De acordo com o pesquisador, as redes sociais não facilitam a distinção entre informação, baseadas em evidências científicas, e desinformação. “Isso pode atrapalhar as tomadas de decisão do indivíduo sobre o seu próprio cuidado e acabar, ou atrasando tratamentos ou atrasando diagnósticos, e complicando os próprios casos”.
O artigo destaca que a infodemia do câncer abrange desde mitos sobre as causas da doença até a promoção de medidas preventivas e tratamentos não comprovados. Essas informações podem incentivar ações sem base em evidências.
Uma informação falsa que tem sido muito propagada em redes sociais tem relação com vacina contra HPV, que tem como objetivo a prevenção do câncer de colo de útero. Existe inclusive a desinformação de que isso [a vacinação] poderia estar associado a um aumento dos casos do câncer de colo de útero”, afirmou Lima.
“Há também desinformação sobre a segurança do uso de cigarros eletrônicos. Eles não são seguros. Não há comprovação nenhuma de sua segurança. E há também notícias de substituição de tratamentos convencionais por tratamentos alternativos. Isso gera um grande risco para a sociedade”.
Graviola para matar células cancerígenas
Outra autora do artigo, Telma de Almeida Souza, lembra o caso recente da circulação de desinformações acerca do uso da graviola como uma suposta forma de matar células cancerígenas. “O tempo para o paciente com câncer é primordial. Isso faz com que ele perca tempo no seu tratamento. Esse combate à desinformação é importantíssimo para salvar vidas.”
Segundo o artigo, a disseminação e amplificação das desinformações são potencializadas, de forma intencional, pelas redes sociais, por meio oo chamado “capitalismo de vigilância”. Por esse conceito, as empresas de tecnologia ganham dinheiro mantendo as pessoas conectadas, coletando seus dados e moldando seus comportamentos.
Os algoritmos usados por tais redes sociais amplificam narrativas, que “criam câmaras de eco e privilegiam conteúdos sensacionalistas com o objetivo de aumentar o engajamento dos usuários, impulsionando a todos para a era da infodemia”, diz o artigo.
O aumento abrupto [da circulação dessas informações] dificulta muito para o cidadão comum compreender entender ali, diferenciar o que seria informação ou desinformação. A informação em saúde, hoje em dia, na internet, pode ter picos, o que se chama de viralização, e esse pico pode ser um momento que pode gerar muitas dúvidas na sociedade”, ressaltou Fernando Lima.
De acordo com Lima, é preciso haver monitoramento permanente dessas informações e dar uma resposta rápida e eficiente, para que a sociedade saiba diferenciar informação e desinformação. Ações como regulamentar e responsabilizar as empresas que controlam as redes sociais e fortalecer respostas institucionais às informações falsas são medidas sugeridas pelos pesquisadores.
Agenda Positiva
‘Sua História Será Ouvida’: Inca lança campanha global
Artigo aborda estratégias para combater ‘infodemia’ sobre o câncer, prejudicial à prevenção e ao controle da doença
O Dia Mundial do Combate ao Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, é uma campanha global organizada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), para promover a conscientização da população em geral sobre prevenção e tratamento de diferentes tipos de câncer.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) integra a campanha global “Unidos pelo Único”, promovida pela UICC, organização não governamental sediada em Genebra, na Suíça, e que reúne mais de mil entidades em cerca de 160 países. O objetivo da campanha da UICC, que terá duração de três anos (2025-2027), é destacar histórias únicas relacionadas ao câncer e reforçar a importância de um atendimento centrado nas pessoas.
No Rio de Janeiro, um evento organizado pelo Inca traz destaque a depoimentos inéditos e à importância da individualização nos cuidados oncológicos. Com o tema: Histórias únicas, desafios em comum, a mesa conta com a oncologista do Hospital do Câncer II Flávia Santana, a chefe da Ouvidoria do INCA, Cristiane Vaucher, a gerente-geral do INCAvoluntário, Fernanda Vieira, e da paciente Aline Montez.
Será apresentado ainda o artigo Prevenção e Controle do Câncer em Tempos de Capitalismo de Vigilância: Caminhos para o Combate à Desinformação, publicado na nova edição da RBC e que aborda estratégias para enfrentar a disseminação de fake news, que também compõem aquilo que os pesquisadores chamam de infodemia sobre o câncer, prejudicial à prevenção e ao controle da doença.
Outro destaque é o lançamento da edição temática da Revista Brasileira de Cancerologia (RBC) sobre “Vigilância do Câncer e seus Fatores de Risco”. A revista é editada pelo Ministério da Saúde, INCA e Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente.
Da Agência Brasil e Inca