Segundo o Ministério da Saúde, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), a popular ‘pressão alta’, atinge 35% da população, mas metade desses 38 milhões de brasileiros não sabe que têm a doença. O problema causa o óbito de cerca de 388 brasileiros por dia. O cenário no Brasil traz alerta para a atenção à questão neste Dia Mundial de Hipertensão Arterial (17 de maio), quando diversas campanhas voltam a alertar para a importância das mudanças de hábitos quanto à alimentação e à necessidade de se praticar atividades físicas.
De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, de 2010 a 2020, foram registradas 551.262 mortes por doenças hipertensivas, sendo 292.339 mulheres e 258.871 homens. Entre os estados com maior taxa de mortalidade, em 2020, estavam: Piauí (45,7 óbitos por 100 mil habitantes), Rio de Janeiro (44,6 óbitos por 100 mil habitantes) e Alagoas (38,8 óbitos por 100 mil habitantes)
Ainda de acordo com relatório divulgado pelo MS no ano passado, o número de adultos com diagnóstico médico de hipertensão aumentou 3,7% em 15 anos no Brasil. Os índices saíram de 22,6% em 2006 a 26,3% em 2021. O relatório mostrou também um aumento na prevalência do indicador entre os homens, variando 5,9% para mais.
Segundo Diretrizes Brasileiras da Hipertensão Arterial – 2020, a pessoa é considerada hipertensa quando sua pressão fica maior ou igual a 14 por 9 (140 mmHg x 90 mmHg). O valor intermediário de 130-139 x 85-89 mmHg é classificado com pré-hipertensão. A pressão 12 por 8 (quando o valor da PA é 120 x 80 mmHg) é considerada como uma pressão saudável e que deve ser mantida. A pressão pode ser medida manualmente por meio de manguito, geralmente fixado no braço, com o estetoscópio, ou com aparelhos digitais que fazem a leitura e aferem a PA com boa precisão.
Uma das principais causas de AVC
Por não apresentar sintomas, ou trazer sinais inespecíficos, em muitos casos, as pessoas levam anos até descobrir o problema, e muitas vezes só descobrem quando algo mais grave acontece. E por algo mais grave pode se entender o temido acidente vascular cerebral (AVC), uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo. E quando o paciente sobrevive, se não tratado rapidamente, as sequelas podem ser irreversíveis.
“Permanecer com a pressão arterial alta eleva os riscos de doenças graves, como o AVC ou o ataque cardíaco. Isso acontece, pois a doença provoca o estreitamento das artérias e faz com que o coração precise de cada vez mais força para bombear o sangue para o organismo e depois recebê-lo de volta, danificando as artérias e dilatando o coração”, explica Daniel Lerario, médico endocrinologista, mestre e doutor pela Escola Paulista de Medicina.
Tida como o principal fator de risco para o AVC e um dos principais fatores de risco para outras doenças cardiovasculares, como o infarto do coração, a “pressão alta”, quando não controlada, leva a complicações graves que, na maioria das vezes, são o primeiro sintoma, como alerta Sheila Cristina Ouriques Martins, presidente da Rede Brasil AVC e da Organização Mundial de AVC (World Stroke Organization).
Segundo ela, o AVC isquêmico ocorre quando falta sangue em alguma área do cérebro e corresponde entre 80% e 85% dos casos. Já o hemorrágico, acontece quando um vaso (uma artéria) rompe. A hipertensão arterial é responsável por 80% dos casos de AVC hemorrágico, por causar pequenas lesões nas artérias do cérebro que ficam frágeis e podem romper.
“Assim como o efeito da pressão alta por muitos anos pode causar também o AVC isquêmico, com oclusão de uma artéria cerebral devido ao estreitamento direto dos pequenos vasos cerebrais, ou predispor a aterosclerose, que é o depósito de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos ou até mesmo predispor à fibrilação atrial por seu efeito no coração, que é uma arritmia cardíaca, e por este batimento descompassado do coração se formam coágulos que viajam pela circulação indo até o cérebro, causando um AVC isquêmico”, afirma
Risco de outras doenças cardiovasculares
O bom funcionamento do sistema circulatório é fundamental para o bem-estar geral e qualidade de vida, uma vez que é responsável por transportar o oxigênio e os nutrientes para todos os órgãos do corpo. Os níveis pressóricos elevados da pressão arterial podem causar lesão direta no revestimento interno dos vasos, chamados de endotélio, e levar a disfunção desse segmento tornando-o mais suscetível a formar placas de ateroma, assim como aumentando a chance de desenvolver processos trombóticos, além de outras doenças.
As explicações são do médico Marcone Lima Sobreira, diretor científico da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular da Regional São Paulo. Segundo ele, a hipertensão arterial sistêmica (HAS), quando não controlada, pode levar a complicações graves além do AVC, como doença arterial periférica, que tem como consequência à amputação de membros, aneurismas, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e renal, e lesão na retina que pode ocasionar a diminuição da acuidade visual, inclusive levar à cegueira.
A úlcera hipertensiva, que também é uma consequência da HAS, é uma situação em que ocorre abertura de úlceras nas extremidades inferiores, que aparecem na face lateral da perna e costumam ser rasas, com fundo limpo, mas é uma doença extremamente dolorosa. Essa condição pode ser tratada com controle rigoroso da pressão arterial (PA), além de outras medidas clínicas e com acompanhamento médico.
Sinais da pressão alta
Muitas pessoas com pressão arterial elevada não apresentam sintomas e, na maioria das vezes, o primeiro sinal é um AVC ou um infarto do coração. Alguns sintomas podem aparecer quando a pressão está bastante elevada, como dores de cabeça, tonturas, visão turva, palpitações cardíacas, náusea e vômito.
A especialista explica que valores acima de 14 por 9 são preocupantes, uma vez que, a longo prazo, podem levar a lesões, aumentando o risco de AVC e outras doenças. Nestes casos, é necessário tratamento contínuo com medicação anti-hipertensiva para manter a pressão controlada, prevenindo o AVC. “Já valores acima de 18 por 11 requerem controle imediato”, alerta a médica.
Hoje, especialistas têm observado que pessoas mais jovens também estão sendo acometidas com HAS e doenças cardiovasculares com mais frequência e crescente. Geralmente, o início dos sintomas sugere risco de evolução mais grave das doenças. “Provavelmente o estresse diário associado a outros fatores como sedentarismo, má alimentação e doenças preexistentes, quando presentes, podem ser justificativas para o comprometimento das faixas etárias mais jovens”, conclui Dr. Marcone.
Pessoas acima de 20 anos de idade devem medir a pressão ao menos uma vez por ano e, se houver casos de pessoas com pressão alta na família, deve-se medir, no mínimo, duas vezes por ano. Sheila salienta a importância do reforço ao combate da hipertensão arterial, por parte das equipes de saúde.
“É preciso que os profissionais das unidades de saúde – que são a porta de entrada do SUS – orientem os pacientes sobre o problema, seu caráter silencioso e incentivem as modificações no estilo de vida. O AVC pode ser evitado em até 90% dos casos, quando os fatores de risco, como a hipertensão, são controlados”, conclui.
A Organização Mundial de Saúde preconiza a reestruturação do Cuidado Cardiovascular nas Unidades Básicas de Saúde, com a medida da pressão arterial de todas as pessoas acima de 18 anos que visitem a unidade, para que a hipertensão arterial seja detectada e tratada precocemente, reduzindo o risco de AVC. “Este é um grande projeto chamado “Iniciativa HEARTS” que estamos em implementação no Brasil”, conclui Sheila.
Principais sintomas
De acordo com o médico Irapuan Magalhães Penteado, coordenador do serviço de cardiologia do Hospital IGESP, o controle da pressão arterial é importante, já que os sintomas tendem a aparecer de maneira perceptiva ao paciente apenas quando a pressão já está bastante elevada ou quando há alterações estruturais de órgãos, apresentando riscos ao paciente.
Os sintomas da hipertensão arterial, quando ocorrem, são bastante inespecíficos e muitas vezes não são valorizados pelos pacientes. Por isso é importante medir regularmente a pressão arterial e seguir corretamente as orientações médicas, em caso de alterações. Em geral, os principais sintomas são:
- Tontura
- Palpitações e dores no peito
- Dor de cabeça frequente
- Alteração na visão (vista embaçada)
- Zumbido no ouvido
- Fraqueza
- Sangramento nasal
“Aferir a pressão regularmente é a única maneira de diagnóstico, então o recomendado é que pessoas acima de 20 anos o façam ao menos uma vez por ano e, quando houver casos na família, no mínimo duas vezes por ano. Esse problema é herdado dos pais em 90% dos casos”, informa o cardiologista.
Fatores de risco
Além do fator hereditário, os hábitos de vida influenciam diretamente nos níveis de pressão arterial. As principais causas são obesidade, sedentarismo, tabagismo, estresse e hábitos alimentares inadequados, incluindo a ingestão excessiva de álcool, sal, alimentos ultraprocessados e gorduras.
A presidente da Rede Brasil AVC lembra que o problema é herdado dos pais em 90% dos casos, mas há vários fatores que influenciam nos níveis de pressão arterial, como os hábitos de vida da pessoa.
“Fumo, consumo de bebidas alcoólicas, obesidade, estresse, consumo elevado de sal e sedentarismo estão entre os principais fatores. Além disso, a incidência da pressão alta é maior na raça negra, em diabéticos e aumenta com a idade”, ressalta.
“Há, também, fatores genéticos que predispõem o desenvolvimento da doença, então pessoas com familiares hipertensos devem redobrar os cuidados”, explica Dr Daniel.
“O avanço da idade, obesidade e o tabagismo, e a presença de fatores já citados, são riscos adicionais que somam ao prejuízo já causado pela HAS e podem acelerar e agravar doenças e lesões vasculares”, destaca Dr Marcone.
Prevenção e controle
Em geral, a hipertensão não pode ser curada, mas pode e deve ser tratada e controlada por meio de mudanças nos hábitos de vida, alimentação balanceada e, quando necessário, uso de medicamentos. Por isso, é importante reforçar a adoção de hábitos saudáveis como a atividade física periódica, que ajuda a controlar os níveis glicêmicos e o diabetes, colabora para baixar os níveis de colesterol e o controle do peso.
A dieta equilibrada, com baixos níveis de sal, gordura e de açúcares são benefícios potencializados para controlar a pressão arterial, além auxiliar no controle de outras comorbidades. Evitar o consumo de tabaco, em suas diferentes formas, e bebida alcoólica em excesso também são primordiais para proteger a saúde.
Cuidar da pressão arterial e da saúde vascular é essencial para manter uma vida saudável e prevenir complicações em longo prazo. É fundamental realizar check-ups regulares e seguir as orientações médicas, especialmente para quem tem histórico familiar de hipertensão ou outras condições de doenças vasculares. Vale lembrar que pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença na saúde e a recomendação é sempre consultar o especialista para orientações e cuidados personalizados.
“Hoje o estilo de vida da maior parte da população contribui para os riscos de desenvolver hipertensão. É preciso evitar uma dieta rica em sal, o consumo de cigarro e buscar a prática regular de atividade física, além de controlar os níveis de estresse e ansiedade, que estão entre as causas mais relevantes para o aparecimento da doença”, acrescenta o cardiologista Irapuan Magalhães Penteado.
As principais medidas para a prevenção e controle da hipertensão são:
- alimentação balanceada
- controlar o peso para evitar o sobrepeso e a obesidade
- evitar sal e alimentos processados e ultraprocessados
- praticar atividade física regular
- evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool
- evitar alimentos gordurosos
Com Assessorias