Uma das principais dificuldades na vida de um idoso é conviver com a perda auditiva, que ocorre em consequência do processo natural de envelhecimento. E essa deficiência auditiva, quando não é tratada, é mais uma causa, dentre tantas, de violência contra os mais velhos. São inúmeros os casos de agressões verbais e maus-tratos, principalmente por parte de familiares.
A violência psicológica é uma realidade. Ela é caracterizada por atos de humilhação, desvalorização moral ou deboche, que abalam a autoestima do idoso e podem desencadear situações de isolamento, bem como depressão e distúrbios nervosos”, explica a fonoaudióloga Marcella Vidal.
A perda de audição não tratada ainda é bastante comum. Por isso, para o familiar, o mais importante é exercitar a paciência. Com frequência, o idoso que não ouve bem pergunta “o quê?” várias vezes durante uma conversação. E é preciso repetir quantas vezes for necessário, com frases curtas, até que ele compreenda.
É fundamental também que crianças e adolescentes que convivem com esse idoso sejam educadas para que tenham paciência e carinho com ele. O apoio dos netos e sobrinhos é fundamental para que ele se sinta bem à vontade em família. Os adultos devem ensinar as crianças, desde pequenas, a respeitar os mais velhos. E serem firmes quando eles chegam na fase da adolescência, quando tendem à impaciência e rebeldia. Antes de tudo, dê você mesmo o exemplo!”, recomenda a fonoaudióloga.
Segundo a especialista, é preciso ter paciência também para convencer o idoso, muitas vezes, a buscar tratamento. Enfatize que o que vai resguardá-lo de todas essas dificuldades e chateações é voltar a ouvir! E que isso é possível! O primeiro passo é buscar a orientação de um médico otorrinolaringologia e/ou fonoaudiólogo para avaliar o tipo e o grau de perda auditiva. Na maioria dos casos, o uso de aparelhos auditivos é a opção para a reabilitação auditiva.
Lembre-se de que o idoso que tem dificuldade para ouvir é um ser humano, com seus medos e angústias. Familiares relatam que muitos são impacientes e zangados. A maioria, no entanto, não quer causar incômodo. Eles precisam apenas de apoio, compreensão e ajuda para voltarem a ouvir”, ressalta.
Cuidados na adaptação do aparelho auditivo
Os cuidados valem, inclusive, no caso dos idosos que estão na fase de adaptação do aparelho auditivo. “Não grite ou fale muito alto. Ao invés de ajudar, isso acaba dificultando o entendimento. O melhor é falar pausadamente. Gesticular também pode ajudar muito”, recomenda a gerente de Audiologia Corporativo, Telex Soluções Auditivas.
Por isso, é imprescindível que aos primeiros sinais de dificuldade para ouvir se busque tratamento. Além de proporcionar melhoria no relacionamento com amigos e parentes, voltar a ouvir vai garantir maior confiança e segurança no dia a dia, em situações dentro de casa e nas ruas. Após a avaliação audiológica, caberá ao fonoaudiólogo indicar o tipo de aparelho auditivo mais apropriado para cada paciente.
Atualmente, há no mercado uma diversidade de modelos de aparelhos auditivos que, por serem pequenos, discretos e com design moderno, estão ajudando a derrubar resistências e preconceitos. É extremamente importante que a pessoa com perda auditiva se beneficie da tecnologia para voltar a ouvir os sons da vida, retomando a autoconfiança e a alegria do convívio em sociedade”, diz a fonoaudióloga.
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Maioria das agressões ocorre dentro de casa
Estudo conduzido pela socióloga Maria Cecília Minayo, pesquisadora emérita da Fundação Oswaldo Cruz, mostrou que, em todo o mundo, mais de 60% dos casos de violência contra idosos ocorrem dentro nos lares.
Normalmente os agressores vivem dentro de casa com a vítima. Dois terços desses agressores são filhos, que agridem mais do que as filhas, seguidos por noras ou genros, e cônjuges, nesta ordem. Os idosos quase não denunciam, por medo e para proteger os familiares”, revelou Minayo. “A violência faz parte da comunicação, quando se fala gritando, desprezando, abusando”, lembrou a pesquisadora.
A enfermeira Leila Sanguinete Cardoso, que atua atendendo pacientes idosos na Unidade Básica de Saúde Vera Cruz, gerenciada pelo Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim, na zona sul de São Paulo, confirma que as agressões costumam vir de familiares e pessoas próximas e faz um alerta importante.
Situações de violação aos idosos podem ser ocasionadas por todos os pilares da sociedade e englobam atitudes diversas, desde a falta de respeito aos direitos deste indivíduo, incluindo o uso indevido de assentos e filas preferenciais, até o desrespeito ao direito do idoso de preservar sua autonomia e poder de decisão, enquanto estiver lúcido”, explica a profissional.
Leila faz parte do Programa Acompanhante de Idosos (PAI) do Cejam, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, que tem como objetivo justamente a melhora clínica, a promoção da autonomia e a independência dos idosos cadastrados no projeto.
Violência psicológica é mais comum
De acordo com a enfermeira, na maioria dos casos, o idoso tem ciência de que sofre algum tipo de violência, entretanto, aceita tal condição pelo fato de os agentes causadores da agressão serem os próprios familiares, muitas vezes residentes do mesmo ambiente.
A especialista destaca que a convivência com potenciais agressores é o principal motivo do aumento de casos de violência a idosos durante o período de isolamento. Entre os tipos comuns de violência sofridos nesta faixa etária, a especialista ressalta a violência psicológica, que, segundo ela, é mais comum, se comparada à física.
Esse tipo de agressão costuma envolver situações de negligência, abuso financeiro e abandono por parte de familiares. Durante este período, o abuso financeiro também se tornou bastante evidente. Existem muitas situações em que o salário do idoso, na maioria dos casos um salário-mínimo, torna-se a base financeira da família, privando esta pessoa de usufruir adequadamente da sua própria renda”, reitera Leila.
Como identificar um caso de violência?
Diferentemente do que a maioria das pessoas imagina, a violência contra o idoso não acontece apenas com aqueles em extrema vulnerabilidade. “Todos estão suscetíveis ao risco, inclusive os saudáveis. As situações de agressão são diversas, desde a falta de respeito do indivíduo, passando por violências verbal, física, psicológica e financeira, até situações de negligência”, afirma a enfermeira Leila Sanguinete Cardoso.
Em casos extremos, é possível identificar uma agressão física por meio de machucados, hematomas, arranhões, feridas ou queimaduras sem causas justificadas. Para situações de agressão psicológica, alguns sintomas devem ser levados em consideração. Alterações de comportamento como depressão e raiva excessiva, conflitos familiares, emagrecimento repentino e quebra de vínculos com a família podem ser sinais de alerta.
Caso desconfie que algum idoso próximo a você esteja sofrendo qualquer tipo de violência, denuncie. Negligenciar estes casos também é uma forma de agressão. As denúncias podem ser feitas por meio do Disque 100, de forma gratuita, com anonimato e segurança garantidos pelo serviço”, recomenda a enfermeira.
Para Leila, além da vigilância contínua para denúncias de eventuais casos de agressão, é necessário que haja mais ações de conscientização da sociedade acerca da importância do tema. “Devemos educar a sociedade para que respeite a pessoa idosa na sua integralidade e as famílias para que mantenham o respeito à individualidade desta pessoa, incluindo o mesmo no seio familiar, como um membro que tenha muito a contribuir com experiência de vida para a formação dos mais jovens.”
Com Assessorias