No começo do mês a atriz Marcia Cross, que interpretou a personagem Bree Van De Kamp na série ‘Desperate Housewives’, contou em uma entrevista comandada pelo médico Jon Lapook no programa CBS This Morning, que enfrentou um câncer no canal anal, descoberto em 2018. Segundo a artista, a doença surgiu provavelmente como consequência do HPV (Papilomavirus humano), um vírus sexualmente transmissível.
No programa a atriz relata que descobriu o câncer em uma consulta de rotina na ginecologista, pois não tinha nenhum sintoma. Infelizmente a história dela é bastante comum. Como já relatamos aqui no Vida & Ação, a decorrência desse tipo de câncer vem aumentando devido as inúmeras infecção pelo HPV ) e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Porém, mesmo com o alto índice de contaminação do vírus pouco se fala sobre o assunto, tal qual a artista comenta na entrevista, de que não contaria para ninguém caso tivesse a doença, e que muita gente tem tanta vergonha que também não conta para ninguém. O objetivo da atriz é reforçar que a disseminação de informações sobre a prevenção e diagnóstico e tratamento são de utilidade pública e podem salvar vidas, ao contrário do silêncio sobre a doença.
Este silêncio é bastante prejudicial para a saúde pública, pois desestimula a população a procurar pela vacina contra HPV aumentando a incidência da doença. “Sabemos que a vacinação do HPV está incluída no calendário da saúde do Brasil, mas temos percebido uma diminuição na procura pela imunização. Isso não pode acontecer de jeito nenhum. Se conseguirmos vacinar todas as meninas e meninos abaixo de 13 anos, a diminuição dessas doenças será muito efetiva”, diz o oncologista Roberto Gil, do Grupo Oncoclínicas do Rio de Janeiro.
Segundo o site do Inca – Instituto Nacional do Câncer, existem mais de 150 tipos de HPV , sendo 40 deles com a capacidade de infectar causando lesões precursoras, que se não forem identificadas e tratadas podem evoluir para câncer. O vírus pode causar principalmente câncer no colo de útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.
Quais são os riscos?
A infecção pelo HPV é muito frequente, mas na maioria das vezes é espontaneamente regredido, fazendo com que 5% das pessoas infectadas desenvolvam alguma manifestação, sendo ela visível ou não. O vírus pode ser transmitido por meio do contato oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. Sendo assim, o contágio pode ocorrer mesmo com a ausência de penetração, tanto vaginal quanto anal.
Os riscos são maiores para as pessoas sujeitas a uma das seguintes situações:
• Sexo sem proteção
• Vida sexual precoce
• Múltiplos parceiros
• Não fazer exames de rotina
• Imunodepressão, ou seja, a queda do sistema imunológico
• Presença de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)
Mulheres são as mais atingidas pelo HPV
O vírus HPV atinge de forma massiva a população feminina no Brasil: cerca de 75% das mulheres sexualmente ativas do país entrarão em contato com o vírus ao longo da vida, sendo que o ápice da transmissão do vírus se dá na faixa dos 25 anos. No entanto, apesar desse índice, no Brasil, estima-se que apenas 48,7% das meninas com idades entre 9 a 14 anos – população-alvo recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – foram imunizadas.
“A geração de jovens e adultos com menos de 30 anos preza e valoriza muito a liberdade sexual. Trata-se de um grupo que nasceu após o boom do HIV e, apesar de bem informada e consciente dos riscos envolvendo doenças sexualmente transmissíveis, apresenta índices elevados de contágio pelo HPV. Após o contágio, ao menos 5% dessas brasileiras irão desenvolver câncer de colo do útero em um prazo de dois a dez anos, uma taxa alarmante”, diz Andrey Soares, oncologista do Grupo Oncoclínicas em São Paulo.
Baixa procura por vacina e falta de prevenção
A falta de interesse pela prevenção do contágio por HPV é uma das principais razões do aumento de câncer anal, ele ocorre no canal e nas bordas externas do ânus. Esse tipo de tumor representa de 1% a 2% de todos os tumores colorretais e de 2 a 4% de todos os tipos de câncer que acometem o intestino grosso.
Por isso, duas das principais ferramentas para redução dos riscos são o uso de preservativo (camisinha) e a vacinação contra o HPV, que de acordo com o médico, tanto o câncer de canal anal quanto de colo uterino podem prevenir o desenvolvimento do vírus, o que evita o contágio e bactérias transmitidos por contato sexual e que estão diretamente relacionados com o desenvolvimento desse tipo de câncer.
O câncer de colo do útero já é considerado um problema de saúde pública no nosso país e faz parte do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), o que inclui a vacinação contra o HPV para meninos e meninas com idades entre 9 e 26 anos. Por isso, é essencial reforçar a informação sobre a importância da vacinação. Ela pode salvar muitas vidas”, frisa o médico.
Reportagem da estagiária Vanessa Silva, com supervisão de Rosayne Macedo
Fontes: Oncoclínicas, Inca e site Minha Vida