Menos de 24 horas após realizar um procedimento para remoção de lesões na pele, Jair Bolsonaro (PL) voltou na tarde de segunda-feira (17) ao mesmo hospital de classe alta onde sempre se trata com frequência. Desta vez, por conta de uma nova crise dos já conhecidos soluços e vômitos, acompanhadA da queda da pressão arterial, caracterizando o que o boletim médico chamada de um quadro de pré-síncope, ou seja, a sensação constante de desmaio iminente. Ele também recebeu a confirmação do diagnóstico de câncer de pele (leia mais abaixo).
Mas, afinal, o que Bolsonaro tem dessa vez é grave? Ele pode morrer? Ou trata-se de apenas mais um pretexto para reforçar um suposta fragilidade no seu quadro de saúde e justificar o pedido de sua defesa para que possa se manter em prisão domiciliar, como suspeitam inúmeros críticos e especialistas? Na semana passada, Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão em regime fechado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por chefiar a trama golpista que culminou nos ataques às sedes dos três poderes em 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
A síncope – mais conhecida popularmente como desmaio ou “apagão” – nada mais é do que uma perda temporária de consciência devido ao fluxo sanguíneo insuficiente no cérebro. Em boa parte dos casos, como parece ser o de Bolsonaro, o diagnóstico não é nada sério, sendo geralmente decorrente de um quadro de estresse.
Após pernoitar no Hospital DF Star, em Brasília, para realizar novos exames, o ex-presidente teve melhora parcial após hidratação e tratamento medicamentoso, de acordo com boletim médico divulgado na manhã desta quarta-feira (17). Ele permaneceu ainda por mais algumas horas na unidade para ser “reavaliado para definição da necessidade de permanência em ambiente hospitalar.” Ainda no início da tarde, recebeu alta.
Ao dar entrada na unidade, segundo o boletim médico, Bolsonaro apresentava quadro de desidratação, com frequência cardíaca elevada e pressão arterial baixa. O ex-presidente de 70 anos passou por exames laboratoriais e de imagem, entre eles ressonância magnética do crânio para investigar o quadro de tontura classificado pelos profissionais como recorrente. O exame não mostrou alterações agudas.
Outros exames “evidenciaram persistência da anemia e alteração da função renal, com elevação da creatinina [substância filtrada e eliminada pelos rins]”, diz a nota. A equipe que assina o comunicado é composta pelo chefe da equipe cirúrgica, Cláudio Birolini, o cardiologista Leandro Echenique, além dos diretores da unidade de saúde privada, Guilherme Meyer e Allisson Barcelos Borges.
Câncer de pele é confirmado em duas das oito lesões removidas
Médico descarta qualquer tipo de tratamento no momento, bastante apenas avaliar periodicamente
Como já era de se esperar, na nova internação-relâmpago, o ex-presidente também recebeu o diagnóstico de câncer de pele. O laudo feito com o material biológico retirado durante o procedimento a que se submeteu no último domingo (14), no mesmo hospital, indicou a “presença de carcinoma de células escamosas ‘in situ’, em duas das oito lesões removidas“, como afirma o boletim médico divulgado nesta tarde.
Duas das lesões vieram positivas para o carcinoma de células escamosas, que não é nem o mais bonzinho e nem o mais agressivo, mas, ainda assim, é um câncer de pele”, disse o chefe da equipe cirúrgica, Cláudio Birolini. Segundo o médico, as lesões – localizadas no tórax e em um dos braços do ex-presidente – são “precoces” e “demanda apenas de avaliação periódica”.
O que ele vai ter que fazer é ser avaliado periodicamente para ver se outras lesões apresentam suspeitas. Com relação a essas lesões, elas foram retiradas, mas pela característica da pele dele, por ter tomado sol sem proteção, é caso de avaliação periódica. Não é caso de nenhum tratamento coadjuvante agora“, acrescentou o cirurgião.
Novo boletim médico pode ser levado ao STF
O novo laudo sobre o quadro de saúde de Jair Bolsonaro emitido na alta hospitalar (leia a íntegra abaixo) pode ser usado pela defesa para complementar o atestado médico apresentado na terça (16) ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, para justificar um pedido para que ele permaneça em prisão domiciliar – desde o início de agosto ele está em sua mansão em Brasília, sendo monitorado por tornozeleira eletrônica.
“O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi admitido no Hospital DF Star na tarde do dia 16 de setembro, devido a quadro de vômitos, tontura, queda da pressão arterial e pré-síncope. Apresentou melhora dos sintomas e da função renal após hidratação e tratamento medicamentoso por via endovenosa.
O laudo anátomo patológico das lesões cutâneas operadas no domingo mostrou a presença de carcinoma de células escamosas ‘in situ’, em duas das oito lesões removidas, com a necessidade de acompanhamento clínico e reavaliação periódica. Recebe alta hospitalar, mantendo o acompanhamento médico”.
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5 coisas que você precisa saber sobre desmaios
O papel do coração e quando isso pode sinalizar uma condição séria
Você já deve ter ouvido falar que pessoas que se sentem tontas devem se sentar com a cabeça entre os joelhos, mas isso é verdade? E como saber se você ou outra pessoa que desmaiou deve ir ao pronto-socorro ou talvez até consultar um cardiologista? Elijah Behr, cardiologista na Mayo Clinic Healthcare em Londres, explica cinco coisas importantes a se saber sobre desmaios.
Existem diferentes tipos de síncope
Síncope vasovagal é o termo médico para o tipo mais benigno de desmaio, um desmaio simples sem uma causa subjacente séria. Segundo ele, esse tipo de desmaio é bem comum. “Em algumas pessoas, se houver uma queda na pressão arterial devido a algum estresse emocional, dor, doença ou desidratação, por exemplo, ou se a pessoa geralmente tiver uma pressão arterial baixa, qualquer estímulo pode provocar um reflexo no coração”, diz o Dr. Behr.
Ao invés de o coração acelerar e bombear com mais força para manter a pressão arterial, ele começa a desacelerar. A pressão arterial cai, a frequência cardíaca diminui ainda mais e o coração pode parar durante muitos segundos; às vezes, ele pode chegar a parar por cerca de um minuto em algumas pessoas que apresentam episódios de desmaios mais graves.”
Geralmente, com esse tipo de desmaio, a pessoa cai no chão, a pressão arterial retorna ao cérebro e a pessoa começa a se recuperar. No entanto, se alguém desmaiar em um local suscetível ou em uma posição vulnerável, isso pode ser perigoso tanto para a pessoa quanto para os outros, aponta o Dr. Behr.
A síncope que mais preocupa os profissionais da saúde é a síncope cardiogênica, o apagão devido a uma doença cardíaca subjacente, como uma anormalidade no ritmo cardíaco, ou arritmia, explica.
Normalmente, essa é uma perda de consciência mais abrupta com um retorno de consciência mais rápido em comparação ao desmaio simples. Se você for mais velho, as chances de ter uma doença cardíaca subjacente da qual você pode, ou não, estar ciente são maiores. Essa é uma das razões para se preocupar mais com a perda de consciência em pessoas mais velhas”, diz o Dr. Behr. “Os jovens também podem apresentar doenças cardíacas que podem causar uma síncope cardiogênica, o que pode ser um sinal de alerta para algo mais sério que está por vir, por isso é importante investigar.”
“Outras pessoas para quem um apagão pode indicar um sinal de alerta para um problema cardíaco grave, incluem aquelas com um histórico familiar de problemas cardíacos hereditários, mortes inexplicáveis ou mortes súbitas prematuras; pessoas cujo desmaio está relacionado ao exercício físico; e pessoas cujo desmaio é associado a palpitações cardíacas ou a sensação de que o coração está disparando, acrescenta.
Antes de um desmaio simples, mais sinais de que você deve se sentar ou deitar
“Haverá uma sensação de vertigem. Pode haver uma sensação de náusea, zumbido ou chiado nos ouvidos”, explica o Dr. Behr. “Algumas pessoas descrevem uma visão tubular — a visão se fechando antes de desmaiar — e algumas podem realmente perder a visão, mas ainda estar conscientes, não perdendo completamente a consciência, e depois se recuperar. Outros sinais típicos incluem a sensação de se sentir suado e melado.”
Algumas pessoas têm cerca de meia hora de aviso antes de desmaiar; outras podem ter apenas 30 segundos, ele acrescenta.
O que fazer se você ou outra pessoa desmaiar:
- Verifique se a pessoa está respirando e se está com pulso. Caso contrário, chame a emergência, e se souber como realizar a ressuscitação cardiopulmonar, inicie-a.
- Se a pessoa ainda estiver respirando e com pulso, garanta que ela esteja deitada horizontalmente e com a via aérea aberta, utilizando a posição de recuperação, e peça ajuda.
- Se você sentir que um desmaio está chegando, coloque sua cabeça abaixo do nível do coração: por exemplo, entre os joelhos.
- Descanse após sair do desmaio.
- Beba água após o desmaio, adicionando eletrólitos, caso estejam disponíveis.
“Se a sua pressão arterial estiver ficando baixa e você estiver sentindo esses sintomas, isso significa que o sangue não está chegando ao seu cérebro, e se o seu coração estiver tentando empurrar o sangue para o cérebro contra a gravidade, significa que ele está se esforçando. Você precisa posicionar a sua cabeça no nível ou abaixo do coração para que a pressão arterial retorne ao cérebro; isso evitará todos os sintomas e o ciclo vicioso que ocorre sucessivamente”, explica o Dr. Behr. “Coloque sua cabeça entre os joelhos ou deite-se e posicione a cabeça para baixo e os pés para cima, dependendo de onde você estiver e do que for viável fazer.”
Levantar-se e andar imediatamente é a pior coisa a se fazer
“Sua pressão arterial cairá ainda mais, você se sentirá pior, terá um colapso e cairá, podendo até se machucar”, diz o Dr. Behr. “A melhor coisa a se fazer é ficar onde você está e ficar quieto, e, quando estiver se sentindo melhor, beba um pouco de água, talvez com alguns eletrólitos, caso você esteja desidratado. Como recomendação geral, aconselhamos a maioria das pessoas que desmaiaram a aumentar a ingestão de água e, de vez em quando, adicionar um pouco mais de sal aos alimentos, pois geralmente elas estão com a pressão arterial baixa.
Às vezes, manter-se hidratado e adicionar sal à dieta pode não ser o suficiente. Ocasionalmente, as pessoas precisam tomar medicamentos para melhorar o controle da pressão e aumentar a pressão arterial para evitar episódios de desmaio, diz o Dr. Behr.
Quando procurar ajuda médica
“Se alguém teve um simples desmaio com os gatilhos que descrevi anteriormente, o melhor a se fazer é conversar com o seu médico de família (o seu médico de cuidados primários) para falar sobre isso. Especialmente se for o primeiro episódio de sintomas, é melhor não ignorá-lo,” aconselha o Dr. Behr. “É comum que as pessoas procurem o pronto-socorro após o primeiro desmaio, o que considero completamente adequado e até recomendável.”
Se uma pessoa já teve desmaios simples anteriormente e conhece as circunstâncias que os causam, além de já ter sido avaliada pelo seu médico de família ou por um cardiologista, talvez não seja necessário ir ao pronto-socorro a cada episódio, acrescenta.
As situações mais alarmantes envolvem idosos que desmaiam, quando outras condições também podem estar influenciando; pessoas com desmaios frequentes, apesar de estarem bem hidratadas; casos em que o desmaio causa lesões, e quando o apagão ocorre de forma repentina, com outros sinais de possíveis problemas cardíacos.
“É fundamental garantir que essas pessoas sejam tratadas e que nenhum outro problema esteja sendo negligenciado”, afirma o Dr. Behr. “Além disso, em alguns casos os desmaios podem se assemelhar a convulsões. Eles podem causar movimentos convulsivos, e para saber diferenciar uma convulsão e epilepsia de um desmaio, é necessário a participação de um cardiologista e neurologista.”
Se você desmaia ao ver sangue, é possível se condicionar para não desmaiar
“Essa situação é muito comum, mas pode ser superada de diversas formas”, conta o Dr. Behr.
Por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar, ele sugere. Na TCC, você trabalha com um profissional de saúde mental (como um psicoterapeuta ou terapeuta, por exemplo) para se tornar ciente de pensamentos negativos ou inadequados, para, portanto, que você possa enxergar situações desafiadoras de forma mais clara e saber respondê-las de forma mais eficaz.
Fonte: Mayo Clinic e Agência Brasil