Mais um triste reflexo da pandemia do novo coronavírus na saúde pública, dessa vez, no combate a um problema crônico: o tabagismo. O número de fumantes em tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) caiu 66% em 2020, em relação ao ano de 2019. É o que mostra o relatório Tratamento do Tabagismo no SUS durante a Pandemia de Covid-19, lançado nesta quarta-feira (25/8), pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).

A partir dos dados coletados pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), coordenado pelo Inca, o levantamento mostra que o impacto variou nas regiões do país, de 59%, na região Norte, a 68%, na região Sudeste do Brasil. Nordeste, com 66% de redução, Centro-Oeste (63%) e Sul (62%) completam o relatório. 

A perda de pacientes desde o início da pandemia se explica por vários fatores combinados: incentivo para ficar em casa, fuga de aglomerações, redução da própria força de trabalho da Saúde por causa do coronavírus, sedentarismo etc. “Estamos refinando a análise para entender por que alguns estados tiveram perda menor e outros, uma perda maior”, disse Liz Almeida, coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca.

A apresentação do relatório marca o início das atividades pelo Dia Nacional de Combate ao Fumo (29 de agosto). Durante o evento, também foi lançada a campanha “A melhor escolha é não fumar”, desenvolvida em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O evento foi transmitido pela TV INCA.

68 mil buscaram tratamento contra tabagismo em 2020

Vera Borges, psicóloga da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco do Inca, disse que o período analisado na pesquisa foi caracterizado pelo incremento importante da pandemia, com as unidades de saúde atendendo quase que exclusivamente casos de Covid-19, além de ter sido um momento em que a população evitava a ida e a permanência em instituições de saúde.

“O relatório mostrou que essa junção de fatores fez reduzir o tratamento de tabagismo”, explica. O levantamento revela ainda que, apesar da pandemia, cerca de 68 mil tabagistas procuraram atendimento no início do ano passado.

Ela ainda lembrou que os dispositivos eletrônicos não evitam a dependência de nicotina, podem levar ao consumo de cigarro convencional e que a indústria tabageira tem estratégias para atrair os jovens.

Redução nos atendimentos por causa da pandemia

Jaqueline Misael, coordenadora-geral de Prevenção de Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps) do Ministério da Saúde (MS), lembrou ainda que houve redução nos atendimentos odontológicos, em consultas, aplicação de vacinas, busca ativa, visitas domiciliares, comparando o ano de 2020 com 2019.

“Contudo, nós tivemos aumento de procedimentos em determinados nichos. Especificamente em relação às doenças crônicas não transmissíveis, houve redução de 17% em consultas, mas aumento no número de procedimentos”, analisou.

O Inca lembra que o tabagismo é uma doença crônica e também é fator de risco para outras enfermidades importantes e que são as principais causas de mortalidade da população, como as cardiovasculares, as respiratórias e o câncer. “A cessação sempre vale a pena, em qualquer momento da vida, em especial, durante a pandemia de uma doença respiratória grave, para a qual o tabagismo é um fator que pode aumentar o risco de complicações e morte”, destaca Liz Almeida.

Custo alto do tabagismo no Brasil

O consumo do tabaco e a exposição à sua fumaça são fatores de risco para doenças crônicas e desigualdade em saúde, o que leva a 8 milhões de mortes no mundo anualmente. Diogo Alves, consultor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), lembrou que o tabaco “é o único produto vendido de forma legal que vai levar a óbito metade de seus consumidores”. 

No Brasil, o tabagismo mata 162 mil pessoas ao ano e drena R$ 125 bilhões dos cofres públicos anualmente para cobrir despesas com doenças causadas pelo cigarro. Esse custo equivale a 23% do que o Brasil gastou, em 2020, com o enfrentamento à covid-19.

O alto custo do tabagismo não inclui os gastos do SUS para tratar a dependência de nicotina, considerada uma das medidas médicas mais efetivas quando comparada com o tratamento das doenças causadas pelo uso de produtos do tabaco.

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Reforma tributária: cerco fechado à indústria do tabaco

Para Tânia Cavalcante, secretária executiva da Comissão Nacional para a Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, o projeto de Reforma Tributária, em debate no Congresso Nacional, representa uma oportunidade para “acrescer o efeito do aumento de preços e impostos sobre tabaco como indutor da cessação de fumar e na prevenção da iniciação no tabagismo entre crianças e adolescentes”.

Também representa uma oportunidade para vincular recursos para garantir a implementação plena da Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco no Brasil, incluindo a ampliação da cobertura do tratamento para cessação de fumar para as populações de menor renda e escolaridade, que concentram as maiores prevalências de fumantes”, reforça.

De acordo com a diretora-geral do Inca, Ana Cristina Pinho, o trabalho realizado no Brasil para combater o tabagismo tem sido respeitado internacionalmente. “Em 2019, por exemplo, o Brasil foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde [OMS] por atingir progressos significativos em todas as áreas monitoradas pelo Relatório da OMS sobre a epidemia global do tabaco. Antes de nós, apenas a Turquia havia apresentado tal resultado, em 2013”, disse.

Medidas para retomar e ampliar tratamento no Brasil

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em vídeo, ressaltou a importância da data para o enfrentamento ao tabagismo. O Inca tem o compromisso de implementar as ações e estratégias para o controle do tabagismo no País, como forma de incentivar uma vida saudável para a população”, completou Ana Cristina.

Segundo Liz Almeida, o Inca está se preparando para retomar e até ampliar o atendimento aos tabagistas no SUS nos patamares anteriores à pandemia. Por isso, mesmo em meio à pandemia, capacitou mais de 5,4 mil profissionais de saúde, preparou uma série de materiais para informar a população e auxiliar as equipes e incentivou o teleatendimento para dar suporte aos tabagistas, fortalecendo não apenas a Atenção Básica sobrecarregada, mas também os centros de Atenção Psicossocial e Atenção Especializada.

Entre as medidas adotadas pelo PNCT estão: cuidados a distância, com estímulo para uso de  ferramentas tecnológicas, como os aplicativos WhatsApp, Zoom, Skype e outros para teleatendimento e o desenvolvimento de diversos materiais para apoiar a população, os fumantes e as equipes de Saúde, como notas técnicas, alertas, infográficos, cards e mini vídeos.

AGENDA POSITIVA – Dia Nacional de Combate ao Fumo

As comemorações pelo Dia Nacional de Combate ao Fumo incluem ainda duas audiências públicas na Câmara dos Deputados. A primeira, O impacto do uso do tabaco na saúde e as medidas necessárias para prevenir o tabagismo, acontece nesta quinta-feira, dia 26, às 14 horas.

A segunda, organizada pela Comissão de Finanças e Tributações, no dia 27, às 14h, com o tema Reforma tributária: um mecanismo para corrigir as distorções entre o que o Estado Brasileiro gasta com Saúde Pública em decorrência das doenças tabaco relacionadas e o que arrecada com impostos incidentes sobre produtos de tabaco

Na sequência de eventos que marcam o Dia Nacional de Combate ao Fumo, o Inca e a Associação Médica Brasileira (AMB) apresentarão o seminário online “Abordagem Mínima na Cessação do Tabagismo”, na terça-feira, dia 31, às 9h30, também com transmissão da TV INCA.

Para encerrar a programação, no dia 2 de setembro, às 14h, também na TV INCA, o Instituto divulgará as cartilhas do Programa de Cessação do Tabagismo no SUS (PNCT). As publicações foram áudio descritas por meio da parceria com o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow (Cefet)“Projeto Tá na Rede” -, e a Universidade Federal Fluminense (UFF)“Projeto Olhos Meus”.

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Fonte: Inca, com Redação

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