da Prevenção ao Afogamento, lembrado em 25 de julho, a Aldeias Infantis SOS se une à Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) para apoiar o movimento ‘Go, Blue’.

A campanha visa conscientizar a sociedade civil sobre prevenção desse tipo de incidente que vitima um brasileiro a cada uma hora e meia.  Este ano, a iniciativa envolverá mais de 1.200 locais pelo país, que aderiram ao movimento e estarão iluminados de azul na data da efeméride.

“Cerca de 90% dos acidentes poderiam ser evitados por meio de ações comprovadas de prevenção, como dicas simples aos pais, familiares e cuidadores para tornar o ambiente doméstico e comunitário mais seguro, promovendo a cultura do bem cuidar e do cuidado de qualidade”, destaca Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS.

9 dicas para prevenir afogamentos entre crianças e adolescentes

Confira abaixo 9 dicas elaboradas pela especialista para prevenir afogamentos com crianças e adolescentes:

Nunca deixe crianças sozinhas dentro ou próximas da água: nessas situações, um adulto deve supervisioná-las de forma ativa o tempo todo.

Ao entrar na água, faça o uso de coletes salva-vidas, uma vez que boias de braço são escorregadias e não aconselhadas.

Ensine as crianças a não correrem, empurrarem e pularem em outras pessoas, tampouco simularem que estão se afogando quando estiverem na piscina, lago, rio ou mar.

Explique às crianças que nadar sozinhas, sem ninguém por perto, é perigoso.

Crianças pequenas podem se afogar em qualquer recipiente com mais de 2,5 cm de profundidade, seja banheira, pia, vaso sanitário, balde, piscina, praia ou rio.

Após utilizar baldes, bacias, banheiras e piscinas infantis, mantenha-os vazios, virados para baixo e fora do alcance das crianças.

Mantenha a tampa do vaso sanitário para baixo e, de preferência, mantenha a porta do banheiro fechada (principalmente com as crianças menores de 4 anos).

Deixe cisternas, tonéis, poços e outros reservatórios domésticos sempre trancados.

Evite deixar brinquedos e outros atrativos próximos à piscina e aos reservatórios de água.

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Por que as crianças menores têm mais risco de se afogarem?

A pediatra Fabiana de Cássia Bernieri, que atua no Eco Medical Center, alerta os pais que as crianças de até 4 anos, têm maior risco de afogamento devido por possuírem a cabeça mais pesada que o corpo.

“Nesta idade elas ainda não têm força suficiente e equilíbrio para se levantarem sozinhas em uma situação de risco. Assim, qualquer queda, mesmo em água rasa, pode gerar um afogamento”, ressalta a médica.

Outro fator que merece atenção, segundo ela, são crianças que sofrem de epilepsia, o que aumenta de 15% a 19% o risco de afogamento. A pediatra explica que é necessário tomar alguns cuidados para evitar risco de afogamento.

“O mais importante é nunca deixar as crianças sozinhas dentro ou próximas da água, por menor que seja o tempo, uma vez que poucos segundos podem ser fatais. Além disso, os pais devem sempre deixar claro que nadar sozinho, sem ninguém por perto, é perigoso”, orienta.

Segundo ela, crianças pequenas devem sempre estar de bóias em forma de coletes ou de braços quando estiverem perto da água.  Uma forma de garantir a segurança no caso de residências com piscinas é instalar cercas e portões, contendo travas de segurança. “Os pais também devem evitar deixar objetos coloridos e brinquedos nas piscinas”, reforça.

Para crianças que já possuem melhor capacidade de compreensão, a pediatra ressalta orientações para evitar brincadeiras como empurrões e evitar pular em outras pessoas que estão dentro da água.

O que fazer em caso de afogamento

Em caso de afogamento, o recomendado é pedir ajuda para outra pessoa que esteja próxima ao local, para que ambas possam seguir com o socorro. O ideal é ligar imediatamente para a ambulância dos bombeiros no 193, caso não seja possível, deve-se ligar para o SAMU no 192.

Caso a vítima esteja no mar, é necessário fornecer algum material flutuante para a pessoa, como garrafas de plástico vazias, pranchas de surf ou materiais de isopor ou de espumas. O correto é tentar realizar o socorro sem entrar na água. E lembre-se, entrar na água somente se souber nadar.

Após a pessoa ser retirada da água, é importante verificar a respiração, durante 10 segundos, observando os movimentos do tórax e escutando o ar sair pelo nariz. Se estiver respirando, é importante deixar a pessoa deitada de lado até que os profissionais cheguem no local.

Contudo, se a vítima estiver inconsciente e não estiver respirando, é recomendado iniciar a massagem cardíaca. No caso de crianças, deve-se utilizar apenas uma as mãos para fazer a massagem cardíaca, posicionando sobre o peito da criança, apenas a palma de uma mão, com os dedos levantados, fazendo 2 compressões por segundo. Já em bebês de até 1 ano, é recomendado posicionar somente 2 dedos no meio do peito, fazendo de 100 a 120 compressões por minuto.

Redução dos índices é baixa, mas tipos e faixas etárias mudam muito

Os números de hospitalizações, apesar de altos, apontam uma redução de 0,32% em relação a 2021, no total de casos de internações entre a faixa etária de 1 a 14 anos, com destaque para a diminuição nos casos de intoxicação (-11,39%), quedas (-1,50%), sufocação (-4,38%) e sinistros de trânsito (-4,48%). Os dados, no entanto, registram um aumento nos casos de armas de fogo (19,48%), afogamentos (7,61%) e queimaduras (5,55%) .

“A redução dos índices de internação por acidentes entre 2021 e 2022 é pequena, mas a mudança dos tipos de acidentes e das faixas etárias foram muito significativas”, explica Erika Tonelli.

As crianças que mais sofreram hospitalizações em 2022 tinham de 10 a 14 anos e representam 37% dos internados por acidentes. Em seguida, as mais atingidas foram as com idade entre 5 e 9 anos (34%), de 1 a 4 anos (24%) e as menores de 1 ano (5%). No grupo de até um ano, houve um aumento de 2,76 % do total de casos de internações, com destaque para os casos de afogamento (18,18%), intoxicações (12,73%), queimaduras (9,03%) e sufocação (2,78%).

Na faixa etária entre 1 e 4 anos, houve uma redução total nos casos de internações (6,27%), com queda significativa para intoxicações (- 18,12%), sufocações (-9,97%), armas de fogo (-8,33%) e quedas (-8,16%). No entanto, foi registrado aumento de casos de afogamento (1,48%).

O grupo que representa as crianças entre 5 e 9 anos também apresentou uma redução (3,26%) no total de casos de internação, principalmente no que diz respeito a intoxicações (-14,14%), sinistros de trânsito (-7,42%) e quedas (-4,86%). Esse público, no entanto, registrou aumento significativo nos casos de afogamento (75%), armas de fogo (22%) e sufocação (10%).

Por fim, na faixa etária de 10 a 14 anos, houve um aumento expressivo de 6,68% no total de internações, com destaque para o crescimento por armas de fogo (27,91%), queimaduras (14,35%) e quedas (6,51%). E redução nos casos de afogamento (-25,93%), quedas (-12%), sufocações (-9,52%), sinistros de trânsito (-4,89%), intoxicações (-2,60%).

Além disso, segundo a especialista da Aldeias Infantis SOS, a utilização de álcool, a precarização nas condições econômicas e sociais e a maior quantidade de produtos de limpeza podem ter gerado um aumento nos casos de queimadura e intoxicação para alguns grupos.

Entre 2020 e 2021, o levantamento observou um aumento de 5% no número de mortes causadas por acidentes, passando de 3.117 para 3.275. Os dados indicam o óbito de nove crianças todos os dias.

Aumento de casos de mortes em 2021

O relatório relativo aos óbitos de 2021 destacou aumentos significativos em algumas categorias. A sufocação registrou um aumento de 28%, enquanto as queimaduras tiveram um crescimento de 7%. Por outro lado, houve reduções consideráveis nos óbitos por armas de fogo (45%), quedas (9%) e intoxicações (7%).

Analisando os dados por faixa etária, foram identificadas tendências preocupantes. Entre os menores de 1 ano, observou-se um aumento geral de 29% nos óbitos, com destaques para os acidentes por afogamento (81%), queimaduras (53%) e sufocação (30%). Apenas os casos de intoxicação apresentaram uma redução de 20%.

Na faixa etária de 1 a 4 anos, houve um aumento de 8% no total de óbitos. As principais causas foram sufocação (51%) e afogamento (13%). Por outro lado, foram registradas reduções nos casos de armas de fogo (-50%), intoxicações (-15%), quedas (-12%) e queimaduras (-8%).

Já na faixa etária de 5 a 9 anos, houve uma redução de 6%. No entanto, é importante destacar os crescimentos significativos em casos de queimaduras (25%) e sufocação (13%). As quedas (-47%), armas de fogo (-33%), afogamento (-13%) e intoxicações (-5%) apresentaram índices menores em relação a análise anterior.

Na faixa de 10 a 14 anos, foi registrada uma redução de 9% no número geral de óbitos, sendo armas de fogo (-50%), afogamento (-20%), sufocação (-20%) e sinistros de trânsito (-10%) as principais causas. Entre os incidentes que tiveram aumento, os destaques foram intoxicação (14%), quedas (12%) e queimaduras (2%).

Ainda segundo ela, a precarização das condições de trabalho e a exaustão dos cuidadores podem ter levado a um menor cuidado de qualidade às crianças e à responsabilização dos mais velhos e adolescentes pelos cuidados das crianças menores, acarretando num aumento de acidentes nesta faixa etária.

Fonte: Aldeias Infantis e Eco Medical Center

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