Por Andrea Ciolette Baes*
A gravidez na adolescência é um problema de saúde pública mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 16 milhões de meninas entre 15 e 19 anos de idade são mães todos os anos. A grande maioria dessas gestações é considerada indesejada ou não planejada. No Brasil, o quadro é ainda mais preocupante. A cada mil adolescentes nesta idade, cerca de 53 se encontram grávidas, quando a média global é de 41 casos, segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)1.
É verdade que este índice diminuiu nos últimos anos, mas continuamos com uma das taxas mais altas do mundo. Ainda não há o que comemorar. No dia 26 de setembro é celebrado o Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência. Uma data que deveria servir de alerta para que as autoridades deem ao problema a sua real dimensão. Já está comprovado que a desinformação é o principal fator para que tantas adolescentes se tornem mães anualmente no país. É hora de priorizar programas que priorizem o planejamento reprodutivo.
Aumentar o nível de informação que os jovens têm sobre sexualidade e direitos sexuais também representaria uma grande economia para os cofres públicos brasileiros, já que o impacto da gravidez não planejada é bastante significativo para o país. Recentemente, o UNFPA lançou um relatório global sobre a crise invisível de gravidez não intencional no qual foi estimado que o custo das gestações não planejadas no Brasil é de US$2,33 bilhões. Estão inseridos neste valor os seguintes gastos: cuidados referentes a abortos espontâneos (0,8%), parto para as gestações não intencionais (30%) e verba para pagar por quaisquer complicações dos bebês que surgiram nessas situações (cerca de 70%)2.
Na adolescência, as complicações gestacionais e no parto representam a principal causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos, devido ao maior risco de eclampsia, endometrite puerperal e infecções sistêmicas, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nesta fase da vida, as possibilidades de bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer são maiores, aumentando o risco de mortalidade infantil.
Ter um filho sem o devido planejamento compromete, em muitos casos, a possibilidade de essa jovem continuar os estudos e conseguir melhores empregos, perpetuando, assim, as desigualdades sociais e de gênero. Diversas pesquisas mostram que meninas que pertencem a grupos sociais mais vulneráveis, como famílias com menos renda, de baixa escolaridade, de comunidades indígenas e afrodescendentes, são as mais afetadas pela gravidez precoce.
O desenvolvimento de políticas públicas é crucial para revertermos índices tão alarmantes. Mas a escola também tem um papel importante nesta jornada. É imprescindível que adolescentes recebam orientação sobre saúde sexual e reprodutiva, incluindo informações sobre métodos contraceptivos. A educação sexual e emocional vai ajudar as meninas a se expressarem e tomarem melhores decisões sobre o sexo, promovendo assim a construção de sua autonomia corporal.
Prevenir a gravidez precoce e garantir que as adolescentes sejam assistidas é uma das metas previstas na Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, estabelecida pela ONU em 2015. Um dos principais objetivos deste plano global é a conquista da igualdade de gênero. Precisamos vencer este desafio. A gravidez não planejada vai além de uma questão de saúde pública. É uma causa humanitária.
*Diretora de Saúde Feminina da Organon
Referências: