Se o Brasil não anda nada bem em vários indicadores econômicos e sociais, tem outro motivo para se envergonhar: o título de líder na lista dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. Para piorar a situação, o Ministério da Agricultura acaba de liberar o registro de 31 agrotóxicos. Com isso, sobe para 169 o número de agrotóxicos liberados pelo atual governo, em menos de cinco meses.
Oito desses produtos agora liberados foram classificados pela Anvisa como “extremamente tóxicos”, cinco como “altamente tóxicos”, 13 como “medianamente tóxicos”, e cinco como “pouco tóxicos”. A novidade desperta a atenção de autoridades sanitárias e ambientais. Ouvidos pelo ViDA & Ação, especialistas alertam para a gravidade da medida do governo, que atenta contra a saúde pública.
Estamos indo na contramão da sustentabilidade e de um mundo saudável. Essa medida é muito preocupante no que tange à saúde pública, pois já sabemos dos malefícios que essas substâncias podem causar aos humanos e ao meio ambiente”, ressalta Danilo Klein, coordenador da Nutrologia e Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional do Hospital Badim (RJ), da Rede Dor.

Para Anna Paula Carvalho, nutricionista do Centro Educacional Miraflores, mestre em ciências cardiovasculares e pós graduada em Nutrição Clínica pela UFRJ, essa medida visa somente o crescimento do agronegócio, mas tem consequências graves para a saúde humana.

O consumo de agrotóxicos contribui para alterar diversas vias de sinalização do nosso metabolismo, essas substâncias não são reconhecidas pelo corpo, ou seja nosso corpo entende que são substâncias estranhas e tenta metabolicamente reagir contra elas”, explica a especialista.

Segundo ela, os agrotóxicos diminuem a capacidade da planta (verduras, legumes, hortaliças etc) de desenvolver compostos antioxidantes que são benéficos para a saúde. “Se o consumo desses antioxidantes for abaixo do esperado, há uma maior probabilidade de desenvolvimento de doenças como doenças cardiovasculares e diabetes”, alerta.

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– Quais os riscos dos agrotóxicos para a saúde humana?

Existe o risco da intoxicação aguda e da intoxicação crônica. A intoxicação aguda ocorre assim que entramos em contato com o veneno ou nas primeiras 24 horas do contato e se caracteriza por sintomas gerais como mal estar, dor de cabeça, manchas pelo corpo, coriza e, em casos mais graves, pode levar à morte. Enquanto que intoxicação crônica se dá pelo constante contato com doses de agrotóxicos e pode levar anos para se manifestar.
A intoxicação crônica pode levar a problemas neurológicos, perda de memória, neuropatias, dificuldade de locomoção, depressão e  câncer. Essa intoxicação é mais difícil de ser diagnosticada e diferenciada de outras doenças do dia a dia.

– Quem é o mais vulnerável – o produtor rural ou o consumidor final?

Ambos são afetados. Entretanto, o produtor rural está mais susceptível às intoxicações graves, pois entram em contato com grande quantidade de agrotóxicos e para eles as consequências são piores. “Nós, como consumidores, somos constantemente expostos a pequenas quantidades de agrotóxicos diariamente e sem dúvida pagaremos o preço no futuro”, destaca Daniel.

– No caso do consumidor, que danos pode causar? E para o produtor rural?

Ambos podem sofrer com intoxicações agudas e crônicas. Nos produtores rurais vimos casos de intoxicações agudas graves, além de sintomas mais comuns como tontura, dores de cabeça, manchas pelo corpo e queimaduras. Por isso, é muito importante que eles sigam as normas de segurança, o uso de equipamentos de proteção individual e estarem sempre em acompanhamento médico.
O consumidor final, assim como os produtores sofrem mais dos efeitos crônicos dos agrotóxicos e que muitas vezes nem são identificados como efeitos dos agrotóxicos. São exemplos doenças do sistema nervoso como paralisias, doenças psiquiátricas como a depressão, problemas dermatológicos, câncer e muitos outros”, afirma Daniel.

– Quais alimentos podem ser mais críticos para consumo humano?

Alimentos como pimentão, tomate, morango, pepino, alface, cenoura e abacaxi estão no topo da lista dos mais contaminados, além de verduras em geral. Mas todo o alimento produzido pela agricultura intensiva merece cuidado.
Lavar bem a frutas, legumes e verduras é uma das medidas para se evitar a contaminação por pesticidas (Foto: Pixabay)

– O que fazer para prevenir os riscos?

Para prevenir os riscos, os especialistas recomendam o consumo de orgânicos certificados – que ainda são mais caros no Brasil e não estão acessíveis a toda a população – e o estímulo à compra de pequenos produtores locais que não utilizam agrotóxicos.
“É de extrema importância controlar o uso dos agrotóxicos, estimular a agricultura familiar orgânica, garantindo a segurança alimentar para a população”, destaca o médico nutrólogo.
Segundo ele, alimentos produzidos na água pela técnica de hidroponia não são livres de agrotóxicos. “Esses alimentos também recebem agrotóxicos em grandes quantidades e devemos ter atenção a esse tipo de cultivo”, ressalta.

– Qual é o jeito certo de higienizar os alimentos e evitar contaminação?

Algumas medidas simples podem ajudar a evitar a contaminação pelos alimentos contendo agrotóxicos. Danilo Klein explica que é preciso lavar frutas e hortaliças com esponja e detergente neutro, descartar as folhas externas das verduras, lavar com água e sabão as frutas de casca fina e descascá-las.
Já Anna Paula ensina outra receita. “A higienização correta deve ser feita com hipoclorito de sódio utilizando 20 gotas para 1 litro de água ou conforme a recomendação do fabricante. Tal produto é encontrado amplamente em supermercados e hortifruti. Não recomenda-se uso de vinagre para higienização”, afirma.

 

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