A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada 22 mil gestações no mundo, ao menos uma não é verdadeira, sendo que aproximadamente 1% das mulheres com gravidez psicológica sentem as dores do parto após nove meses da falsa gestação.

Também conhecida como pseudociese, a gravidez psicológica é um transtorno em que a mulher tem total convicção de que está grávida, mesmo quando os exames mostram o contrário. O distúrbio emocional é classificado como transtorno somatoforme, quando os sintomas físicos não têm uma base médica contestável.

“Muitos sintomas são experimentados com tanta autenticidade que a mulher chega a sentir o crescimento da barriga, os movimentos do bebê, as dores e contrações do parto. E mesmo sem haver nascimento, ela persiste que o bebê virá em algum momento, podendo esperar por ele indefinidamente”, diz Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, que atua nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.

As reações do corpo em uma gravidez inexistente

De alguma forma, ainda inexplicada pela ciência, o cérebro reage aos estímulos provocados pelas mudanças do estado emocional, desregulando a produção hormonal. As funções endócrinas, corticais e hipotalâmicas trabalham juntas no eixo “hipotálamo-hipófise-adrenal”, resultando nos sintomas de uma gravidez real:

– Ausência de menstruação

– Náuseas e enjoos matinais

– Desejos alimentares

– Sonolência

– Crescimento e dor nos seios

– Aumento do apetite

– Produção de leite nas mamas (causado pelo aumento da prolactina, fazendo com que os seios secretem leite)

– Distensão abdominal (cerca de 60 a 90% das mulheres com pseudociese podem apresentar um aumento do volume abdominal)

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Como diagnosticar e tratar o problema?

Membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, o especialista explica que a gravidez psicológica só pode ser diagnosticada por meio de exames como o Beta HCG, com resultado negativo, e ultrassonografia transvaginal ou pélvica, sendo que esses exames apresentarão ausência de saco gestacional, embrião/feto e placenta.

“Mesmo com os resultados negativos, muitas mulheres não ficam convencidas de que a gestação não é real. Nesses casos, cabe ao ginecologista indicar um tratamento psicológico para identificar a origem do transtorno e tratar a causa. Também pode ser preciso intervenção com medicamentos hormonais para regularizar a menstruação e encerrar a produção de leite”, afirma o Dr Carlos Moraes (foto).

Como lidar com o transtorno

Para Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), gravidez psicológica não é uma invenção da mulher, pois ela realmente acredita estar grávida.

Geralmente, as mulheres acometidas pela pseudociese têm histórico de transtorno psicológico ou psiquiátrico, o que compromete ainda mais a negação à realidade. Mulheres que passaram por traumas como a perda de um filho, abusos sexuais, histórico de aborto espontâneo, pressão do parceiro ou de familiares para engravidar também podem desenvolver o transtorno, assim como as que têm dificuldade de engravidar ou são infertéis.

“Muitas vezes, a pseudociese é a válvula de escape que o cérebro encontrou para lidar com as adversidades psicológicas. Portanto, julgamentos só irão agravar o transtorno. A família deve dar apoio, conforto e acompanhar o tratamento psicológico, até para entender melhor a condição e saber como lidar com o quadro”, ressalta.

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