Distúrbios neurológicos são a segunda causa mundial de morte prematura e a primeira de incapacidades, de acordo com estudo publicado na The Lancet Neurology. Um desses distúrbios é a hidrocefalia, que embora seja mais comum em recém-nascidos, pode acometer qualquer pessoa, principalmente pessoas idosas entre 60 e 70 anos.

Cerca de 400 mil crianças por ano no mundo recebem esse diagnóstico e estima-se que a doença acometa 8 milhões de idosos do planeta, de acordo com a Hydrocephalus Association (HA), uma entidade norte-americana sem fins lucrativos que trabalha para dar visibilidade para a causa desde 2023.

No Brasil, com base em estimativas de estudos realizados com informações de sistemas de saúde a incidência de hidrocefalia é de 1,3 por 1 mil nascimentos somente para a hidrocefalia congênita ou de início precoce, acrescentando hidrocefalias adquiridas. E 60% dos casos ocorrem em recém-nascidos e 40% em idosos.

Caso a hidrocefalia não seja diagnosticada e tratada, o aumento da pressão intracraniana causará danos cerebrais. Por isso, o diagnóstico precoce da hidrocefalia é o maior desafio, especialmente em relação aos idosos. A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) chama atenção a condição que pode ser confundida com sintomas da senilidade e doenças como Mal de Parkinson, Alzheimer e outras demências.

No caso de pessoas com mais de 80 anos, por exemplo, a literatura médica aponta que entre 10% e 30% dos casos diagnosticados com demência podem ter causas reversíveis, como a hidrocefalia.  Ou seja, das milhões de pessoas  que envelhecem e começam a ter declínio cognitivo, se 1 em cada 3 ou 1 em cada 10 tiverem o diagnóstico correto de hidrocefalia, elas podem ser tratadas e recuperar sua qualidade de vida.

Portanto, uma das importantes mensagens da campanha da HA é “destacar a necessidade crucial de diagnóstico e tratamento imediatos”. Este ano, a Hydrocephalus Association (HA) definiu 20 de setembro como o Dia Mundial da HidrocefaliaNo Brasil, a data voltada à conscientização sobre a patologia foi criada em 2019, por meio de projeto de lei, e instituiu 25 de outubro, como o Dia Nacional de Atenção aos Portadores de Hidrocefalia.

Desorientação e perda da memória: saiba como afeta os idosos

O cérebro e a coluna vertebral são banhados pelo líquido cefalorraquidiano (LCR), que flui através das cavidades. Apesar desse líquido naturalmente envolver o cérebro e a medula espinhal, sua concentração no cérebro pode causar sintomas como perda da função cognitiva, dificuldade para andar e desorientação.

A partir da terceira idade, algumas doenças passam a ter o risco aumentado devido aos fatores relacionados ao envelhecimento, como a atrofia cerebral. Uma dessas doenças é a hidrocefalia de pressão normal, que nada mais é que uma condição clínica caracterizada pelo acúmulo de líquido cefalorraquidiano (LCR) nas cavidades do cérebro, aumentando o tamanho dessas estruturas e fazendo pressão sobre o cérebro (hipertensão intracraniana).

Segundo Vanessa Milanese, diretora de Comunicação da SBN, este líquido, que está em constante circulação nos ventrículos do cérebro, desempenha muitas funções fundamentais: “Ele a age como ‘amortecedor de choque’ para o cérebro e a medula espinhal, atua como meio de levar nutrientes ao cérebro e remover resíduos, e por fim, flui entre o crânio e a coluna para regular mudanças de pressão”, comenta a especialista. No entanto, vale destacar que existem vários tipos da doença que levam a esse acúmulo do LCR nas cavidades cerebrais.

Os principais sintomas

As causas da doença ainda são pouco conhecidas, mas os sintomas se assemelham com os outras doenças que apresentam alteração cognitiva. Diferentemente do que acontece nos casos envolvendo as crianças, a hidrocefalia que afeta os idosos não provoca aumento da pressão intracraniana.

Entre seus sintomas, que variam de acordo com a idade, estão cabeça muito grande (em recém-nascidos); sonolência; perda de memória, dor de cabeça, alteração no estado mental, como confusão; visão turva ou dupla; náuseas, convulsões e incontinência urinária, além de sintomas motores, como perda de equilíbrio, problema na marcha e dificuldade de andar.

“Algumas pessoas podem confundir os sintomas como sendo inerentes do idoso, mas vale uma consulta ao médico especialista quando surgem esses sintomas para descartar a possibilidade deste diagnóstico”, explica a neurocirurgiã.

Diagnóstico e tratamento

Quando existe a suspeita de hidrocefalia de pressão normal, o neurocirurgião faz a revisão e análise do histórico do paciente, solicita exame neurológico completo e realização de exame por imagem, quer seja tomografia ou uma ressonância do cérebro, para confirmar o diagnóstico e avaliar as melhores opções de tratamento.

O tratamento cirúrgico da doença para inserção de uma válvula de derivação pode restaurar e manter os níveis normais de líquido cefalorraquidiano no cérebro. Em geral, esse sistema é composto por dois cateteres e uma válvula que redireciona o excesso de líquido do ventrículo do cérebro para outra parte do corpo, proporcionando alívio de longo prazo para pessoas com hidrocefalia.

A melhor forma dos pacientes que possuem hidrocefalia de pressão normal obterem mais qualidade de vida é procurar um médico logo no início dos sintomas. Se confirmada, essa doença pode ser reversível com a colocação do restabelecimento do fluxo liquórico através de uma cirurgia feita por um neurocirurgião.

“Como a hidrocefalia é uma condição contínua, é necessário  acompanhamento médico a longo prazo para que a função neurológica seja avaliada constantemente. Se algum problema persistir, será necessária nova avaliação, pois muito da recuperação depende da capacidade de recuperação do cérebro do paciente”, finaliza a especialista.

Diagnóstico precoce traz resultados em tratamento

Um sinal neurológico, ao lado dos demais exames utilizados, tem se revelado importante no diagnóstico, tratamento e acompanhamento em casos de hidrocefalia. Uma healthtech brasileira foi pioneira no mundo no desenvolvimento da tecnologia não invasiva de monitorização da pressão e complacência intracraniana. 

Isso é feito por meio de um dispositivo wearable (um sensor posicionado na cabeça do paciente com uma banda de fixação), acessível e de baixo custo, conectado via internet a uma plataforma analítica, que fornece em poucos minutos informações adicionais que qualificam o diagnóstico, orientam a terapêutica e indicam a evolução de distúrbios neurológicos.

A tecnologia, aprovada pela Anvisa no Brasil, e FDA, nos Estados Unidos, é utilizada ao lado dos demais exames que fazem parte do protocolo de diagnóstico de hidrocefalia em pessoas de todas as faixas etárias.

A contribuição do Brasil é relevante porque a ciência brasileira é pioneira no mundo no desenvolvimento da tecnologia brain4care, que tem como uma de suas aplicações importantes, auxiliar no diagnóstico assertivo de hidrocefalia e fornecer dados essenciais no acompanhamento e regulagem da válvula de derivação em pacientes tratados com esse recurso.

Na jornada de médicos que passaram a utilizar a brain4care, há exemplos de pacientes idosos que começam a apresentar declínio cognitivo e incontinência urinária, sem qualquer alteração nos exames de imagem, mas com hipertensão intracraniana alterada na monitorização.

Tratado com medicamento, um desses pacientes deixou de ter incontinência urinária na primeira semana e logo os sinais de declínio cognitivo desapareceram. Outro paciente, com cefaleia aguda, teve desfecho diferente.

A monitorização mostrou uma hipertensão intracraniana grave e uma paciente precisou ser internada para realizar uma punção liquórica (tap test) para aliviar a pressão do cérebro. Essa paciente fez uma cirurgia para colocação de válvula de derivação e não teve mais cefaleia. 

Antes da tecnologia desenvolvida pela brain4care, a única maneira de ter acesso a dados sobre a pressão intracraniana era por métodos invasivos – o padrão ouro a inserção cirúrgica de um cateter na caixa craniana.

Físico com Parkinson desenvolveu a tecnologia

 

O professor Sérgio Mascarenhas e a pequena Maya, que percorreram uma longa jornada diagnóstica até a confirmação da hidrocefalia e o resgate da qualidade de vida (Foto: Divulgação)

A origem da healthtech brain4care está relacionada aos estudos do físico e químico Sérgio Mascarenhas (1928-2021), que após suspeita de doença de Parkinson, percorreu uma jornada diagnóstica que o levou à confirmação de um caso de hidrocefalia.

Restabelecido e inconformado com as limitações e complexidades do método invasivo a que foi submetido, voltou à bancada de pesquisa e realizou estudos iniciais com apoio da Fapesp à procura de uma alternativa para monitorização da PIC de forma não invasiva.

Anos mais tarde, em 2014, para transformar essa descoberta em uma oferta de saúde, Mascarenhas se uniu a ex-alunos e empresários para desenvolver a tecnologia e fundar a brain4care.

Em 2017, a healthtech foi acelerada no Vale do Silício pela Singularity University. A liberação da tecnologia pela Anvisa, no Brasil, aconteceu em 2019,  e pelo FDA, nos Estados Unidos, em 2021.

Atualmente, a tecnologia encontra-se em utilização comercial em mais de 60 hospitais e clínicas no Brasil, e conta com mais de 60 publicações científicas de estudos realizados em centros de referência, como USP, Unifesp, Universidade do Porto e Cleveland Clinic.

Além disso, a brain4care prepara sua expansão para o mercado internacional e conta com escritórios no Brasil, em São Paulo e São Carlos, e nos Estados Unidos, em Atlanta.

Agenda Positiva

Avanços científicos sobre a hidrocefalia em pauta

Os avanços científicos em relação à hidrocefalia serão tratados na 9ª edição do painel científico da brain4care, em um evento online que acontece nesta quarta-feira, das 12h às 12h30, com inscrições gratuitas. Participam especialistas renomados no tema, como Fernando Gomes Pinto, professor Livre Docente Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP) e chefe do Grupo de Hidrodinâmica HC/FMUSP; e Raphael Bertani, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e parte do grupo de Hidrodinâmica do HC/FMUSP.

No painel da brain4care, os especialistas convidados vão abordar os avanços no entendimento da onda da PIC, complacência e pressão intracraniana na hidrocefalia, além de compartilhar informações relativas às suas participações no Hydrocephalus 2023 Meeting, realizado em Hamburgo, Alemanha. A mediação será da enfermeira Elaine Peixoto, especialista do conhecimento na brain4care.

O Painel Científico é um evento mensal oferecido pela brain4care e que reúne pesquisadores, médicos e outros profissionais e acadêmicos para falar sobre publicações relevantes e de alto impacto da área, unindo conhecimento científico a suas experiências profissionais. No total, serão dez eventos em 2023, um por mês, de fevereiro a dezembro. O evento sempre traz convidados e é baseado em publicações científicas relevantes para a área.

Fonte: brain4care

 

 

 

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