Uma em cada três mulheres tem incontinência urinária, a perda involuntária de urina que afeta a qualidade de vida. Estima-se que no Brasil 10 milhões de pessoas convivam com essa condição que tem importante impacto social, sexual, ocupacional e econômico. Os índices chegam a 15% em homens e 45% em mulheres. Nos Estados Unidos, os gastos anuais com o problema chegam a 11,2 bilhões de dólares.
O Dia Mundial da Incontinência Urinária (14 de março) foi criado para ajudar na disseminação dos sinais e as consequências. “O Brasil ainda está engatinhando na divulgação da data, mas podemos dizer que ela representa um acréscimo para quem tem e passa a ter consciência disso”, explica Sebastião Westphal, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). “O importante é mostrar que as pessoas podem e devem ser curadas”, complementa.
A incontinência está entre as doenças do trato urinário mais comuns no Brasil. Ainda segundo a SBU, o problema é duas vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens, já que cerca de 30% a 40% das mulheres com mais de 40 anos apresentam algum grau de incontinência urinária. O problema é ainda maior depois dos 70 anos. A chance de apresentar o problema depois dessa idade é de quatro a cinco vezes maior do que entre 20 e 40 anos.
É importante frisar que essa patologia não é apenas natural do envelhecimento. Existe o estigma que a disfunção é coisa de idoso e isso leva a não procura de tratamentos adequados”, comenta Westphal.
Rafael Buta, médico urologista da Aliança Instituto de Oncologia, destaca que, apesar de ser mais frequente em pessoas mais velhas, a doença pode aparecer em todas as idades. Crianças e adolescentes também estão sujeitos a apresentar incontinência urinária. Porém, nessa faixa etária, essa condição é muito mais rara, e geralmente está associada a alguma malformação neurológica congênita.
Os impactos na vida da pessoa que convive com esse tipo de distúrbios são indiscutíveis, principalmente por afetar, em sua maioria, mulheres jovens na faixa dos 40 e 50 anos. E isso é preocupante”, acrescenta o especialista. É sabido que os que sofrem com problemas do trato urinário podem ter que fazer mudanças nos comportamentos e hábitos sociais, além da perda de produtividade”, afirma Sebastião Westphal.
A qualidade de vida é afetada por diversos fatores, como físicos (limitações ou interrupções de atividades físicas), psicológicos (baixa autoestima, depressão, medo do odor da urina), sociais (redução da interação social, necessidade de planejar viagens e limitação no deslocamento distante de banheiros), domésticos (roupas íntimas especializadas, precauções com roupas), sexuais (fuga do contato sexual e intimidade) e ocupacionais (absenteísmo e redução de produtividade).
Tipos de incontinência urinária
São três os tipos de incontinência urinária. A de esforço é caracterizada pela perda de urina ao realizar algum tipo de estímulo físico, como tossir, rir, fazer exercícios entre outros. Já a de urgência é quando ocorre a vontade súbita de urinar em meio as atividades diárias e acontece um escape antes de chegar ao banheiro. Por fim, a mista é a junção dos dois tipos sendo que o sintoma mais importante é a impossibilidade de controlar a micção pela uretra.
A incontinência aos esforços é aquela em que o paciente perde urina quando realiza alguma manobra que aumenta a pressão dentro do abdômen, como tosse, espirro, gargalhadas e, nos casos mais graves, quando pega peso, sobe escadas ou levanta-se de uma cadeira”, explica Rafael Buta.
Esse tipo é muito mais comum em mulheres, e tem como principais fatores de risco gravidez, obesidade e constipação intestinal. Em homens é incomum, podendo ocorrer após operações para tratamento de doenças da próstata.
A incontinência de urgência pode ser causada por outro problema, a bexiga hiperativa, que atinge em média 12% de todos os homens e mulheres. “A sua incidência aumenta muito com a idade, podendo chegar a 80% nas pessoas com mais de 80 anos. Um terço dos pacientes com bexiga hiperativa apresenta incontinência“, pontua Dr Rafael.
Já a incontinência urinária mista é quando o paciente apresenta tanto a incontinência aos esforços quanto a incontinência de urgência.
SAIBA MAIS SOBRE O PROBLEMA
O enfermeiro estomaterapeuta Edson Diniz, secretário adjunto da Associação Brasileira de Estomaterapia, especializado no tratamento destes pacientes, tira algumas dúvidas.
Incontinência Urinária nas Mulheres
A incontinência urinária é definida como qualquer perda involuntária de urina que cause desconforto social ou higiênico, ou seja, de alguma maneira, atrapalhe a vida normal da pessoa. Ela pode ocorrer por uma série de fatores e em diversas idades, embora seja mais comum nas mulheres acima de 40 anos.
Alguns fatos específicos do gênero feminino como partos normais, mudanças hormonais e menopausa podem contribuir para o surgimento da incontinência urinária. Esse escape de urina pode acontecer em atividades simples, ou quando a pessoa ri, tosse ou espirra.
Isso gera interferência nas atividades cotidianas, nas relações interpessoais e até na vida sexual da pessoa. Contudo, muitas mulheres não procuram auxílio médico, por achar que esta é uma situação normal.
Funcionamento do Sistema Urinário
A urina é produzida pelos rins, que são os responsáveis por filtrarem as substâncias desnecessárias da corrente sanguínea, sendo este líquido enviado para a bexiga. A bexiga é como um saco muscular que pode se esticar para armazenar a urina.
Quando a bexiga chega a metade de sua capacidade é enviado um estímulo ao cérebro, que envia um comando para a bexiga liberar a urina para a uretra. A uretra é um canal, formado por dois músculos esfincterianos. O primeiro músculo se abre após o comando cerebral e o segundo pode ser controlado pela pessoa.
Porém, quando os músculos do assoalho pélvico não funcionam corretamente, ocorre o escape de urina, ou seja, a incontinência urinária. Um enfraquecimento dos músculos impede a uretra de se manter fechada e isso é causado por uma série de fatores.
Causas da Incontinência Urinária
Gravidez e Parto – ocorre uma combinação de fatores como as alterações hormonais, a pressão exercida pelo útero sobre a bexiga e o próprio esforço do trabalho de parto, o que enfraquece a eficiência dos músculos pélvicos. Essa condição costuma ser passageira. Por isso é importante o fortalecimento dosmúsculos do assoalho pélvico.
Menopausa – neste período ocorre uma redução dos hormônios, em especial do estrogênio, o que provoca uma atrofia das paredes da uretra, o que pode gerar uma perda do controle do esfíncter.
Excesso de peso – o excesso de peso assim como acúmulo de gordura na região abdominal pode exercer maior pressão nos músculos abdominais e pélvicos, diminuindo a força do assoalho pélvico e cansando incontinência urinária.
Doenças Neurológicas e Diabetes – doenças como o Alzheimer, Parkinson, Esclerose Múltipla e o Diabetes podem causar incontinência urinária pois interferem na comunicação entre o cérebro e o sistema urinário, causando problemas para o completo esvaziamento da bexiga.
Infecções urinárias frequentes – podem tornar a bexiga hipersensível, o que leva a falsos sinais de “esvaziamento”, criando a vontade de urinar, porém sem que a bexiga esteja cheia.
Consequências para a mulher
Além do incômodo de ter as roupas íntimas molhadas, uma série de problemas emocionais impacta na qualidade de vida das pacientes. Além do lado físico e emocional, a autoestima da mulher é afetada. A mulher deixa de usar roupas que gosta, sente-se insegura em sair de casa, deixa de fazer atividades físicas e tem uma preocupação extra em encontrar banheiros nos locais que frequenta.
Além disso há problemas relacionados a vida sexual onde muitas pacientes referem que não possuem vida sexual ativa ou que o escape de urina afeta diretamente durante o ato sexual. Isso cria um isolamento social para a mulher, sendo que muitas se recusam a sair de casa e até a procurar ajuda médica.
Tem tratamento?
É muito importante que a doença seja investigada corretamente e tratada. Para o diagnóstico correto, é necessário que o paciente tenha um histórico da característica e da frequência da perda urinária, como um diário. Os tratamentos variam de acordo com o tipo e cada caso.
O tratamento para o problema inclui fisioterapia e mudança de hábitos de vida. Mas, em casos mais específicos, como de bexiga hiperativa em que os sintomas persistem após a fisioterapia, pode-se lançar mão de medicamentos que reduzem os sintomas. Pacientes com incontinência aos esforços podem precisar de cirurgia se houver falha no tratamento fisioterápico.
Após uma avaliação médica o tratamento pode ser medicamentoso, fisioterápico ou cirúrgico. O mais importante é que a mulher procure ajuda e saiba que hoje os tratamentos evoluíram muito e trazem ótimos resultados”, afirma o enfermeiro.
onde se tratar no Rio
Desde 2016 a Secretaria de Estado de Saúde oferece atendimento através do Núcleo de Disfunções Miccionais, na Policlínica Piquet Carneiro, na Tijuca. O núcleo conta com atendimento adulto e pediátrico e recebe pacientes de todo o Estado do RJ, que são encaminhados ao serviço através da Central Estadual de Regulação. Só em 2017, até outubro de 2018, o serviço realizou mais de 5 mil consultas.
Além do tratamento para incontinência urinária, o núcleo oferece atendimento com urologistas, ginecologistas, pediatras, fisioterapia uroginecológica, consulta de orientação ao cateterismo intermitente, exames de diagnóstico de urodinâmica e urofluxometria, além da realização de cirurgias urológicas ambulatoriais. O atendimento funciona interligado ao Hospital Universitário Pedro Ernesto.
O núcleo oferece atendimento completo aos problemas miccionais, como a uroneurologia, para pacientes com problemas miccionais de origem neurológica como por exemplo paraplégicos, disfunção miccional em crianças, urogeriatria e até a uroginecologia, voltada para mulheres.
Da Redação, com Assessorias