Sete em cada 10 casos de câncer de colo de útero no Brasil são causados pelo papilomavírus (HPV), que pode ser combatido com vacina gratuita oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a cobertura vacinal permanece abaixo do esperado, especialmente entre os meninos. Mesmo com evidências do perigo de vulnerabilidade ao papilomavírus, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) constatou queda na imunização contra o HPV após a pandemia de Covid-19.

Dados do Ministério da Saúde mostram que 87,08% das meninas receberam a primeira dose da vacina em 2019, e em 2022, a cobertura caiu para 75,81%. Entre os meninos, a cobertura caiu de 61,55%, em 2019, para 52,16%, em 2022, enfatizando a necessidade de maior engajamento na vacinação. Os números são melhores que 2021, mas ainda abaixo das metas. Naquele ano, apenas 57,2% das meninas e 37,69% dos meninos tomaram as duas doses da vacina.

A vacinação é uma estratégia crucial para a prevenção da infecção pelo HPV e foi incorporada no Calendário Nacional de Imunizações em 2014, tendo sido distribuídas mais de 60 milhões de doses. Uma das metas é atingir 90% de cobertura vacinal entre meninas de até 15 anos, para reforçar as ações de vacinação contra o HPV no Brasil.

A vacinação contra o HPV no Brasil é recomendada para meninas e meninos entre 9 e 14 anos, com a administração de duas doses. Além disso, o imunizante é disponibilizado para mulheres e homens de 15 a 45 anos que apresentam uma das seguintes características: HIV/Aids, transplantados, pacientes oncológicos e vítimas de abuso sexual. Estes grupos são mais suscetíveis a infecções persistentes pelo HPV e têm um risco elevado de desenvolver câncer e outras complicações associadas ao vírus.

Inca lança ‘carta de compromisso’ para eliminar câncer do colo do útero

Segundo levantamento divulgado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), somente em 2023, ocorrerão cerca de 17.000 novos casos de câncer de colo do útero no Brasil. Essa incidência é alarmante e reforça a necessidade de prevenção.

Por isso, o Inca, em parceria com a Organização Panamericana da Saúde (Opas) e 17 organizações não governamentais, incluindo o Instituto Lado a Lado pela Vida, e sociedades científicas brasileiras assinaram uma carta de compromisso em apoio ao plano de eliminação do câncer do colo do útero.

O ato ocorreu durante o evento “Vacina e prevenção do câncer: vários olhares, muitos desafios”, nesta quinta-feira, 7, que discutiu a prevenção e os desafios da vacinação contra o HPV. Após o evento técnico no Inca, no mesmo dia o Instituto Lado a Lado pela Vida promoveu uma cerimônia de iluminação do monumento ao Cristo Redentor. O monumento foi iluminado na cor roxa para alertar a população sobre os tipos de cânceres causados pelo HPV e conscientizar sobre a importância da vacinação.

“A parceria entre todas essas instituições reflete nosso compromisso conjunto nas ações de controle do câncer. A união de esforços é essencial para criar uma rede efetiva que possa atingir e informar todos os setores da sociedade sobre a importância da vacinação contra o HPV e ainda alcançando as metas estabelecidas pela OMS para a eliminação do câncer do colo do útero como problema de saúde pública até 2030”, enfatiza o diretor-geral do Inca, Roberto de Almeida Gil.

Campanha ‘Câncer por HPV: O Brasil pode ficar sem’

A campanha Câncer por HPV: O Brasil pode ficar sem’ foi criada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em 2021, para levar informação a respeito dos tipos de cânceres causado pelo vírus e, principalmente, estimular a vacinação em crianças e adolescentes contra o HPV.

O objetivo é incentivar os pais e responsáveis a levarem seus filhos e filhas aos postos de saúde para tomar gratuitamente as doses do imunizante. “A imunização é a chave para diminuir, em longo prazo, os números de casos de doenças causados pela infecção viral, como, por exemplo, o câncer de colo do útero”, destaca Marlene Oliveira, fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida.

Médico reforça a importância da vacinação antes do início da vida sexual

Responsável pela formação de verrugas na pele, as lesões genitais podem ser de alto risco, pois são precursoras de tumores malignos, especialmente do câncer de colo do útero e do pênis. A efetividade da vacina contra o HPV não está relacionada diretamente à faixa etária da aplicação, explica Nícolas Cayres, ginecologista e professor de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), esclarece dúvidas sobre a vacina e seus impactos na vida adulta.

No entanto, recomenda-se a vacinação em fases precoces, como na infância e adolescência, devido ao fato de que o HPV é uma doença transmitida sexualmente. “Proteger as crianças e adolescentes antes do início da vida sexual é fundamental para prevenir a infecção e problemas graves no futuro”, ressalta o médico.

De acordo com o ginecologista, a ausência de prevenção contra o HPV pode acarretar complicações graves na vida adulta, sendo o câncer de colo do útero a principal delas. Ele afirma que o câncer de colo do útero ainda é o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo. “O Papilomavírus é o primeiro entre as causas ginecológicas de câncer“, alerta o especialista.

Cayres destaca o impacto negativo da ausência de vacinação em mulheres e homens contra o HPV e revela que a falta de vacinação contra o HPV em homens afeta diretamente as mulheres. “Quando os homens não se vacinam, eles podem se tornar portadores do vírus e transmiti-lo a suas parceiras sexuais. Dessa forma, a ausência da vacinação torna-se prejudicial tanto para os homens quanto para as mulheres”, frisa o professor.

No caso de complicações graves em homens causadas pelo vírus, embora o câncer de pênis possa ser uma doença decorrente da ausência de prevenção contra o HPV em homens, o especialista afirma que sua incidência é muito baixa quando comparada ao câncer de colo do útero na população em geral. Portanto, a recomendação de vacinação para meninos também é importante para proteger as mulheres do aumento da incidência do câncer de colo do útero.

Prevenção do HPV em mulheres é autocuidado

Nícolas Cayres afirma que há uma conscientização maior sobre a prevenção das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) nas mulheres devido às graves sequelas causadas pela infecção pelo HPV.

Além da vacina, o ginecologista reforça que o exame de Papanicolau é fundamental para o diagnóstico precoce de lesões invasoras causadas pelo HPV no colo do útero. Ele aponta que essas lesões têm potencial de se tornarem câncer, mas são completamente tratáveis quando detectadas em estágios iniciais.

De acordo com o Ministério da Saúde, recomenda-se que a mulher faça o exame a cada três anos, caso tenha dois exames anteriores normais. O simples ato de realizar o exame de Papanicolau regularmente pode evitar o desenvolvimento dessa doença evitável.

Para aumentar o engajamento nas campanhas de imunização contra o HPV, o docente do CEUB garante que é fundamental que as famílias, escolas e profissionais de saúde trabalhem juntos para conscientizar sobre a importância da prevenção, visando uma vida adulta mais saudável e livre de complicações causadas por essa infecção. “A prevenção do câncer de colo do útero é uma questão de autocuidado e responsabilidade”, reforça.

Com Assessorias

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